Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O bom homem da Casa Branca

O bom homem da Casa Branca

29/08/2018 Henrik Böhme (DW)

O novo acordo entre México e EUA é uma luz em meio ao cenário sombrio de uma guerra comercial.

O bom homem da Casa Branca

Claro que se trata de um grande acordo. Aliás, é o mínimo que se poderia esperar do autointitulado maior fechador de acordos de todos os tempos. "Tornamos tudo muito mais fácil e muito melhor, e para os dois países" – foi essa a formulação usada pelo presidente americano, Donald Trump, ao anunciar um novo pacto comercial com o México.

O acordo, claro, só poderia ser melhor, pois o anterior, o Nafta, havia sido chamado por Trump de "catástrofe" e "o pior acordo já feito". Bom, na verdade isso vale para qualquer acordo que não tenha a assinatura de Trump, na opinião dele.

Até aí é apenas falatório. Vamos agora aos fatos. E o primeiro que salta aos olhos é a reação dos mercados financeiros, para quem nada é mais contraprodutivo do que obstáculos ao comércio mundial. A quebra de cadeias produtivas sempre causa insegurança entre os investidores, que não querem isso de jeito nenhum.

E o que se pôde perceber foi um claro alívio. Quer dizer então que fomos apresentados ao melhor lado de Trump, aquele que de fato se esforça para atingir resultados construtivos? E isso aumenta as chances de acordos com outros países e regiões com quem os Estados Unidos estão em desavença, como a China ou a União Europeia?

Como Trump mira com especial interesse os carros produzidos no exterior, provavelmente porque eles põem em risco a segurança nacional dos Estados Unidos, vale a pena dar uma olhada nos detalhes automotivos já conhecidos do Acordo Comercial EUA-México, como o presidente americano chamou o acerto.

Uma das acusações do presidente, também direcionada às montadoras americanas, era que elas transferiram sua produção para o México por causa dos custos menores da mão de obra. Isso ninguém pode refutar. E o novo acordo pode até mesmo favorecer o trabalhador mexicano, pois 45% de um carro destinado à exportação para o outro país terá que ser produzido num regime salarial de 16 dólares a hora. Para as fábricas nos Estados Unidos isso não é nenhum problema, pois a média já é de 22 dólares. No México, porém, um trabalhador da indústria ganha em média 2,30 dólares por hora.

Isso pode resultar em consequências bem distintas entre si: uma opção é produzir algumas peças em países de salários elevados e depois apenas montar no México. Ou produzir tudo nos Estados Unidos. Ou elevar os salários e continuar produzindo no México. "Tornamos tudo muito mais fácil", disse Trump. Mas se isso é mais fácil, o que ele chama de complicado?

Aqui entra também outro aspecto do acordo: o percentual de produção na fabricação de um carro deverá ser de 75% na América do Norte. Hoje está em 62%. Os cérebros dos fabricantes, também os alemães, vão fundir para encontrar uma saída para se chegar a esse percentual. A Volkswagen e a Audi já têm fábricas no México, que também exportam para os Estados Unidos, e a BMW vai se instalar lá no próximo ano.

O que mais chama a atenção – e não tem nada que ver com carros: tarifas aduaneiras mútuas sobre produtos agrícolas não deverão mais existir. E o México se comprometeu a manter padrões internacionais no setor agrícola. Também isso deverá elevar os salários no vizinho do sul dos Estados Unidos.

O resultado do plano é incerto, pois ou ele torna o México menos atraente para as empresas, por causa do aumento do custo da mão de obra, ou ele de fato eleva salários e a qualidade de vida no país, o que pode fazer com que muitos imigrantes retornem dos Estados Unidos.

Bom, mas nada disso ainda é certo, pois primeiramente ainda se tentará incluir os canadenses na história, para que o acordo comercial norte-americano, o Nafta, continue existindo. A Casa Branca se mostrou otimista e disse esperar que um acordo com o vizinho do norte seja fechado até o fim desta semana. Se isso não ocorrer, as chances de sobrevida do acordo com o México diminuem, pois Trump não tem autorização do Congresso para fechar um acordo bilateral.

Mas, tudo isso à parte, o risco de uma guerra comercial de grandes proporções parece ter sido afastado. O pelotão de Trump continua negociando com os europeus para tentar acalmar o atual conflito, e o fio parece não ter sido cortado com os chineses. Segundo Trump, ainda não chegou a hora para negociações com Pequim, mas ela virá.

Não é bom contar com os ovos dentro da galinha, mas a verdade é que as perspectivas para o comércio mundial eram bem piores há uns poucos meses. E Trump merece parte do crédito por elas estarem melhores hoje. Quem poderia imaginar?

* Henrik Böhme é repórter da editoria de Economia da DW.



PEC das drogas

O que esperar com a sua aprovação?

Autor: Marcelo Aith


PEC do Quinquênio simboliza a metástase dos privilégios no Brasil

Aprovar a PEC significará premiar, sem justificativa plausível, uma determinada categoria.

Autor: Samuel Hanan


O jovem e o voto

Encerrou-se no dia 8 de maio o prazo para que jovens de 16 e 17 anos pudessem se habilitar como eleitores para as eleições municipais deste ano.

Autor: Daniel Medeiros


Um mundo fragmentado

Em fevereiro deste ano completaram-se dois anos desde a invasão russa à Ucrânia.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Leitores em extinção

Ontem, finalmente, tive um dia inteiro de atendimento on-line, na minha casa.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Solidariedade: a Luz de uma tragédia

Todos nós, ou melhor dizendo, a grande maioria de nós, está muito sensibilizado com o que está sendo vivido pela população do Rio Grande do Sul.

Autor: Renata Nascimento


Os fios da liberdade e o resistir da vida

A inferioridade do racismo é observada até nos comentários sobre os cabelos.

Autor: Livia Marques


Violência urbana no Brasil, uma guerra desprezada

Reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 3 de março, revela que existem pelo menos 72 facções criminosas nas prisões brasileiras.

Autor: Samuel Hanan


Mundo de mentiras

O ser humano se afastou daquilo que devia ser e criou um mundo de mentiras. Em geral o viver passou a ser artificial.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky