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Veículos elétricos: Roberto Drummond já avisava sobre as pedras no caminho

Veículos elétricos: Roberto Drummond já avisava sobre as pedras no caminho

13/01/2024 Marcos Villela Hochreiter

Temos muitas notícias positivas sobre os lançamentos de carros elétricos potentes, bonitos, evolutivos etc.

Veículos elétricos: Roberto Drummond já avisava sobre as pedras no caminho

A Hertz vai trocar 20 mil carros elétricos por veículos a gasolina. Não é o fim do carro elétrico, mas não é viável economicamente para ela, pelo menos, no estágio atual.

 

Os versos do poema “No Meio do Caminho” do jornalista e escritor mineiro Roberto Drummond de Andrade, publicados em 1928 na Revista de Antropofagia, já abordava os obstáculos (pedras) que as pessoas encontram na vida. O trecho:

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.”

Este trecho é o mais conhecido. Pois é! Ele cabe como uma luva no caminho da eletrificação da frota de veículos automotores como opção para transição energética, no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Parece que só a China vive nas nuvens. Não tenho certeza. Sei sobre os carros que produzem, mas quando eu estive lá para fazer reportagens, a produção de energia deles não era de forma sustentável.

Temos muitas notícias positivas sobre os lançamentos de carros elétricos potentes, bonitos, evolutivos etc. No entanto, a indústria automotiva e governantes estão descobrindo que ainda há muitas pedras no caminho. E elas precisam ser retiradas antes de transferir a conta para o cliente. A retirada dessas pedras custará caro, muito caro para os proprietários de carros elétricos rodarem por uma estrada sem pedras no caminho.

A decisão da Hertz

A conta é tão cara, que uma das maiores locadoras do mundo, a Hertz colocou à venda os 20 mil carros elétricos da frota dela para comprar carros com motor a combustão. A empresa alega, como motivo, os altos custos de aquisição e manutenção relacionado a colisões. A recuperação de um carro elétrico após uma colisão é muito cara, pois na maioria delas, a bateria é atingida, o que gera a perda total do veículo.

É uma verdade que a indústria não contou para os clientes. O custo de manutenção do elétrico é mais baixo em condições perfeitas, sem colisão e sem mal-uso. No entanto, com colisão e mal-uso, a conta é outra no caso do carro 100% a bateria. A realidade de colisões e mal-uso é fato na nossa frota. Isso é estatística, não é achismo. É só pesquisar sobre estatísticas de acidentes de trânsito. E preste atenção: ainda não sabemos como será um engavetamento envolvendo 50 veículos elétricos com baterias de 600 Volts. Esses engavetamento são muito comuns nos países que sofrem com neve no inverno. Este experimento ainda não foi feito no mundo, sobretudo, para saber as consequências de um engavetamento de 50 veículos elétricos.

Califórnia adia proibição de veículos a combustão

Tanto nos Estados Unidos como na Europa, os carros elétricos desvalorizam mais do que o dobro de um modelo convencional. Sobretudo, a conta é tão alta, que o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, recentemente, adiou o fim dos veículos a combustão. A Inglaterra fez o mesmo, e é uma tendência mundial. Não é um decreto para mais um fracasso dos veículos elétricos, tão antigos, quanto os de combustão. É a conscientização de que precisamos tirar muitas pedras do caminho antes de acreditar que teremos dinheiro na conta bancária para ter carro elétrico. Poucos têm essa condição financeira.

Vale deixar claro que o Frota News apoia a transição energética. Portanto, apoiar é também mostrar as pedras que precisam ser tiradas do caminho. Inclusive, divulgamos os outros caminhos para transição energética, com menos pedras.

E há muitas pedras para tirar. Conheceremos algumas:

A bateria de lítio. Quem conhece sobre este mineral, sabe o custo financeiro e, sobretudo, ambiental para a extração de apenas 1 kg. Recomendo ler o livro “Manual do Lítio e Cálcio na Natureza”. Uma coisa é destruir parte do planeta a fim de extrair lítio para fabricar remédios e bateria de celular. Quanto pesa uma bateria de celular? 60 gramas em média. Outra é extrair para baterias de veículos. Dessa forma, o pack de baterias do Tesla tem o peso de  1.745 kg. As baterias de um caminhão ou ônibus podem chegar a mais de 3.000 kg. Portanto, isso não é mais pedra, é rocha. Existe solução para chegar em breve.

Por causa disso, diversas indústrias estão investindo em alternativas. A fim de ter maior esperança está na bateria de sódio. A BYD já testa carros com este tipo de bateria na China. Neste início de 2024, ademais, a Stellantis Ventures, fundo corporativo da companhia, anunciou nesta sexta-feira, 12, a decisão de participar como investidor estratégico na Tiamat, empresa francesa que está desenvolvendo e comercializando tecnologia de baterias de íons de sódio, que oferece menor custo por quilowatt-hora e não contém lítio e cobalto.

Se este projeto de bateria de sódio der certo e proporcionar redução de preço dos veículos elétricos, pois não basta apenas ser eficiente, tem que ser eficiente e financeiramente acessível, teremos uma pedra a menos no caminho da eletrificação de frotas.

Outra pedra: nacionalização de tecnologia e componentes. Para esta pedra, temos duas boas notícias. O Programa Mover, lançado recentemente, e, sobretudo, empresas como a BorgWarner, que investe em nacionalização de sistemas eletrônicos e baterias.

Mas temos outras pedras no caminho que não sabemos quando serão retiradas. Em São Paulo, a maior pedra é a Enel que não oferece infraestrutura de distribuição de energia elétrica suficientemente para garantir energia para residências e comércio. Portanto, qual garantia a Enel daria para abastecer uma frota de 7 milhões de veículos elétricos, caso a frota de veículos a combustão atual fosse substituída por elétricos? Da mesma forma, a pergunta pode ser feita para a Cemig, em Minas Gerais, e para outras concessionárias de outros estados do Brasil e do mundo.

Lógico que o consumidor pode produzir a própria energia elétrica. Para isso, esse consumidor precisa ser rico. Ele terá que ter recursos para investir, pois as fontes alternativas de energia elétrica geram retornos a longo prazo e exigem altos investimentos na construção de sua base.

Por fim, para concluir, só mais três pedras para serem tiradas do caminho da eletrificação da frota de veículos: o preço dos carregadores, o preço do conserto do carro após uma colisão e o preço da substituição das baterias após a perda de eficiência. O veículo elétrico tem futuro após a retirada dessas pedras, pois no momento, só para quem pode rasgar dinheiro.

Marcos Villela Hochreiter é jornalista especializado em logística e transportes e diretor do site Frota News.

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