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Intrigas bizantinas na Terceira Roma

Intrigas bizantinas na Terceira Roma

09/10/2014 Guilherme Dalla Costa

A Revolução Russa é geralmente retratada como uma odisséia do povo do Império Russo para libertar-se de um governo atrasado e quase feudal que dominava praticamente todo o Norte da Eurásia.

É essa imagem que é desconstruída em História Concisa da Revolução Russa, do historiador polonês Richard Pipes. Vasculhando os arquivos soviéticos, Pipes usa registros de telégrafo, cartas, relatórios e diários pessoais para reconstruir um dos eventos mais marcantes do Século XX. A Rússia da virada do Século XIX era muito parecida com a China de hoje: um país em rápida industrialização, disposto a abraçar os métodos ocidentais, mas não suas instituições.

A única monarquia absoluta da Europa era um gigante que despertava e assustava o mundo, e as projeções da época, baseada na velocidade da industrialização e o crescimento populacional do país, indicavam que em 1950 a Rússia seria mais populosa e produziria mais do que toda a Europa somada. Apesar disso, o país não era sem contradições: enquanto os âmbitos econômico e acadêmico eram cada vez mais livres, com mobilidade social, ampla entrada de capital estrangeiro, universidades e colégios técnicos, o governo czarista continuava a reprimir agremiações políticas e censurar publicações.

É desse último grupo, o acadêmico, que vieram os revolucionários russos. Esses jovens universitários, denominados intelligentsia, acreditavam que as massas, por serem alienadas, não eram capazes de liderar a revolução socialista, e por isso era necessário um núcleo duro de intelectuais dedicados à incitá-las. Há de se notar a clara contradição à teoria marxista, que diziam defender: o alemão Karl Marx deixava explícito que as massas se tornariam naturalmente conscientes da sua situação de exploração, ou seja, não poderiam ser lideradas por um grupo, quem dirá por jovens abastados e ociosos como ele mesmo fora.

Após uma competente contextualização da situação russa que culminou no Domingo Sangrento, em 1905, e em uma série de revoltas em 1915 que levaram, enfim, às sucessivas convocações da Duma (algo como os Estados Gerais franceses, um órgão legislativo). Com a marcante frase “revoltas são espontâneas, mas revoluções são fabricadas”, Richard Pipes nos mergulha nas mentes clinicamente sociopatas de Vladimir Lênin, Leon Trótski e Josef Stálin.

Os registros surpreendem: a população russa queria, sim, continuar lutando na Grande Guerra, em um surto patriótico. Vários membros da intelligentsia, Lênin em particular, foram exilados por pregarem a rendição já em 1914, e foram enviados de volta à Rússia patrocinados com dinheiro do Império Alemão, recebendo doações periódicas para a compra de armas, impressão de folhetins e a corrupção de agentes do governo. O motivo? Os alemães não queriam lutar a guerra em duas frentes e Lênin prometeu a eles que renderia a Rússia.

Os sovietes, conselhos de classe muito semelhantes a sindicatos e que foram estabelecidos em 1905, foram comprados e aparelhados pelo Partido Bolchevique de Lênin – e esse nome, que significa “maioria”, ilude: ele era o menor dos partidos russos, contando no seu auge com 5 mil membros. Para comparação, o segundo menor, o Partido (e organização terrorista) Socialista Revolucionário, possuía 45 mil membros. Após a queda do czar Nicolau II, em fevereiro de 1917, e uma sucessão de intrigas que levaram a outra em outubro do mesmo ano, a narrativa se torna repugnante.

Os blocheviques representavam o proletariado industrial, que eram três milhões de russos – ou 1,25% da população do país. A única maneira de governá-lo, então, era através da força. O regime era mantido por nada mais que mercenários e bandoleiros, que não hesitavam em executar comerciantes e agricultores. Casas eram pilhadas, mulheres estupradas, cartões de racionamento distribuídos e a inflação era quase cômica. A Guerra Civil não foi ganha por apoio popular ou mérito militar, e sim por crueldade, dinheiro sujo e medo de retaliação caso resistissem.

História Concisa da Revolução Russa é uma leitura obrigatória para quem quiser entender por que a União Soviética cometeu genocídios posteriormente, e por que fracassou. Com curiosidades assustadoras, como o fato de Lênin ter tendinite por assinar listas de execução e estabelecer cotas mínimas de fuzilamento por província, e trechos de diários e discursos que exalavam ódio e rancor, logo se vê que os Expurgos de Moscou, o Holodomor e tantos outros eventos que somaram dezenas de milhões de mortes não foram parte de um processo político, mas a tentativa desesperada de algumas mentes doentias de se manter no poder. Richard Pipes nos mostra o mesmo que George Orwell expõe em 1984: apenas os piores seres humanos, quando munidos da certeza de que são moralmente superiores, podem levar em frente uma revolução socialista.

*Guilherme Dalla Costa é Acadêmico de Economia e Especialista do Instituto Liberal.



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