Portal O Debate
Grupo WhatsApp

A difícil relação entre síndico e condôminos

A difícil relação entre síndico e condôminos

18/06/2011 Gabriel Karpat

Para haver harmonia na vida em condomínio todos devem se esforçar. É perfeitamente compreensível que a lei determine que um dos condôminos seja eleito para representar o edifício como um todo.

Essa prática, aliás, é comprovadamente eficiente. Entende-se que impossível seria, em uma edificação, ouvir a todos a qualquer instante que se tenha que tomar uma decisão. A quem deveria recorrer uma parte interessada? A quem deveria a justiça intimar ou ouvir nas questões que envolvem o condomínio? De tal sorte que a lei, sabiamente, determina que, periodicamente, os condôminos elejam um síndico que os representará para cumprir todas as exigências legais que atinjam o condomínio como unidade e dará seguimento à vontade da maioria, expressa nas votações em assembléias gerais. Nesse processo de escolha de um representante ao cargo, porém, levantam-se certos pontos polêmicos: que estranho fascínio exerce sobre as pessoas o fato de terem selecionado o síndico? Quais as diferenças que marcam o eleito dos que o elegeram? Fato é que, uma vez definido o ocupante ao cargo, tem-se início longos e intermináveis conflitos entre as partes.

Não é somente uma questão de ser estilingue ou vidraça. Talvez o proprietário, investido de um poder que não pretendia ou não estava preparado, torna-se autoritário pelo cargo alcançado. Ou, ainda, o despreparo dos demais co-proprietários gere uma insatisfação pela visibilidade resultando em uma injustificada falta de cooperação mútua. Parte desse conflito entre síndico e condôminos também pode ser explicada por uma origem mais remota: os moradores de edifícios nas grandes capitais pertenciam, primordialmente, a uma camada da sociedade chamada classe média. E, consequentemente, as despesas de custeio desses itens importantes para a manutenção do padrão almejado não representavam uma parcela considerável de suas rendas. Mais além, é possível inferir, mesmo sem dados estatísticos comprobatórios, que a grande maioria de tais moradores era composta por proprietários. Hoje, porém, a situação é diferente.

O achatamento salarial, agravado pela crise habitacional, fez com que a fixação do valor do condomínio contribua para a abdicação de outros tópicos da economia doméstica. E, em uma época em que a falta de segurança individual e a do patrimônio atingem índices alarmantes, a população vê nos condomínios engradados e protegidos a única opção viável de moradia. Assim, proprietários e inquilinos dividem as agruras da convivência em comunidade. Dentro desse complexo contexto, realizam-se as reuniões que decidem os rumos da administração dos edifícios. O descontentamento pessoal canaliza para essas sessões discussões e posicionamentos que em nada engrandecem ou contribuem com o objeto principal das mesmas: a boa administração do condomínio. Obviamente, tal clima tenso e contraproducente tem sido o grande responsável por esvaziá-las. Os moradores, quando podem, evitam comparecer às assembléias gerais.

O síndico, esse morador, vizinho, que eleito pela maioria, trabalha voluntariamente pela comunidade, abdica de algumas horas de seu tempo de lazer ou do convívio com a família para se dedicar ao interesse comum. E, como recompensa, muitas vezes colhe somente críticas e incompreensão, resultado da falta de entendimento de moradores de que seus direitos terminam onde começa o dos demais. Como, então, vencer ou reverter esse quadro? Talvez somente quando começarmos a perceber que o debate com civilidade e a aceitação da vontade da maioria, mesmo quando divergente da nossa, faz parte de um processo democrático sadio e que consolida a evolução e o progresso de que a comunidade necessita, e cujo exemplo se inicia dentro de casa. Devemos compreender que somente será possível alcançar a harmonia na vida em condomínio quando o esforço em favor do bem comum for despendido por todos que a ele pertencem.

Gabriel Karpat* é diretor da GK Administração de Bens e coordenador do curso de síndicos profissionais da Gabor RH.

Leia também:

‘Exclusão’ e ‘privação’ de condômino antissocial



O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena


O choque Executivo-Legislativo

O Congresso Nacional – reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados – vai analisar nesta quarta-feira (24/04), a partir das 19 horas, os 32 vetos pendentes a leis que deputados e senadores criaram ou modificaram e não receberam a concordância do Presidente da República.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto