Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Família e escola: as duas asas do nosso educando

Família e escola: as duas asas do nosso educando

04/08/2017 Jacir J. Venturi

Família e escola devem ser vasos comunicantes, suprindo-se mutuamente.

Família e escola: as duas asas do nosso educando

Pais e professores são como duas asas de um pássaro: se não tiverem a mesma cadência, não haverá uma boa direção para o nosso educando. Família e escola devem ser vasos comunicantes, suprindo-se mutuamente.

Pesquisa patrocinada pela Unicef mostra que, para 93% dos jovens brasileiros, a escola e a família são as instituições mais importantes da sociedade. A escola tem um papel primordial na melhoria do sistema educacional brasileiro, mas uma sustentabilidade consistente em qualidade, advirá somente com a inserção dos pais no processo de aprendizagem.

Sim, a educação brasileira será salva não apenas pelos governantes, ou pelos professores, mas também por uma mudança cultural e de postura dos pais. Há pais que acompanham o rendimento escolar do filho somente pelo boletim no final do bimestre. Todavia, o que faziam e fazem os sul-coreanos? Antes de dormir, um dos pais se achega:

- Filho(a), vamos abrir o livro e recordar o que você aprendeu na escola hoje?

Tudo de bom acontece nesse gesto: valorização do estudo, fixação do aprendizado do filho e crescimento intelectual dos pais. Sem falar da interação e da ternura que o momento propicia. E não menos importante: esse encontro amiúde permite aos pais um julgamento honesto da qualidade de ensino da escola.

Em recente visita à Finlândia, uma guia nos dizia que são comuns os protestos em prol da melhoria do ensino.

- Mas como, se os finlandeses detêm os primeiros lugares em desempenho nos testes internacionais? – pergunto surpreso.

- Sim, o resultado é fruto dessa cobrança — faz-se lacônica a guia.

É um círculo virtuoso: a população é bem instruída, colaborativa e cobra dos governantes uma boa educação para os filhos. O raciocínio é elementar: se deixarem de combater as falhas, perderão a excelência do ensino.

No Brasil, todavia, é recorrente e redundante: os nossos indicadores educacionais estão entre os piores do mundo. Com base em dados do IBGE, cerca de 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17 anos (16% do total) abandonam a escola por ano, sendo o principal motivo, para 40% deles, a falta de vontade para estudar e ser a escola chata.

Qual o contexto desses alunos? Volto à analogia inicial: um bom voo para o nosso educando necessita de duas asas. Pais que não estimulam os estudos de seu filho, representam uma asa ferida.

Semelhantemente, asa quebrada é a escola com professores desmotivados ou que repassam conteúdos desconectados com a realidade dos alunos. Ademais, a escola é o espaço não só da aprendizagem, mas também da interação social, manifestação da autoestima, do enlevo e da alegria.

Permita-me um depoimento pessoal: recém-formado em matemática, fui lecionar numa escola pública da periferia de Curitiba. Deparei-me com o primeiro grande paradoxo: a faculdade havia me ensinado muito de Matemática, mas nada como ensinar Matemática naquela comunidade.

Toda escola é uma síntese do meio em que está inserida e, naquele caso, o escoadouro de todos os problemas sociais: violência, furtos, vandalismo, gravidez, DST, negligência afetiva e carências de todo o tipo, falta de alimento e higiene, ausência de mesa para realizar as tarefas escolares em casa, etc.

Havia sentido ensinar o que era apótema, eneágono? A diretora proativa e sensível aos anseios, permitiu que os professores negligenciassem parte do conteúdo pedagógico. A contrapartida foi um ensino focado no cotidiano do aluno, por meio de um trabalho interdisciplinar e contextualizado.

Paulatinamente, colhíamos alunos mais interessados, participativos e com autoestima. No ano seguinte, o segundo grande paradoxo: não houve continuidade, pois, por iniciativa do Estado, a equipe foi desfeita, pela não-efetivação de alguns docentes ou para atender transferências a pedido de políticos.

Apropriadas são as palavras do pedagogo Pedro Demo: “aprender é como parto: é uma coisa linda, mas dói”. Retirar uma comunidade do atraso requer gestores e professores entusiastas, com visão holística e que vivenciem a realidade do aluno.

Nenhum país atingiu um bom nível de ensino sem que, em algum momento de sua história, não houvesse uma opção preferencial pela valorização do professor: salário justo, na proporção do mérito e desempenho do docente, é um requisito relevante, mas, tão importante quanto, é o reconhecimento e o prestígio dessa nobilíssima profissão por parte da sociedade, como o fazem todas as nações com bom desempenho educacional.

E o bom professor há de entender que lhe cabe a iniciativa do diálogo, da interação com a comunidade na qual a escola está inserida. Alterar o status quo de latência, apatia e falta de iniciativa do entorno da escola requer professores e gestores comprometidos, altruístas e respeitados pelas famílias.

* Jacir J. Venturi é Coordenador da Universidade Positivo.



O jovem e o voto

Encerrou-se no dia 8 de maio o prazo para que jovens de 16 e 17 anos pudessem se habilitar como eleitores para as eleições municipais deste ano.

Autor: Daniel Medeiros


Um mundo fragmentado

Em fevereiro deste ano completaram-se dois anos desde a invasão russa à Ucrânia.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Leitores em extinção

Ontem, finalmente, tive um dia inteiro de atendimento on-line, na minha casa.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Solidariedade: a Luz de uma tragédia

Todos nós, ou melhor dizendo, a grande maioria de nós, está muito sensibilizado com o que está sendo vivido pela população do Rio Grande do Sul.

Autor: Renata Nascimento


Os fios da liberdade e o resistir da vida

A inferioridade do racismo é observada até nos comentários sobre os cabelos.

Autor: Livia Marques


Violência urbana no Brasil, uma guerra desprezada

Reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 3 de março, revela que existem pelo menos 72 facções criminosas nas prisões brasileiras.

Autor: Samuel Hanan


Mundo de mentiras

O ser humano se afastou daquilo que devia ser e criou um mundo de mentiras. Em geral o viver passou a ser artificial.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell