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Possíveis consequências do uso excessivo de eletrônicos no ensino remoto

Possíveis consequências do uso excessivo de eletrônicos no ensino remoto

05/08/2020 Janaína Spolidorio

A tecnologia tem ajudado muito a educação neste momento de ensino remoto.

Possíveis consequências do uso excessivo de eletrônicos no ensino remoto

Ela nos traz ferramentas interessantes para diminuir a distância e algumas delas são quase como super poderes! A aula ao vivo via app de vídeo conferência é praticamente um teletransporte entre pessoas que estão em locais diferentes. A câmera do computador ou do celular conseguem fazer com que todos se encontrem sem estarem no mesmo lugar físico. Há ainda inumeráveis recursos que podem ser aproveitados de modo positivo neste modelo de educação que criamos, às pressas, em meio a um evento mundialmente catastrófico.

Assim como as vantagens são inúmeras, contudo, devemos ter precaução em relação ao que traz de desvantagens, afinal de contas tudo tem dois lados e com o uso de eletrônicos isso não é diferente.

Sendo realistas, nem famílias e nem professores/escolas estavam preparados para esta necessidade absurda de tecnologia que estamos vivenciando. Claro que todos usavam, mas de modo doméstico, sem uma intenção de uso de ferramentas pedagógicas, por exemplo. Grande parte dessas pessoas eram usuárias de smartphones, aparelhos compactos com processadores potentes e chegavam a não ver a necessidade de ter um computador. Esta realidade já teve uma transformação gigantesca, porque no cotidiano escolar de um ensino remoto nem tudo o que se sugere para a educação pode ser feito, com profissionalismo pedagógico, com um smartphone. Prova disso é o aumento de vendas de computadores no período.

Temos aí um panorama de acréscimo para o uso de eletrônicos. As crianças, que antes ficavam expostas a celulares em períodos fora da escola, agora têm contato extremo com os eletrônicos, sejam eles celulares ou computadores. O uso excessivo do celular já era preocupante, mas agora a preocupação deve ser, como dito anteriormente, com o uso excessivo em geral. São crianças que usavam e usam, no momento, por mais tempo e aquelas que nem tinham e agora utilizam por longas horas.

Com esta acomodação em relação aos aparelhos talvez seja o momento perfeito para uma nova adaptação: a do hibridismo. É a proposta para a volta e traz uma mesclagem de duas formas de ensino, que são a presencial e a virtual. A preocupação das escolas é com como estarão os alunos no retorno, por causa da distância entre elas e as famílias no panorama de distanciamento social. Trago aqui uma outra preocupação, que é em relação às possíveis consequências deste aumento de exposição das crianças ao eletrônico. Veja a seguir alguns temas que merecem uma reflexão cuidadosa:

Concentração: aparelhos eletrônicos são especialistas em possibilitar a falta de atenção. Somos nós quem controlamos o aparelho e não o contrário. Para adultos é difícil esse conceito, mas para nossos pequenos é uma realidade o controle. Quando não querem algo basta um tocar dos dedos para trocar de atividade. Eles não são obrigados a assistir o que não querem. Do ponto de vista emocional já é péssimo, porque não sabem lidar com elementos como persistência, tolerância, não equilibram suas emoções para adequar ao social. Do ponto de vista de uma aula em modo remoto continua ruim, porque se os pais não conseguirem acompanhar pode ocorrer, por exemplo, de estarem olhando para a aula, mas buscando algo em outro site. A tela do computador (e do celular!) pode enganar quem está observando. Não há como controlar essa concentração se o professor não planejar sua aula para deixar o aluno ocupado e para que seja solicitado ao menos uma vez por aula. Sem concentração e sem o aparelho nas mãos possivelmente haverá uma primeira dificuldade no retorno em relação a essa concentração e sem ela não haverá uma aprendizagem efetiva.

Luz branca: a luz emitida pela tela dos eletrônicos pode causar alguns transtornos que afetam a produtividade da criança. Dentre os vários efeitos há a inibição do sono. A exposição por longo período pode inibir a produção de melatonina e menor sono pode levar a uma dificuldade na aprendizagem. Na adaptação do retorno pode acontecer um impacto em relação à luz. Uma forma de minimizar seria ativar o filtro de luz azul nos aparelhos.

Sociabilidade: aparelhos eletrônicos são altamente sociais do ponto de vista superficial, porém quando há a real preocupação com um ambiente real, onde a sociabilização é imprescindível pode haver um distanciamento da realidade por parte das crianças no retorno. Enfrentaremos um período possivelmente turbulento com preocupações como cuidar do contato entre crianças, educar para não emprestar material para o colega, limpeza mais frequente das mãos, troca de máscaras a cada duas horas, orientação para permanecer com a máscara e outras questões que antes nem eram pensadas na escola. Todos teremos que reaprender a viver socialmente, respeitando o limite do outro e o aparelho em excesso pode retirar um pouco desta consciência social das crianças, porque leva a um tipo de egocentrismo diferenciado do considerado comum. Importante tentar trazer em alguns momentos a aproximação de relações dos alunos sempre que possível, mesmo no modelo virtual, com participações em duplas durante aulas, por exemplo, em determinada lição no ensino remoto. Isso pode ser feito com leituras alternadas, dramatizações ou até mesmo brincadeiras de esperar a vez.

Aumento de casos com síndrome de FOMO:  se não conhece a sigla, ela se refere a uma patologia psicológica que produz um medo irracional de estar fora do mundo tecnológico. É, resumindo, uma dependência do eletrônico. A sigla FOMO significa “fear of missing out”. Uso excessivo pode levar à dependência e esta pode levar à FOMO. Nosso cérebro aprende muito pela repetição e absorve naturalmente padrões. Quanto maior a exposição ao uso do aparelho e ao modo como ele funciona, mais o cérebro irá aprender a se conectar ao eletrônico. Assim começam também os vícios: pela repetição. O acostumar-se, neste caso da escola, pode ser prejudicial. Por esse motivo os professores devem ter o cuidado de sim, utilizar o eletrônico como ferramenta, mas colocar uma mesclagem com atividades no caderno, escritas, por exemplo. Trazer para a nova realidade de estudo do aluno propostas que também utilizem o não digital para complementar a aprendizagem e até trazer uma certa autonomia para a vida escolar da criança. Ela precisa acostumar o cérebro que o aprender tem várias formas de acontecer e isso é treinar também a flexibilidade cognitiva da criança, importantíssima para sua vida.

Essas são apenas algumas dicas e há muito mais o que se precaver, mas para um início de reflexão é válido para tomar cuidado com os horários da criança em relação aos eletrônicos e com a maneira como as aulas estão sendo propostas. Assim somos nós, humanos, aprendemos por acomodação e adaptação, que resultam em assimilação, em um processo contínuo e talvez seja o momento do ciclo girar novamente!

* Especialista em educação, Janaína Spolidorio é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. 

Fonte: EVCOM



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