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Após o impeachment

Após o impeachment

03/10/2016 Mario Bernardini

O fim do processo de impeachment não deverá alterar sensivelmente o “modus operandi” do governo.

O fim do processo de impeachment, ao contrário do que sido apregoado, não deverá alterar sensivelmente o “modus operandi” do governo, que continuará suscetível a pressões e sujeito a uma contínua negociação com o Congresso.

Este comportamento decorre, mais do que da interinidade ou não do governo Temer, da mudança do comportamento dos deputados que, historicamente, fazem parte do baixo clero e que, após Eduardo Cunha, acordaram para o poder que detêm e passaram a usá-lo, cientes da capacidade de pautar o Congresso, à revelia do governo.

As dificuldades em avançar, tanto na limitação dos gastos como na reforma da Previdência ou na modernização das relações capital- trabalho, deverão continuar presentes e até aumentar em função das próximas eleições municipais e, principalmente, da sucessão presidencial.

Simplificando, o PMDB quer fazer bondades para se reeleger em 2018, enquanto o DEM e o PSDB querem que faça maldades para carregar o ônus e, assim, sair do páreo e entregar o país para eles, razoavelmente ajustado, em 2018.

A baixa sensibilidade da equipe econômica com os problemas do setor produtivo faz com que, em vez deste ser visto como parte indispensável da solução, seja encarado, na maioria das vezes, como fazendo parte do problema.

Há uma crença quase religiosa de que o ajuste das contas públicas resolve praticamente tudo e o crescimento econômico virá como uma simples decorrência. Sem querer diminuir a importância dos erros cometidos e da incompetência do governo Dilma no agravamento da crise, é necessário destacar que os novos detentores do poder, na realidade, de tanto repetir uma leitura extremamente simplificada de suas causas acabaram acreditando no discurso de que todos os nossos males decorrem do abandono do “tripé econômico” agravado pelo excesso de gastos do governo e consequente desequilíbrio fiscal.

Não atentaram, até agora, na importância do fato de as empresas e famílias estarem crescentemente endividadas, passando de 35% do PIB em 2005 para mais de 75% do PIB em 2015 numa economia que começa a perder fôlego a partir de 2011.

De fato, a partir daquele ano, as empresas perdem margens de forma contínua chegando a praticamente zerar sua rentabilidade a partir de 2013 em função do baixo crescimento e forte elevação das despesas financeiras. O ajuste cambial que permitiria, à indústria, uma saída alternativa para a recessão interna foi jogado fora, mais uma vez, em nome do combate à inflação que, por não ser uma inflação de demanda, resiste teimosamente a taxas de juros extremamente elevadas que agravam ainda mais a situação dos consumidores e das empresas.

O ministro Meirelles chega a afirmar que o Real apreciado favorece os investimentos, o que não faz sentido para o setor produtivo. Na realidade, o Dólar baixo tem o efeito oposto. Ele reduz o preço dos produtos importados que concorrem com os produtos nacionais, estabelece um teto no preço de nossos produtos independente de custos crescente, o que significa redução ou eliminação de margens, e impossibilita a exportação, pois o preço do produto brasileiro sobe em Dólares para garantir ao exportador os mesmos Reais.

É óbvio que, nestas circunstâncias, investir em produção é um contrassenso. Haverá sempre quem defenda que a competitividade não depende exclusivamente do câmbio, o que, “strictu senso”, é correto, mas, no mundo real, ganhos de competitividade na área sistêmica, ou seja, em infraestrutura, reformas trabalhista e tributária, educação, segurança jurídica... vão continuar na lista de desejos por muito tempo ainda, enquanto que ganhos de produtividade, que são da alçada das empresas, dependem de investimentos, ou seja, da existência de margens adequadas e, portanto, de um câmbio competitivo.

Sem medidas que favoreçam a redução do endividamento da indústria e a recuperação de suas margens, via financiamento a custos compatíveis com o retorno das empresas e câmbio competitivo, não haverá possibilidades de aumento da arrecadação e, portanto, de ajuste das contas públicas pelo lado da receita.

Há, ainda, riscos maiores com relação a nosso parque industrial. A indústria de transformação, por exemplo, estará reduzida, em fins de 2016, à metade do que era há pouco mais de dez anos, com o consequente agravamento do processo de desindustrialização e da perda de importantes elos da cadeia produtiva.

É fundamental, portanto, sensibilizar o governo de que as medidas capazes de estimular a retomada do crescimento econômico como a redução da Selic e das taxas de juros de mercado, a regularização do crédito, a adoção de uma política cambial que favoreça a manutenção de um câmbio competitivo e com baixa volatilidade e a aceleração do programa de investimentos em infraestrutura têm que ser implementadas simultaneamente com o ajuste fiscal e com as indispensáveis reformas previdenciária e trabalhista.

* Mário Bernardini é engenheiro e diretor de competitividade, economia e estatística da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e membro do Grupo Reindustrialização.



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