Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Sobre Dor e Felicidade

Sobre Dor e Felicidade

02/08/2021 Daniel Medeiros

Assim como Robert Johnson, vivemos em uma encruzilhada:

Nunca tantos declararam publicamente o propósito de serem felizes e, com isso, afastar as dores da vida; ao mesmo tempo, esses mesmos tantos desejam, junto com a felicidade, serem bem sucedidos e, para alcançar esse sucesso, reconhecem a necessidade de superar todos os obstáculos, custe o que custar, incluindo muita dor.

“Só desistir é que é para sempre”, repetem o mantra daqueles que afirmam ter obtido o tão citado sucesso. A conclusão desse silogismo é: se você for bem sucedido, será feliz. Mas haverá a dor.

Toda uma cadeia de cursos e livros conhecidos como “auto-ajuda” surgiram na esteira desse paradoxo. A Felicidade virou o santo Graal, o novo Shangrilá, a Terra Prometida.

Ao mesmo tempo, longe dos enjoativos 40 anos no deserto, a Nova Felicidade ocorre em meio a muito entretenimento, sem muito peso, sem muita demora, sem muita profundidade.

Sucesso fast food, gamificado, como os cursos que afirmam transformá-lo em psicanalista ou professor ou proficiente em qualquer língua em quatro meses. É só ter vontade!

A Filosofia, desde que surgiu buscando encontrar alguma ordem (cosmos) racional nas coisas que nos rodeiam e nas coisas que rodeiam dentro de nós, igualmente deparou-se com a questão do Fim - como o destino natural de nossas ações equilibradas  - e da Felicidade - como objetivo desejado para nossas vidas.

Aristóteles fundiu uma ideia na outra e chamou o Fim de Felicidade. Daí a sociedade moderna traduziu o Sucesso como Fim e definiu como Felicidade a aquisição e o consumo e, ainda mais recentemente, como visibilidade (ser famoso) e likes na internet.

Lembro-me aqui do Forrest Gump, na cena em que o personagem resolve correr e correr e logo começa a ser seguido e em algum tempo, centenas e centenas de pessoas encontram nele o motivo de suas próprias vidas.

Só faltou combinar com o Forrest. Em um instante, sem nenhuma razão aparente - aliás, a mesma falta de razão que o fez principiar a corrida - ele para e vai fazer outra coisa, imergindo no cotidiano. E o vazio se instalou, mais uma vez, na alma da multidão.

Voltando ao Aristóteles: o Fim-Felicidade não passa pela fuga da dor e nem pelo encontro necessário com ela, porque não há uma relação entre Felicidade e Sucesso, mas entre Felicidade e Bem Comum.

Ou seja: em vez de estar acima, recebendo os raios brilhantes do sol antes dos outros, sozinho, mesmo que por um instante, a Felicidade aristotélica é estar ao lado de muitos, compartilhando o sol que, de resto, assim como o feijão, sempre dá pra mais um convidado e outro e outro. Basta reconhecê-lo como merecedor daquilo que você deseja para você também.

Epicuro, outro daqueles incríveis pensadores gregos, dizia que a Felicidade é o prazer obtido pelo discernimento – e ele pode implicar alguma dor, desde que isso signifique afastar dores maiores.

Algo como suportar a picada da agulha da injeção para se imunizar contra um vírus terrível. Ou aceitar a broca do dentista e depois poder voltar a sorrir.

Ou ter a paciência de esperar, ou a determinação de estudar por longas horas, ou percorrer longas distâncias para, enfim, ser recompensado pelo abraço querido de alguém que também se esforçou para encontrá-lo.

Isto é: não parece haver uma incompatibilidade necessária entre dor e felicidade, mas entre felicidade e sucesso, que causa dor. Como diziam os antigos, aí está o busílis. Muitos querem o sucesso e acham que isso lhes trará felicidade.

Para isso, aceitam qualquer negócio, por mais doloroso - do ponto de vista físico ou moral - que seja. Muitas vezes tornam-se bem sucedidos.

E descobrem que a felicidade que acompanha esse momento é como um pedacinho de algodão doce. Maravilhoso ao vê-lo. Irresistível antes de tê-lo. Rapidamente delicioso quando consumido, tanto quanto insuficiente. Frustrante antes mesmo de ser esquecido.

E o Fim é o vazio da perda da inocência de que um pedacinho de algodão doce era tudo o que se queria e que é impossível reiniciar a operação imediatamente. O segundo pedaço de algodão doce é somente a busca desesperada pelo sabor que não se repetirá mais.

E lá vamos outra vez, correndo atrás de outro Forrest Gump, enquanto os textos de Aristóteles e as máximas de Epicuro empalidecem nas prateleiras.

* Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Para mais informações sobre felicidade clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Central Press



PEC das drogas

O que esperar com a sua aprovação?

Autor: Marcelo Aith


PEC do Quinquênio simboliza a metástase dos privilégios no Brasil

Aprovar a PEC significará premiar, sem justificativa plausível, uma determinada categoria.

Autor: Samuel Hanan


O jovem e o voto

Encerrou-se no dia 8 de maio o prazo para que jovens de 16 e 17 anos pudessem se habilitar como eleitores para as eleições municipais deste ano.

Autor: Daniel Medeiros


Um mundo fragmentado

Em fevereiro deste ano completaram-se dois anos desde a invasão russa à Ucrânia.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Leitores em extinção

Ontem, finalmente, tive um dia inteiro de atendimento on-line, na minha casa.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Solidariedade: a Luz de uma tragédia

Todos nós, ou melhor dizendo, a grande maioria de nós, está muito sensibilizado com o que está sendo vivido pela população do Rio Grande do Sul.

Autor: Renata Nascimento


Os fios da liberdade e o resistir da vida

A inferioridade do racismo é observada até nos comentários sobre os cabelos.

Autor: Livia Marques


Violência urbana no Brasil, uma guerra desprezada

Reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 3 de março, revela que existem pelo menos 72 facções criminosas nas prisões brasileiras.

Autor: Samuel Hanan


Mundo de mentiras

O ser humano se afastou daquilo que devia ser e criou um mundo de mentiras. Em geral o viver passou a ser artificial.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky