O perigo ligado à tomada
O perigo ligado à tomada
Todo circuito elétrico bem dimensionado dispõe de disjuntores que protegem os fios que alimentam as tomadas que por sua vez, atendem as cargas.
Você já parou pra contar quantos aparelhos elétricos ficam ligados na tomada da sua casa simultaneamente? De modo geral, é aceitável afirmar que em quase a totalidade dos lares brasileiros há pelo menos um fogão, uma geladeira, um forno microondas, um chuveiro elétrico, uma televisão e um ventilador conectados à rede, além, é claro, dos pontos de iluminação. Em outros tantos lugares, somam-se a estes mais aparelhos de TV e de ar condicionado, máquinas de lavar, ventiladores de teto, air fryer, aspirador de pó, computadores, videogame, e por aí vai.
A lista é enorme. E a vida moderna carece cada vez mais de energia elétrica. Mas nem sempre a rede ou uma tomada específica tem capacidade pra atender a toda a sua demanda, situação que leva a uma possibilidade de incêndio altamente perigoso. O risco se intensifica ainda mais quando deparamos com o que os brasileiros chamam “carinhosamente” de gambiarra – aquele amontoado de T’s encaixados uns aos outros para aumentar a quantidade de aparelhos acessados a uma única tomada.
Todo circuito elétrico bem dimensionado dispõe de disjuntores que protegem os fios que alimentam as tomadas que por sua vez, atendem as cargas. Quando essa carga é bastante excessiva, os disjuntores acabam desarmando por não resistirem à potência concentrada. Muitas vezes os usuários trocam esses disjuntores por aqueles de maior corrente visando não ter esse desligamento indesejado sem trocar os fios e é aí que mora o perigo. O disjuntor tem a finalidade de proteger os cabos e quando é colocado uma proteção que permite passar uma corrente maior que o cabo suporta, gera um aquecimento no circuito. Esse aquecimento que leva ao incêndio, o qual, dependendo da dimensão e dos produtos inflamáveis que houver perto, pode alcançar uma escala maior do que a própria casa, atingindo imóveis vizinhos e, pior, mais pessoas que estiverem por perto.
Não por acaso, as sobrecargas responderam por nada menos que 50% dos incêndios ocorridos em casas e apartamentos no país no decorrer de 2020, como revela a Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos da Eletricidade (Abracopel). Considerando também todos os tipos de empresas e de indústrias, houve um total de 583 registros de incêndios por sobrecarga, que resultaram em 26 vítimas fatais. Desse total, 309 incêndios foram residenciais, culminando em 23 mortes.
Esse perigo ligado à tomada ajuda a reforçar o tamanho da importância de se ter uma instalação elétrica muito bem elaborada nas novas construções. As estatísticas da Abracopel mostram que a maior parte dos incêndios teve foco principalmente na instalação elétrica interna, e, em segundo lugar, em ventiladores de teto e ares-condicionados. Um sinal claro de que os projetos residenciais modernos devem ser dotados de mais pontos de acesso à rede e de uma capacidade maior de recepção de aparelhos, porque hoje eles representam uma quantidade diferente do que se usava no passado. As soluções domésticas ainda são movidas a energia convencional.
Ao mesmo tempo, é necessário ter um sistema de prevenção contra incêndio adequado ao tamanho do edifício, considerando ainda o número de imóveis. As soluções oferecidas pela engenharia elétrica devem contemplar também o uso de inovações tecnológicas, e seus sistemas devem ser pensados em conjunto com toda a equipe, reduzindo fortemente os riscos de um incêndio. Hoje dispomos de bons recursos que oferecem segurança porque fazem o controle inteligente do consumo de energia. Um ótimo projeto oferece proteção até mesmo às gambiarras! Basta explorar o máximo do que temos à mão na atualidade.
* João Borges, engenheiro eletricista e coordenador técnico da Projelet, e Weber Carvalho, engenheiro civil e diretor técnico da Projelet.
Fonte: Naves Coelho Comunicação