Os entulhos que nos soterram
Os entulhos que nos soterram
A sociedade democrática alenta seus artistas e seus sábios e cientistas.
Aquela, como é óbvio, não é composta exclusivamente dos últimos. Ao contrário, os homens geniais, que podem transformar o mundo, são em número cada vez menos significativo. Hibernaram na Idade Média e retornaram no Renascimento.
Isso porque devem ser livres, independentes, o que não ocorreu sob a época dos reis e da vida feudal. A liberdade de pensamento e expressão é o ponto primordial das mudanças e da evolução do processo civilizatório. Não falamos de robôs tecnocratas, que seguem o ramerrão da técnica estereotipada, mas de homens cuja genialidade é inata.
Em geral são homens solitários, criativos e criadores de gênio, na arte, que purifica os costumes dos povos, e na ciência, que gera os instrumentos de nossa felicidade. Homens com Da Vinci, Nilton, Einstein, religiosos como Francisco de Assis e filósofos como Shopenhauer, Demócrito e Spinoza se assemelham profundamente, porém o mundo social, que se multiplicou, já os conta nos dedos.
Nem mesmo o insigne prêmio Nobel já é uma referência a essas criaturas que apontam o caminho das demais. A técnica geral e a tão propalada rede social, dinâmica, em tempo real, inimaginável em passado recente, ilude. Vivemos no mundo da quantidade, da instantaneidade, mas não da profundidade transformadora. É possível constatá-lo diariamente.
O depoimento de Albert Einstein impressiona: "A falta de pessoas de gênio nota-se tragicamente no mundo artístico. Pintura e música degeneram e os homens são menos sensíveis. Os chefes políticos não existem e os cidadãos fazem pouco caso de sua independência intelectual e da necessidade de um direito moral. As organizações comunitárias democráticas e parlamentares, privados dos fundamentos do valor, estão decadentes em numerosos países. Então aparecem as ditaduras. São toleradas porque o respeito da pessoa e o senso social estão agonizantes ou já mortos."
Felizmente, o grande físico complementa: "Não faço parte daqueles futurólogos do Apocalipse, porque creio em um futuro melhor e vou justificar minha esperança." ("Como vejo o mundo", Nova Fronteira, 2016, pg. 15).
Nosso Brasil do momento passa por essas angústias. No vácuo descrito proliferam os répteis da corrupção, dos ricos sem causa lícita, e a imensidão do povo pobre e boa parte, como não poderia deixar de ser, agressiva.
Só nos resta nos livramos desses escolhos das costas e não permitir a vitória do Apocalipse, cuja personalidade cultuada é o demônio condutor, como pregam certas saudáveis correntes religiosas.
* Amadeu Garrido de Paula é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.