A confraria dos telhados de vidro
A confraria dos telhados de vidro
Ultimamente, os noticiários estão repletos de “proezas” atribuídas ao Senador Sarney. Os fatos apresentados causaram uma justificada onda de indignação.
A sociedade clama por justiça. Mas... Corremos um risco nada desprezível de achar que bastará darmos ao Presidente do Senado o hipotético, problemático, duvidoso e até merecido castigo, e estará inaugurada uma nova era. É imperioso investigar todas as irregularidades atribuídas a Sarney e agir em conseqüência, sob pena de fortalecer a sensação de impunidade existente entre nós.
Mesmo rejeitando a tese da culpa coletiva, não é suficiente contentarmo-nos com a visão da árvore, desprezando a floresta. Se há um perigo real de desistir no meio do caminho diante da pergunta singela: ”mas é só ele?”, é justamente esse argumento que deve servir de antídoto contra a catarse parcial que se pretende promover. A galeria de merecedores de castigo é impressionante e a limpeza desse estábulo do rei Áugias, digna de um misto de Robespierre e de Hércules. Uma vez tomada essa decisão heróica, resta saber de que maneira será possível levar a cabo tal empreitada.
Sarney é apenas um bom começo. Há riscos envolvidos? Há. Um deles é a desmoralização do Legislativo, e seria cometer uma flagrante injustiça com os demais poderes, tampouco imunes a um exame de consciência por mais superficial que seja. Por um momento, a sociedade sedenta de justiça deverá ignorar o alerta de Oscar Wilde: “Quando os deuses querem nos castigar, atendem nossas preces” e ir adiante. * Alexandru Solomon é empresário e escritor