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Basta de ridícula ciumeira infantil

Basta de ridícula ciumeira infantil

28/01/2010 Fábio P. Doyle

Como o sapo da história, que não suportava o brilho do vagalume, alguns brasileiros, do governo e da imprensa, criticam a ajuda que os Estados Unidos vem dando ao povo haitiano. Como o assunto é o Haiti, vale lembrar Graham Greene, que ali viveu e escreveu um de seus mais bonitos romances.

DÁ PREGUIÇA. Todos os dias somos agredidos em nossa inteligência por manifestações complexadas de um antiamericanismo absolutamente idiota. É a mania, a doença, de jogar pedra naquele que está em posição melhor. É inveja dos que conseguem mais sucesso. É raiva dos que conquistam os primeiros lugares. É a história do vagalume e do sapo, este perseguindo aquele e esclarecendo o motivo de tanta perseguição: "Não suporto o seu brilho".

MELHOR seria, para os que estão em posição inferior, os invejosos, os raivosos, o que se irritam com o brilho alheio - e isso acontece em todas as áreas, em todas as profissões - que buscassem melhorar sua cultura, seus índices de desenvolvimento humano, seu crescimento profissional, empresarial, governamental. Mas é mais fácil jogar pedras, fazer beicinhos, dizer palavrões, criticar e provocar. É o que acontece quase sempre. No caso do Haiti, todos os dias.

ESTIVE, há alguns anos, na República Dominicana, no lado leste da Ilha de Hispaniola. Um país muito bonito, colonizado por espanhóis, um povo extremamente simpático. Foi naquela ilha que Cristóvão Colombo aportou, descobrindo a América. Do lado oeste está o Haiti. Tentei ir de São Domingos a Porto Príncipe. Não consegui o visto necessário, pois o país estava envolvido em mais uma de tantas revoluções que marcam sua história. Meu desejo era exatamente conhecer a capital haitiana. Iria lá inspirado em um de meus autores preferidos, o britânico Graham Greene, um homem multifacetado, pois foi até esspião, que escolheu a capital haitiana para viver alguns anos e como cenário de um de seus romances mais interessantes ("The Comedians"), envolvendo aventura e uma bonita história de amor. Agora, nada resta das praças, das ruas, das casas, dos hotéis, dos bares, das esquinas dos encontros furtivos que ele descreveu com tanta emoção.

A TRAGÉDIA daquele povo sofrido que foi habitar, vindo da África, o lado oeste da ilha Hispaniola, uma ex-colônia francesa, emociona a todos os que têm sentimentos. Ao mesmo tempo, gera uma disputa imbecil pelo primeiro lugar na lista dos que mais ajudam. Lugar ocupado, por razões óbvias, pelo país mais rico e poderoso do mundo, os Estados Unidos. Os que estão abaixo na lista não aceitam a hegemonia norte-americana, decorrente exatamente da sua riqueza, do seu poder, de chegar primeiro e acionar com competência o socorro que as vítimas dos terremotos esperam e merecem.

O BRASIL está na jogada infeliz. Não se sabe por decisão de quem, pois nunca, neste governo, alguém assume alguma decisão que possa ser contestada e condenada. Todos os que acompanham o noticiário das TVs ouviram do presidente Lula o desabafo: "Precisamos adotar o Haiti". A declaração foi feita exatamente no dia em que navios, aviões, helicópteros, com soldados, com medicamentos, com equipamentos que a situação exigia, chegavam, mandados pelo presidente Barack Obama, ao país destroçado pelos tremores de terra. Os equipamentos e as equipes de engenheiros e técnicos especializados, desembarcados em Porto Príncipe, tinham como objetivo, alcançado em 24 horas, restabelecer o funcionamento do aeroporto internacional da cidade, que estava inoperante, em ruinas, assaltado pelos que perderam tudo na tragédia.

ALGUNS brasileiros que sofrem de surtos permanentes de antiamericanismo, em lugar de elogiar, ou pelo menos, de colaborar, deitaram falação contra a "ocupação do Haiti pelos marines de Tio Sam"… E isso acontecia, e ainda acontece, não apenas nos círculos mais ideológicos dos grupos esquerdistas do governo, mas em outras áreas, inclusive, e lamente-se, da imprensa. Até mesmo um escritor talentoso, que é colunista de um jornal paulista, ocupou seu espaço com aleivosias que talvez se originassem do seu desejo inconsciente de justificar a gorda, aliás, gordíssima indenização que recebeu do governo como suposta vítima dos presidentes militares que governaram o Brasil a partir de 1964. Curiosa vítima, que não participou de guerrilhas, permanecendo todos os chamados "anos negros" ocupando a diretoria, bem remunerada, de um grupo empresarial que editava a revista mais importante do país.

PARA terminar, encerrando um assunto que tem a marca do ridículo, bem representado por um general que pediu para ser fotografado distribuindo bolachas aos famintos haitianos, vale lembrar que o nosso ministro de Relações Exteriores, diante da liderança americana e da proposta, feita por um canadense, salvo engano, de se criar um novo Plano Marshall de ajuda ao Haiti, protestou bajulativo e incisivo: "Por que não um Plano Lula?" Se não fosse apenas uma piada, caberia perguntar a ele de onde sairiam os recursos, para sustentar um programa de ajuda do tamanho que a tragédia exige?

CHEGA de bobagem, de ciumeira idiota, de arroubos infantis. O Haiti e seu povo sofrido merecem respeito.

* Fábio P. Doyle é jornalista e membro da Academia Mineira de Letras



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