Portal O Debate
Grupo WhatsApp

A banalização do racismo em partidas de futebol na América do Sul

A banalização do racismo em partidas de futebol na América do Sul

01/08/2023 Luis Eduardo Belarmino

Em 2022, a CNN requisitou um estudo ao Observatório Racial do Futebol, o qual revelou que o futebol sul-americano teve um aumento significativo nos casos de injúria racial.

Esses dados fazem referência as duas competições organizadas pela Conmebol, como a Libertadores e a Sul-Americana. Um dado importante é que todos os episódios de discriminação tiveram os brasileiros como alvo.

Ao longo de décadas, o futebol tem sido palco de lamentáveis episódios de preconceito racial. Desde os tempos da expansão portuguesa, as distinções raciais foram utilizadas para promover a ideia de superioridade do branco sobre o negro.

No entanto, nos primeiros anos do novo milênio, observamos uma gradual contenção desses incidentes racistas, em grande parte devido à ampla cobertura midiática (mesmo que por vezes sensacionalista) e ao estabelecimento de medidas para controlar o comportamento dos atletas em suas respectivas modalidades esportivas.

Valente, em sua obra literária ser negro discorre que o racismo é um problema mundial, mas geralmente no Brasil é tratado como se existisse apenas fora do país.

Na verdade, esse faz-de-conta parece bastante cômodo. O duro é admitir que o racismo também está presente entre nós, brasileiros, e que o negro é uma das vítimas prediletas.

E não são poucos aqueles que, neste país, negam a existência do racismo. Negativa que, ao servir de camuflagem, reproduz uma situação de fato.

É inquestionável que o racismo no esporte, de uma forma geral, tem se manifestado de maneira preocupante e brutal. Especificamente no futebol, é evidente que o racismo precisa ser combatido em todas as frentes e em todos os setores.

Infelizmente, observamos torcedores realizando atos como arremessar bananas no campo, imitar macacos e exibir faixas com mensagens discriminatórias, apenas para citar alguns exemplos chocantes da barbárie que ocorre nos estádios.

É urgente e imprescindível que sejam tomadas medidas rigorosas para erradicar esse comportamento prejudicial e promover um ambiente esportivo mais inclusivo e respeitoso para todos.

Na contemporaneidade, a Justiça Desportiva desempenha um papel fundamental como entidade responsável por lidar com casos de racismo no futebol e em outros esportes, mesmo considerando a existência de ampla legislação no Brasil que condena tal prática, que infelizmente persiste com mais frequência do que se imagina em nossa sociedade.

Em conformidade com o que foi apurado pelo Observatório de Discriminação Racial no Futebol, a justiça desportiva não faz distinção entre injúria racial e racismo, tratando ambos como violações graves.

Para isso, o Art. 243-G é um dispositivo específico que aborda a prática discriminatória e serve como instrumento para punir aqueles que promovem o racismo nos eventos esportivos, contribuindo para combater e prevenir essas condutas repreensíveis.

Em 15 de fevereiro de 2023, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tomou uma importante medida ao anunciar uma mudança no Regulamento Geral de Competições.

Essa mudança incluiu a possibilidade de punição com perda de pontos para clubes ou equipes envolvidos em atos discriminatórios nos jogos.

Essa decisão mostra o compromisso da entidade em combater o racismo no esporte e envia um claro sinal de que condutas discriminatórias não serão toleradas e terão consequências severas para os responsáveis.

Essa medida pode ser um passo significativo para promover um ambiente esportivo mais inclusivo e respeitoso para todos os envolvidos no futebol brasileiro.

Digno de nota que o Código da Fifa, determina que: a discriminação de qualquer tipo contra um país, uma pessoa ou grupos de pessoas por causa da raça, cor da pele, etnia, origem social, gênero, língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, saúde, local de nascimento ou qualquer estatuto, orientação sexual ou qualquer outra razão é estritamente proibida e passível de punição por suspensão ou expulsão (FIFA, 2022).

Em 9 de maio de 2022, o Conselho da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) promoveu modificações no artigo 17º do Código Disciplinar, intensificando as punições para comportamentos discriminatórios, abrangendo as seguintes medidas:

- Qualquer jogador ou funcionário que insulte ou atente contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, por motivos de pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem será suspenso por um mínimo de cinco jogos ou por um período mínimo de dois meses.

- Qualquer Associação Membro ou clube cujos apoiadores insultem ou atentem contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, por motivos de cor de pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será multado em pelo menos cem mil dólares americanos (USD 100.000).

O órgão judicial competente poderá também impor a sanção de disputar um ou mais jogos com portões fechados ou o bloqueio parcial do estádio.

- Se as circunstâncias particulares de um caso a exigirem, o Órgão Judicial competente poderá impor sanções adicionais à Associação Membro ou ao clube, jogador ou funcionário responsável (CONMEBOL, 2022). 

Anteriormente, a pena era uma multa máxima de 30 mil dólares americanos e não incluía a possibilidade de jogos com portões fechados.

Esta alteração entrou em vigor no mesmo dia de sua emissão e é aplicável a atos racistas cometidos após essa data.

Essa alteração entrou em vigor imediatamente no dia de sua emissão e se aplica a atos racistas cometidos após essa data.

Agora, além da multa, a possibilidade de jogos com portões fechados foi incluída como medida adicional para coibir atos discriminatórios no futebol sob a jurisdição da CONMEBOL.

Porém, as condutas inadequadas ainda persistem a cada partida dessas competições. O caso mais recente que ganhou destaque envolveu o preparador físico do Universitário, clube que enfrentou o Corinthians na fase de repescagem da Sul-Americana.

O indivíduo imitou um gesto racista de macaco em direção aos torcedores adversários. Por consequência, ele foi detido pela polícia.

Mesmo comprovado a conduta, o Universitário entrou com uma faixa escrita: "Estamos contigo Sebastian". Nas redes sociais, o clube peruano escreveu: "Força, profe".

Os casos não são devidamente enfrentados pelos países sul-americanos, uma vez que as punições aplicadas se restringem apenas a multas impostas aos clubes, em vez de medidas mais enérgicas como a exclusão da equipe do campeonato e punições diretas à torcida envolvida. Essas práticas criminosas só diminuiriam significativamente se houvesse uma abordagem mais rigorosa. 

Além disso, o problema é agravado pelo fato de o clube Universitário possuir uma torcida identificadas como "Los Nazis" e que ostentam uma suástica em suas camisas, o que é altamente preocupante e inaceitável.

Essas atitudes racistas e a defesa de tais comportamentos por parte do clube tornam a situação ainda mais grave e intolerável. 

É essencial que as autoridades e entidades responsáveis pelo futebol na região tomem medidas sérias e imediatas para erradicar esse tipo de comportamento, garantindo a segurança e o respeito em todas as partidas e estádios.

Ações educativas, penas mais severas e a colaboração de todos os envolvidos no esporte são fundamentais para que haja uma mudança real e significativa nesse cenário lamentável.

* Luis Eduardo Belarmino é advogado, graduado em Direito pelo Centro Universitário de Bauru da Instituição Toledo de Ensino.

Para mais informações sobre racismo clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada



O cancelamento unilateral dos planos de saúde é legalmente possível?

Apesar de possível, Jurista do CEUB considera a rescisão unilateral e sem motivo como abusiva, já que configura a potencial violação do princípio constitucional de proteção à vida.

Autor: Divulgação


O embate Twitter Files Brasil: que legado queremos deixar?

Elon Musk está usando sua plataforma X (ex-Twitter) para um duelo digital com o presidente do STF, Alexandre de Moraes.

Autor: Patrícia Peck


Justiça e inclusão: as leis para pessoas com TEA

Por muito tempo, os comportamentos típicos de crianças que tinham Transtorno do Espectro Autista (TEA) foram tratados como “frescura”, “pirraça” ou “falta de surra”.

Autor: Matheus Bessa e Priscila Perdigão


Você conhece a origem dos seus direitos?

Advogado e professor Marco Túlio Elias Alves resgata a história do Direito no Brasil e no mundo em livro que democratiza os saberes jurídicos.

Autor: Divulgação


Os planos de saúde e os obstáculos ao bem-estar dos pacientes

No contexto do direito à saúde no Brasil, os planos de saúde privados são regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que estabelece normas e diretrizes para garantir a cobertura assistencial aos consumidores.

Autor: Natália Soriani


R$ 200 mil não apaga a dor, mas paga a conta

Um caso de erro médico do interior de São Paulo chamou atenção de todo Brasil por conta de dois fatores.

Autor: Thayan Fernando Ferreira


Precisamos mesmo de tantas leis?

O Direito surgiu como uma forma de organizar melhor as sociedades, uma vez que já havia algumas tradições reproduzidas a partir de exemplos ou de determinações orais que alguns grupos, especialmente os familiares, seguiam.

Autor: Marco Túlio Elias Alves


Proibição do chatbot na campanha eleitoral afeta políticos com menos recursos

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizou normas relacionadas ao uso da inteligência artificial nas campanhas para as eleições municipais de 2024. A alteração é vista como pequena e mal discutida por especialistas da área.

Autor: Divulgação


Digitalização da saúde e os desafios na relação plano e consumidor

A digitalização da saúde, que compreende o uso de recursos tecnológicos e de Tecnologia da Informação (TI) para fins médicos, é um fenômeno que a cada ano se consolida e expande em todo o país.

Autor: Natália Soriani


Os equívocos do caso Robinho

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no uso de competência constitucional e regimental, analisou e, por maioria de votos, homologou o pedido de execução da sentença penal condenatória proferida pela Justiça Italiana contra o ex-jogador Robinho.

Autor: Marcelo Aith


A nova lei de licitações: o que deve mudar daqui para frente?

O sucesso dessa legislação dependerá do compromisso de todas as partes envolvidas em trabalhar juntas.

Autor: Matheus Teodoro


Exclusão de dependentes maiores de 25 anos de planos de saúde

Os magistrados têm reconhecido a existência de uma expectativa de direito por parte dos consumidores.

Autor: José Santana Junior