Carreirismo político e corrupção
Carreirismo político e corrupção
Corrupção é atualmente a palavra mais em voga no país e todos imaginam vê-la em todo lugar.
Todavia, ela medra, prospera e opera também em situações pouco visíveis e o povo em geral (eleitor em particular) tem parcela de cumplicidade. No Brasil a política se tornou profissão, não são poucos os que fazem carreira da juventude à velhice e ainda se gabam de apresentar no (pobre) currículo cidadão quatro, seis ou mais mandatos. E como sabemos neste país a política é pouco séria no conceito geral. O carreirismo político e a corrupção originam-se no instituto da reeleição.
Tomemos como exemplo um candidato a deputado federal. Está comprovado que essa eleição exige investimento em média de R$ 5 milhões e o salário bruto de um deputado gira em torno de R$ 30 mil ao mês, o que vale dizer que em seus quatro anos de mandato receberá mais ou menos R$ 1,5 milhão, restando um déficit, grosso modo, de mais ou menos R$ 3,5 milhões. De onde há de vir a cobertura dessa diferença? E na próxima eleição o candidato está de novo na disputa, disposto a gastar outros R$ 5 milhões para se reeleger e depois tratar de cobrir outro déficit.
Tal situação cria o político carreirista que passa e ser dependente da política, o profissional que nada mais sabe fazer na vida, pois se voltar às suas origens, seja professor, médico, advogado, etc. estará por fora de tudo, inclusive do mercado. Deve ser por isso que um deputado que não se reelege busca o “cabide de emprego público”, no escalão federal ou no seu próprio Estado. Mandato político deveria ser um chamamento ao dever de servir a sociedade, contribuir, cumprir seu papel e depois voltar às suas atividades anteriores.
Para acabar com esse ‘status quo’ há que se mudar a legislação, terá de haver uma séria reforma política determinando aos cargos executivos nada de reeleição e nos mandatos legislativo uma reeleição e nada mais. Porém, quem pode mudar isso? Os próprios políticos, que com certeza não têm a mínima intenção de alterar as normas das quais se beneficiam. Sou de opinião de que a proibição de mais de uma reeleição deveria ser estendida também a sindicatos, federações, confederações, associações e outras entidades onde igualmente se vê o carreirismo, a perpetuação no cargo criando os mais variados vícios.
* Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.