Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Intervenção no Rio de Janeiro

Intervenção no Rio de Janeiro

14/03/2018 Heloisa Pait

A intervenção no Rio de Janeiro é um marco no debate público.

Houve pouquíssimas reações contra - e, ainda assim, a maioria sendo politicamente motivadas por aqueles que defenderam intervenções no passado recente. O tabu da ação militar em questões civis, duramente construído durante a transição democrática, e até aceito pelos militares, esboroou-se.

Foi algo lento, com as obras do PAC, com a inação dos políticos nas suas atribuições, criando um vácuo. E até, mais recentemente, com as hesitações do Supremo quanto à possível candidatura do Lula que, segundo a imprensa, os militares simplesmente vetaram.

O que era apenas marginal no começo das manifestações do impeachment, a tal "intervenção militar constitucional", acabou ocorrendo de fato. E ninguém disse nada, isso é o impressionante do ponto de vista do debate público. Apenas alguns: o pessoal da lavajato não gostou.

Pois sabe que o crime é algo complexo, e as armas e as drogas são o resultado de organizações capilares. Não é uma guerra. Guerra contra quem? Contra os políticos que compram traficantes para obter votos? Contra os consumidores de entorpecentes? Contra a própria polícia que recebe parcela dos lucros de atividades ilegais? Contra o empregador que não paga salários adequados e aí só emprega quem mora em favela?

Guerra é quando há um inimigo claro e meia dúzia de infiltrados; no caso, os criminosos estão espalhados pela sociedade, não estão só nas favelas, e nem todos das favelas são cúmplices. (Além disso, a sociedade há décadas legitimou a favela como moradia de gente de bem, com programas de apoio que estimularam o enraizamento nesses locais. De uma hora para outra, a favela celebrada virou território inimigo?).

A esquerda, defendendo estelionatários no poder, deslegitimou a tradicional defesa dos direitos humanos, que ficou sem pai. A nova onda liberal, até onde vi, não vai encampar essa luta, pois está mais preocupada com os direitos de ofender e dos embriões do que das pessoas afetadas pela nova ordem militar. Em 1992, a minisérie "Anos Rebeldes" inspirou os movimentos pró-impeachment.

Nos anos 2000, houve até um excesso: a glorificação da luta armada em si, e não mais dos ideais dos jovens que, erroneamente, nela se engajaram. Agora temos uma reação a esse excesso, que deve assustar os democratas brasileiros. Já se pode ouvir nas ruas, nas redes sociais, nos comentários de jornais estabelecidos, uma tolerância quanto a opções de força.

"A força do querer", novela recente da Globo, não teve tanto impacto como "Anos Rebeldes", mas penso inicialmente que também foi um marco: a favela foi mostrada como local de crime e cumplicidade, sendo os heróis o secretário da segurança e a policial. O traficante era um sujeito frio, perverso, manipulador e vagabundo.

Eu particularmente gostei da novela, mas é fato que foi uma virada na visão romântica de que só falta mais oportunidades para a favela dar certo, que a culpa é do sistema, que os que são contra a lei são heróis em busca de uma sociedade mais justa. A lei foi apresentada como o certo, e não como o algoz.

Na vida real, parece que a sociedade brasileira está mais tolerante com a violência de estado para garantir a ordem, a qualquer custo. A demonização do golpe teve um outro efeito no debate público: ninguém se lembra de que a população apoiou o golpe de 1964 e que a oposição foi construída AO LONGO DE 20 ANOS!

Gente de bem, culta, apoiou o golpe, ainda que o golpe dentro do golpe já tenha sido mais minoritário. Não são monstros que queriam os militares em 1964. Foi gente boa, gente comum, gente sem tendência à tortura.

Demonizar o golpe eximiu os nossos pensadores de explicar por que aceitamos o golpe em 1964. Quais as condições para isso? Essas condições estão presentes hoje? O que vamos aceitar daqui para diante? Teremos Bolsonaro como presidente? Isso tudo é muito sério, e vejo os liberais mais interessados na independência do banco central do que na independência do judiciário.

* Heloisa Pait é socióloga e professora da Unesp de Marília.



Violência urbana no Brasil, uma guerra desprezada

Reportagem recente do jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 3 de março, revela que existem pelo menos 72 facções criminosas nas prisões brasileiras.

Autor: Samuel Hanan


Mundo de mentiras

O ser humano se afastou daquilo que devia ser e criou um mundo de mentiras. Em geral o viver passou a ser artificial.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento