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Um Mensalão para Havana

Um Mensalão para Havana

27/08/2013 Helder Caldeira

A importação de quatro mil médicos cubanos para integrar os quadros da saúde pública brasileira no esquizoide programa “Mais Médicos” é o trending topic do momento no país das jabuticabas.

Emersa do caldeirão petista de bizarrices da “presidenta” Dilma Rousseff para somar-se às iniciativas do Palácio do Planalto no sentido de serenar as monumentais demandas das recentes manifestações, a acintosa contratação de médicos estrangeiros para exercer suas funções em rincões, proposital e secularmente esquecidos, revela-se atestado oficial da incompetência do Brasil na administração de um território de proporções continentais, além de desvelar nojentas e torpes ideologias do partido político que, há mais de uma década, faz do Estado um esgoto para suas excrescências.

Em primeiríssimo lugar, é preciso reiterar a assertiva: não faltam médicos no Brasil. O grande problema do país é a distribuição desses profissionais nos 8,5 milhões de km², 47% da área territorial da América do Sul. A didática que a Quadrilha Vermelha Planaltina impõe em suas cartilhas de apologia à ignorância — disfarçadas sob o signo de políticas públicas — quer fazer crer que há um misto de malandragem e “frozô” — uma “chicana”, como nos ensinou, em suprema querela, o ministro Joaquim Barbosa — dos médicos formados em solo tupiniquim.

Nos corredores palacianos sobram assessores apaniguados e técnicos em puxa-saquismo defendendo que os jovens formados são vagabundos preconceituosos que preferem o conforto das capitais e regiões densamente povoadas — ainda que desempregados — ao isolamento miserável em boa parte do interior brasileiro.

Talvez os bajuladores oficiais tenham alguma razão, afinal a própria “presidenta” da República é signatária dessa superfluidade ignorante: já em campanha antecipada pela reeleição, Dilma permite-se uma agenda eleitoreira que inclui viagens semanais ao Sudeste — maior colégio eleitoral do país — até o final de 2013, enquanto jamais colocou os pés em algumas das vinte e sete unidades federativas com menor coeficiente votante e, portanto, menos importantes na concepção dessa turma de escrotal colarinho-branco.

Parafraseando obliquamente o dito popular brasileiro, “pau que dá em Estela, Luiza, Patrícia e Wanda, não dá em Dilma Vana”. Eis que chegaram os dias quando a população acordou de seu conforto hibernal e foi às ruas protestar contra o (des)governo e a paródia de democracia vigente. Diante de estádios bilionários e cheios de “gueri-gueri”, viraram clichês os cartazes exigindo certo “padrão Fifa” para saúde, educação, infraestrutura e afins.

Assustada com o clamor de vozes nunca ouvidas, a nauseabunda classe política sacou do gibão uma série de pactos inexequíveis que, em sua maioria, direta ou indiretamente, colocavam no colo da própria população pleiteante a responsabilidade pelas mazelas vividas. Não por acaso, surge nesse balaio o programa “Mais Médicos”, como quem diz: “Já que os médicos brasileiros são ‘filhinhos-de-papai’ e não querem ir trabalhar no meio da Floresta Amazônica, vamos importar doutores de outros países.

Dar-lhe-emos uma lição!” (“Dar-lhe-emos” por minha conta, porque na construção frasal dos que lá estão, teríamos algo como: “Vô dá uns passa-fora nesses médico brasileiro tudo!”). De fato, os supramencionados médicos brasileiros não querem trabalhar no interior do Brasil. No entanto, o viés da negativa nada tem a ver com ética profissional, moral, caridade, compromisso ou mesmo alguma falta de senso de nação ou patriotismo.

Na sociedade contemporânea, em tempos de alta tecnologia e reinado absoluto das redes sociais como principal instrumento de comunicação, fica fácil compreender os motivos primários que levam um profissional a passar bem longe de feudos que sequer sabem o que é cabeamento de telefonia ou banda larga — pasmem, em pleno Século XXI eles ainda existem! —, quiçá um mínimo de infraestrutura para que possam exercer suas atividades. Nem estamos falando na famigerada “vida social”.

Cerca de mil municípios brasileiros não têm suas vias de acesso pavimentadas. Educação e saneamento básico são luxos! Nesse contexto miserável, será que é tão difícil compreender a origem da escassez geral de mão de obra qualificada — e não apenas médicos — no interior do Brasil? Aliás, é um retumbante engano imaginar que os doutores gringos que estão aportando em solo brasileiro vão parar no meio da Amazônia, ou numa aldeia mato-grossense, ou ainda numa oligarquia maranhense e vão comemorar ouvindo Bebel Gilberto entoar “So Nice”, graças aos R$ 10 mil mensais “ofertados” pelo governo brasileiro.

Aguardem! Nada melhor que o tempo. É só aguardar... Para aumentar a desgraça, a administração petista finalmente conseguiu atender uma anacrônica demanda ideológica: encontrar uma forma de evadir divisas dos cofres públicos para financiar a ditadura comunista dos “companheiros” Fidel e Raúl Castro. Importar a título de emergência — a toque de caixa e sem quaisquer critérios — quatro mil médicos cubanos não é uma ação de política pública ou uma urgência assistencial.

Soa crime. Crime gravíssimo, fique claro. Não pelos profissionais, que até poderiam ser bem-vindos, não fosse a esquizoide triangulação utilizada para remunerá-los, onde até 75% dos valores serão retidos pelo governo de Cuba. Em matemática simples e rápida, a trupe castrista embolsará cerca de R$ 30 milhões mensais, entregues de bandeja pelo Ministério da Saúde da República Federativa do Brasil. São R$ 360 milhões por ano! A “presidenta” Dilma Rousseff, admitindo o que há de pior no modus operandi lulopetista, permitiu que seu governo implantasse o “Mensalão Cubano”.

Como o Brasil parece ter novamente adormecido em berço esplêndido e, nas ruas, a cidadania deu lugar à mera violência, virão “Mais Professores”, “Mais Policiais”, “Mais Pedreiros”, “Mais Carpinteiros” e muito “Mais”. Talvez seja uma política pública dilmista para algo “Menos Brasil”. O fundo do poço já ficou pra trás. Agora estamos cavando. As barbas dos mensaleiros de Havana agradecem o mimo, enquanto muitos, por aqui, seguirão rezando a ladainha dos que não conseguem construir e defender seus próprios pensamentos. Viva a jabuticaba!

*Helder Caldeira é Escritor e Jornalista Político.



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