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O Retrato de Tancredo na Caçamba

O Retrato de Tancredo na Caçamba

14/02/2010 Fábio P. Doyle

O moldureiro que encontrou um retrato de JK, pintado por Guignard, atrás de uma gravura, encontra no lixo de uma caçamba de rua um retrato de Tancredo Neves.

NOTAS curtas, pois o tempo é escasso e o calor insuportável. Nunca antes neste país, desde que Pedro Álvares Cabral aportou nas nossas as praias habitadas pelos simpáticos e ingênuos indígenas de traços asiáticos, o sol castigou tanto os que vieram ocupá-la depois de expulsarem, inclusive matando, os seus verdadeiros donos.

ALIÁS, se me permitem voltar ao nosso bem humorado, simpático e extrovertido, agora contido pela pressão alta, presidente Lula da Silva, não é que ele, em seus sete anos de governo, conseguiu implantar o mesmo clima nordestino em todo o país? O calor de 30 graus, que era privilégio de seu Pernambuco e adjacências, conquistou espaço até lá no extremo sul, na terra de Vargas, de Jango, de Brizola, e de Dilma, mineira de nascimento, gaúcha de vivência. Mais uma conquista da era Lula.

CALOR com chuvas, com temporais, com enchentes, com montanhas que desabam e causam tragédias não apenas em Angra dos Reis, mas em São Paulo, no Paraná, em Minas, na Bahia, em Santa Catarina e por aí. De quem é a culpa? Da natureza enfurecida e maltratada pelos governos e pelos homens? Ou da imprevidência, da omissão, da incompetência dos que deveriam prevenir a elevação dos níveis dos lagos e dos rios, que deveriam proibir construções improvisadas em encostas perigosas?

NO DIA em que o brasileiro descobrir, como já descobriram há tantas décadas, os norte-americanos e os europeus, o uso rotineiro da ação indenizatória, certamente que muitas das tragédias que estão acontecendo, não aconteceriam. A chuva é ocorrência normal e previsível. Suas consequências, também. Caberia aos governantes cuidar para que não acontecessem, as consequências, logicamente, ou pelo menos, que fossem minimizadas. O risco de ser condenado a indenizar as vítimas, no caso atual milhares delas, faria com que os administradores da coisa pública, os responsáveis pela contenção dos rios, pelas encostas ocupadas indevida e irregularmente, pela canalização insuficiente e entupida pelos detritos, agissem com mais cautela, com mais cuidado, com mais competência.

ALIÁS, não apenas nos casos provocados por fenômenos atmosféricos previsíveis, o recurso ao Judiciário em busca de indenização precisa ser mais usado no Brasil. Por exemplo, nos casos de obras mal executadas, de projetos defeituosos que causam desastres, vítimas, mortos e feridos. O perigoso e tantas vezes assassino Viaduto das Mortes, na BR-040, é modelo de projeto de engenharia defeituoso e que já provocou tantas tragédias. Se todas as vítimas fossem à justiça pedindo indenização pelos danos sofridos, danos pessoais, materiais, morais, o governo federal não teria permitido que a obra, condenada por todos os técnicos, estivesse agora comemorando a maioridade, 21 anos de péssimos e trágicos serviços aos usuários da rodovia.

DA mesma forma deveriam agir as vítimas, e suas famílias, de perdas causadas pela omissão na área da segurança pública. Como aconteceu com aquela dona de um salão de beleza, assassinada pelo ex-marido, apesar de ter solicitado a proteção policial por oito vezes. Mesmo nos casos de assalto e roubo, quando, acionada, a polícia chega tarde demais. Cabe ação indenizatória contra o poder público que for responsável pelo mau atendimento, pela omissão, pelo descaso. É o caminho que poderá sensibilizar os governantes, pelo custo a ser pago e pela repercussão negativa, e reduzir o número de ocorrências policiais.

UMA última nota na tarde nordestina de Belo Horizonte. Uma nota amena e envolvendo um episódio curioso. Há alguns anos, o dono da Arte Molduras, o simpático e competente Paulo Nonato Alves, mais conhecido nos círculos culturais e artísticos como Paulinho Moldureiro, foi procurado por uma cliente que desejava trocar a moldura de uma gravura. Ao retirar a gravura, na presença da freguesa, Paulo descobriu atrás dela o retrato do presidente Juscelino Kubitschek pintado por Guignard, na época em que JK era prefeito e reuniu em torno de sua administração os gênios de Oscar Niemeyer, Burle Marx e Guignard. A tela, que estava danificada pela colagem da gravura, foi restaurada e vendida por muitos milhares de dólares.

POIS agora, o mesmo Paulinho descobre outro retrato famoso. Ele estava fazendo a sua caminhada diária, no começo da noite, com Fred, seu cachorrinho, nas ruas de seu bairro, quando teve sua atenção voltada para uma caçamba, também chamada de lixeira. No meio do entulho, percebeu a existência de uma moldura. Ao retirá-la, constatou que era um retrato do ex-governador e ex-presidente Tancredo Neves, uma tela suja, danificada, jogada no lixo por alguém que não mais a queria em casa.

PAULINHO recolheu o que restava da tela, levou para sua oficina, e convocou o talento de Filippos Xenus, restaurador famoso, para tentar recuperá-la. O trabalho de Fillipos ficou muito bom. Ao contrário do retrato de JK, assinado por Guignard, ainda não se conseguiu identificar o autor do retrato de Tancredo. Aventou-se Peter Wiemers, um pintor holandês talentoso que viveu em Belo Horizonte nos anos 60. Mas especialistas disseram que não deve ser dele, pois o estilo é diferente do artista holandês, um gênio escondido atrás de intransponível modéstia.

A TELA está na Galeria do Paulo, a Arte Molduras. Segundo consta, será doada ao governador Aécio Neves Cunha ou à sua irmã Andréa, netos de Tancredo..

POIS é. O calor permanece nas nordestinas montanhas mineiras, já não tão montanhas como antigamente.

Fábio P. Doyle é jornalista e membro da Academia Mineira de Letras



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