Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Opinião: O desandar da carruagem democrática

Opinião: O desandar da carruagem democrática

02/06/2018 Francis França (DW)

Greve dos caminhoneiros mostrou que a democracia brasileira tem força para transformar o país, mas sociedade precisa decidir se é parte da solução ou do problema.

Opinião: O desandar da carruagem democrática

 Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Os dez dias de greve dos caminhoneiros expuseram a desconcertante complexidade do Brasil. Em mais um dos soluços de revolta organizada que acometem a população de tempos em tempos, a sociedade civil brasileira demonstrou a sua força. E também suas contradições.

Os caminhoneiros precisaram de apenas quatro dias para deixar o governo de joelhos e desencadear uma crise de abastecimento no maior país da América Latina. Mostraram que, como eles mesmos disseram, são o sangue que corre nas veias do país.

Embora estivessem separados por milhares de quilômetros de estradas, grupos de caminhoneiros autônomos se organizaram pelo WhatsApp, nos moldes da Primavera Árabe, e dentro de dez dias conseguiram derrubar o preço do diesel e dos impostos.

A população apoiou em peso a causa dos caminhoneiros: segundo pesquisa do Instituto Datafolha, 87% dos brasileiros foram favoráveis à paralisação, mesmo sofrendo o impacto do desabastecimento.

Assim, o Brasil assistiu a uma tempestade democrática perfeita: cidadãos fazendo uso do seu direito a greve e manifestação, com livre acesso a ferramentas de comunicação, gozando de apoio popular e vendo suas demandas serem atendidas pelo governo. Tudo isso sem repressão ou violência. Um país exemplar.

Até a coisa desandar. Caminhoneiros em todo o Brasil fizeram campanha nas redes sociais e estamparam faixas pedindo uma intervenção militar. Usaram seu direito democrático à livre opinião para pedir medidas antidemocráticas e, basicamente, a volta da ditadura.

Felizmente, os próprios militares desprezaram publicamente o apelo e reafirmaram sua lealdade à Constituição. Agora só falta os brasileiros entenderem que não haverá um salvador da pátria. A única forma de "botar ordem neste país" é participar do processo político antes, durante e depois das eleições. Votar com responsabilidade e fiscalizar os políticos.

O "lado sombrio da Força" também se manifestou em supermercados e postos de gasolina. A solidariedade demonstrada com os caminhoneiros contrastou com a mesquinharia de comerciantes que passaram a cobrar preços extorsivos por produtos escassos. Ou de consumidores que se acharam no direito de comprar mais do que precisavam só para garantir o seu, não se importando que os outros ficassem sem.

E o que dizer desta contradição: dos 87% da população que apoiaram a greve, 87% disseram não querer pagar pelos 13,5 bilhões de reais necessários para honrar o que foi prometido aos caminhoneiros. Ora, num país em crise, com um déficit orçamentário de mais de 150 bilhões de reais previsto para 2018, o dinheiro tem que sair de algum lugar.

O governo resolveu então cortar do lado mais fraco: no saneamento básico, no sistema de saúde, nas políticas de combate à violência contra a mulher, na demarcação de terras indígenas, na inovação. E quando foi anunciado que programas sociais pagariam parte da conta, a população deu de ombros.

As últimas semanas mostraram que a democracia brasileira tem muito mais força do que pensa para transformar o país, mas a sociedade precisa decidir se será parte da solução ou do problema.

Faltam apenas quatro meses para as eleições de outubro. Ainda dá tempo de começar a construir o melhor dos tempos.



Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena