Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O Mundo dos Cafés com Leite (Psiquiatria e Fragilização)

O Mundo dos Cafés com Leite (Psiquiatria e Fragilização)

15/09/2023 Marco Antonio Spinelli

Neste final de Inverno foi liberada na Web uma entrevista, desse que vos tecla, para o Podcast PodDoutor, sobre Estresse, Ansiedade, Burnout e Depressão. Necessariamente nessa ordem.

A ideia era mostrar que esses quadros clínicos podem, em muitos casos, se estabelecer numa espécie de Continuum, isto é, podem ir se sucedendo e se agravando mutuamente, até que um período de alta carga de estresse ou de estressores acabe virando um Burnout, uma Depressão ou um quadro de Ansiedade.

Foi bem legal a conversa, mas não é sobre isso que eu vou falar. O assunto desse artigo vem dos comentários a um corte dessa entrevista, que me gerou umas questões.

Para quem não sabe, os Podcasts permitem entrevistas mais longas, os cortes são pequenos trechos dessas entrevistas que cabem mais no Youtube ou Redes Sociais.

Pois bem, num desses cortes, aparece o Dr Spinelli aqui falando: “O melhor Psiquiatra é a Academia”, para enfatizar a importância dos exercícios físicos para a prevenção e melhora de praticamente tudo o que aparece no consultório de um psiquiatra.

No final desse trecho, se conclui que a forma melhor de lidar com a fragilidade é cuidando dela. Pois vem uma moça e faz um ataque do tipo, “como assim o melhor psiquiatra é a Academia? Uma coisa não substitui a outra”.

Respondi para a moça que eu não sou dono de academia, sou psiquiatra e psicoterapeuta, não personal trainer, e que se ela assistir a entrevista da íntegra, vai poder ver que o tratamento medicamentoso, com a psicoterapia e os exercícios físicos e a higiene de sono produzem os melhores e mais consistentes resultados nos tratamentos.

Até aí, tudo bem. O problema é quando outra moça tomou a minha defesa, dizendo que sua vida e seu quadro depressivo melhoraram definitivamente com exercícios físicos.

A primeira ficou brava e respondeu que era fácil falar, quando não se sabe o que a pessoa passa, etc. Aí, o pau comeu.

Sempre iniciando as ofensas com um “sabe, gata...” foi uma troca de ofensas, uma chamando de vitimista, a outra dizendo que era Autista e que a outra era Capacitista e falsa psicóloga.

Eu saí fora do debate, antes que sobrasse para mim. Mas se eu estivesse afim de entrar na mira de alguma patrulha neurodivergente, diria para a moça que se dizia Autista que ela não tinha nada de Autismo e que estava se refugiando num diagnóstico autogerado ou malfeito.

Um paciente com características do Transtorno do Espectro do Autismo não consegue, normalmente, ser irônica, usar duplos sentidos ou xingar alguém chamando-a antes de gata. Nem entrar em batalhas de lacração online.

Estamos vivendo uma explosão de diagnósticos psiquiátricos estampados nas Redes Sociais: as pessoas ficam proclamando a própria condição, existente ou imaginária, fazendo vídeos e entrando em comunidades virtuais de algum transtorno.

Isso tem a vantagem evidente de se poder falar mais abertamente sobre esses diagnósticos, a informação ajuda muito na procura de ajuda dessas pessoas.

O problema é o exagero no sentido contrário, com o diagnóstico ou, no caso da moça do meu Instagram, um pseudodiagnóstico, que acaba colocando a pessoa num lugar de inatacabilidade.

Eu tenho Pânico, então não vou visitar quem está no Hospital. Tenho a doença X ou Y, então não consigo dar conta das minhas tarefas.

Se me mandam fazer Academia, então são um bando de Capacitistas (Capacitista, para quem não sabe, é quem discrimina pessoas com deficiência, definindo como “normal” quem tem capacidades produtivas ou sociais. Quem não tem essas capacidades, é “anormal”).

Eu achava que Capacitista é quem acha que, a despeito de sua dificuldade ou condição, todo mundo pode jogar com as cartas que a vida lhe deu. A ideia, em todo tratamento, é restaurar e criar capacidades.

Muito me incomoda o discurso em que ter alguma condição, psiquiátrica ou não, possa transformar o portador em alguém sem perspectivas ou afundado em condescendência.

E me incomoda que esses diagnósticos vomitados online sirvam para transformar as pessoas em cafés com leite em nosso jogo de desenvolvimento pessoal. Pronto, falei. Mas não coloquei isso no meu Instagram, que não sou besta.

Tratar alguém é restaurar ou criar novas capacidades e habilidades. Aceitar e manejar nossas limitações, em vez de gerar fragilidades, gera força. Esse era o tema da entrevista.

* Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação younguiano e autor do livro “Stress o coelho de Alice tem sempre muita pressa”.

Para mais informações sobre pseudodiagnóstico clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Fonte: Vervi Assessoria



Solidariedade: a Luz de uma tragédia

Todos nós, ou melhor dizendo, a grande maioria de nós, está muito sensibilizado com o que está sendo vivido pela população do Rio Grande do Sul.

Autor: Renata Nascimento


Os fios da liberdade e o resistir da vida

A inferioridade do racismo é observada até nos comentários sobre os cabelos.

Autor: Livia Marques


Violência urbana no Brasil, uma guerra desprezada

Reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 3 de março, revela que existem pelo menos 72 facções criminosas nas prisões brasileiras.

Autor: Samuel Hanan


Mundo de mentiras

O ser humano se afastou daquilo que devia ser e criou um mundo de mentiras. Em geral o viver passou a ser artificial.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray