Pantanal Vip
Pantanal Vip
Quando o anzol de cobre vira jóia rara.
Em 2004 fizemos uma das várias viagens da turma de pescaria para o Pantanal. Naquela época ainda fazíamos a viagem de ônibus até uma cidade onde embarcávamos num barco hotel.
Dessa vez o barco contratado foi o Pantanal Vip, que oferecia ótimas condições para os pescadores curtirem aquela semana.
No primeiro dia de pesca muitos peixes foram pescados. Naquela época ainda trazíamos peixes, costume que foi abolido e transformado em pesca apenas esportiva. Para nós, foi uma grande evolução.
No início da pescaria soltamos os primeiros peixes, na certeza de que muitos outros seriam fisgados. Só que não. No segundo dia vimos a previsão de tempo para a região nos próximos dias: muita chuva e rios enchendo.
Problemas à vista, pois além da falta de peixe, havia falta de capas de chuva, já que não levamos. Nunca achamos que seria necessário.
Sobrou então para os sacos de lixo do barco, que foram transformados em capas. Nessa hora novos talentos apareceram, e pescadores viraram estilistas. Só não podíamos deixar de ir para o rio.
Mas os peixes desapareceram. Aqueles que até então dispensavam pequenas cacharas e pintados na esperança de embarcar exemplares maiores, agora estavam embarcando até peixinhos pequenos e desprezados, como piranhas e cascudos.
Um dia, quando voltava para o barco para almoçar, vi, numa pequena praia onde o barco estava ancorado, vários jacarés pequenos tomando banho de sol.
Não tive dúvida: coloquei isca no anzol e lancei aos jacarés. Logo um avançou na isca e foi fisgado. Peguei o jacaré e o soltei no refeitório do barco.
Cada pescador que chegava para almoçar levava um susto com um jacaré correndo no refeitório. Alguns mais corajosos pegavam o bichinho e tiravam fotos com ele.
Para uma pescaria que estava monótona pela falta de peixes, o jacaré fez a alegria da turma. Claro que o soltamos logo após o almoço sem maltratá-lo.
No último dia, com todos decepcionados com o resultado da pescaria estávamos retornando para o barco, que se dirigia ao ponto de desembarque.
Nesse retorno, quando já estávamos próximo do barco hotel, o Márcio, meu parceiro de barco, e eu, vimos no barranco do rio uma pequena barraca de pescadores.
Ao chegar, vimos que eles tinham um belo pintado que havia sido pescado naquela manhã.
- Bom dia!
- Bom dia.
- Vocês vendem esse pintado?
- Vendemos sim.
Acertadas as condições, levamos o pintado para barco, para causar uma enorme inveja nos demais pescadores, já que ninguém levaria para casa um exemplar como aquele. Mas eu o havia "pescado" naquela manhã.
Sempre tive o costume de fazer um relato musicado das pescarias que fazemos. Verifico as ocorrências e vou anotando e colocando em versos, que são cantados na última noite da viagem.
Dessa vez não foi diferente, e os fatos foram cantados na última noite. Só que os versos não falaram a verdade da minha pesca do último dia.
Três meses depois, marcamos um encontro da turma para lembrar da nossa viagem. Aí, para a surpresa da todos, uma nova estrofe apareceu na história daquela pescaria. E dizia assim:
Hoje é um dia importante
Para esta revelação
Pra acalmar consciência
E sossegar o coração
Pois na minha pescaria
Que de peixe estava pobre
Confesso que o meu pintado
Eu pesquei com anzol de cobre.
Risada geral. Brincamos muito com o ocorrido e nos preparamos para, certamente, vivermos novas novas aventuras.
* Antônio Marcos Ferreira
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