Uma tampa para traseira de rei
Uma tampa para traseira de rei
Há poucos dias, verificando algumas coisas que precisavam ser compradas para o nosso apartamento, identificamos a necessidade de algumas lâmpadas tubulares de led para a sanca da sala de jantar e uma tampa de vaso sanitário para o lavabo, que havia se quebrado recentemente.
No último sábado, aproveitando minha parada forçada do tênis, em função de uma cirurgia de hérnia umbilical, resolvi sair para comprar os itens faltantes. Escolhi então buscar uma grande loja num outlet da cidade.
Gosto de ir a esse tipo de loja, cuja variedade no estoque geralmente contempla quase todos os materiais de casa, o que possibilita resolver tudo num só lugar, evitando muitos deslocamentos.
Cheguei ao outlet e, para minha alegria, encontrei um amigo tenista, Carlinhos, da época em que jogava no PIC, antes de me transferir para o Minas Tênis, onde jogo atualmente.
Depois de uma boa conversa, parti para as compras, motivo da minha saída de casa. As lâmpadas de led foram encontradas rapidamente. Fui procurar então a tampa de vaso.
Tinha tido o cuidado de fotografar o vaso para o qual eu queria a tampa para não correr o risco de comprar algo errado. Cheguei ao departamento de material hidráulico e sanitário buscando o modelo que servisse.
Ao perguntar à vendedora sobre a tampa, mostrei a ela a foto que tinha feito e ela imediatamente identificou o modelo apropriado àquele vaso. Nesse momento levei um grande susto, que me levou também a algumas reflexões.
Ao lado da tampa escolhida para levar haviam várias outras, mas uma particularmente me chamou a atenção. Não a tampa, que à primeira vista, não parecia ter nada de especial, principalmente para mim, sem qualquer especialidade nessa área.
Na verdade, o que me chamou a atenção foi o seu preço! Olhei atentamente, pisquei os olhos para me certificar se era verdade. E era. A tampa do vaso custava R$1.890,00.
Admirado, sem entender, comecei a imaginar o que haveria naquela tampa para merecer este custo. Imaginei o que ela seria capaz de fazer para que, no momento que me sentasse nela me sentisse mais feliz.
Muitas vezes me senti melhor depois de me sentar numa tampa de vaso, mas o motivo nunca foi a sua qualidade e muito menos o seu preço.
Não era hora de filosofar, mas transferi este pensamento para um grande número de vezes em que valorizamos coisas que não são importantes e deixamos de dar valor àquelas que realmente importam.
Pensei em quantas vezes gastamos nossas energias em coisas que não edificam. E acumular coisas muitas vezes se torna obsessão e em nada contribui para nos tornar pessoas melhores.
E nas andanças de nossa vida existem muitas situações em que damos valor a coisas como aquela tampa de vaso. Mesmo sem termos a traseira de Rei.
* Antônio Marcos Ferreira
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