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Quando a política imita a ciência

Quando a política imita a ciência

12/03/2018 Rubens F. Passos

Do mesmo modo que a vida imita a arte, a política pode assemelhar-se à ciência.

Pouco divulgada na mídia nacional, é notável a descoberta, por equipe de biólogos brasileiros e canadenses da Universidade de Toronto, da primeira ave híbrida conhecida, o Lepidothrix vilasboasi.

Passarinho amazônico verde e amarelo, conhecido como dançador-de-coroa-dourada, resulta do inusitado cruzamento das espécies Lepidothrix iris, cujo nome popular é cabeça-de-prata, e Lepidothrix nattereri, o uirapuru-de-chapéu-branco.

É interessante notar, numa analogia do brilhante trabalho dos cientistas com a Operação Lava Jato, que, do mesmo modo que a vida imita a arte, a política pode assemelhar-se à ciência. Pois bem, no poluído ecossistema abrangido pelas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, indiciamento e sanção penal dos envolvidos, também surgiu uma criatura híbrida, o Homo periscelides, ou homem-tornozeleira.

Ele resulta da insólita prevaricação (sem qualquer alusão ao sentido bíblico do termo...) entre duas espécies: o Corrumpere politicus, impopularmente chamado de político corrupto, e o Putridis entrepreneur, ou empresário corruptor, numa tradução livre do latim. Como híbrido da amoralidade, o Homo periscelides tem imensa dificuldade em reproduzir atos e conceitos éticos.

Seu comportamento apresenta caracteres muito presentes nas espécies das quais resulta: enorme apetite pelo erário; caráter gregário em torno de atividades parasitárias (algo que pode ser chamado de “tendência à formação de quadrilha”); total desapego pelo habitat (também conhecido como “ausência de patriotismo”); nenhuma empatia com a população de Homo sapiens sapiens (atitude definida, em linguagem não científica, como “tô nem aí com o povo...”); e um exacerbadíssimo instinto de sobrevivência, expresso na facilidade com a qual entrega espécimes de seu próprio bando aos predadores (hábito definido como “delação premiada”).

Dentre suas singularidades comportamentais, o Homo periscelides carrega em seu DNA uma característica muito marcante na espécie Corrumpere politicus: obsessão por impostos! Quanto mais, melhor para a sua sobrevivência e de seu predecessor genético, em detrimento dos demais membros da sociedade brasileira, que arca com uma das mais elevadas cargas tributárias do Planeta, cujos ônus são um dos obstáculos ao crescimento econômico sustentado.

Nosso bioma de impostos é um dos únicos do mundo que incluem os investimentos, desestimulando-os. Além disso, contém imensas contradições, como o absurdo de taxar em 41%, na média, os materiais escolares. Todo início de ano letivo, como se tem visto na mídia, o peso da carga tributária é significativo na composição dos preços de cadernos, lápis, canetas, réguas, fichários e outros itens importantes para a boa escolaridade.

Contudo, quem está preocupado com o aperto do orçamento das famílias? Há tempos existem projetos de lei, aparentemente esquecidos no Planalto Central, que reduzem ou zeram essa carga de impostos sobre produtos de primeira necessidade para os alunos e diretamente atrelados a uma prioridade pétrea definida em nossa Constituição, ou seja, o ensino.

Ficção antropológica e biológica à parte, o Brasil, país de cientistas brilhantes, como os que descobriram o pássaro híbrido amazônico, trabalhadores e empresários muito determinados, competentes e idôneos, alguns políticos que honram o voto popular e uma sociedade pluralista e correta em sua maioria, precisa virar uma página importante de sua história.

Para isso, é necessário elevar a política à missão democrática e institucional intrinsecamente ligada ao seu exercício, de colocar o Estado a serviço da sociedade! Isso significa proporcionar condições mínimas de bem-estar, saúde, segurança, moradia e sobrevivência digna a todos os seres humanos!

Portanto, é premente, na esteira da Lava Jato, extinguir a histrionice, a improbidade e o fisiologismo no setor público e na sua interação com a iniciativa privada.

* Rubens F. Passos é economista pela FAAP e MBA pela Duke University (EUA), presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (ABFIAE) e do Conselho da Enactus Brasil.



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