Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Vacinação obrigatória: uma reflexão sobre solidariedade e liberdade na saúde

Vacinação obrigatória: uma reflexão sobre solidariedade e liberdade na saúde

15/12/2020 Gabriel Schulman

As respostas em bioética nunca são simples. Para ilustrar, o Supremo Tribunal Federal, examina a constitucionalidade da vacinação compulsória, isto é, impor a todos a vacina.

Este artigo, no entanto, não examina tal possibilidade. A reflexão proposta parte de um cenário hipotético em que se admita a recusa.

O questionamento central é, caso a imunização não seja imperativa, podem ser estabelecidas restrições a quem recusá-la?

O ponto de partida então é a vacinação obrigatória, em que a recusa é permitida, contudo, “penaliza-se” quem não se vacinar.

A temática, como tantas outras que entrelaçam saúde e direito, desafia o sentido e alcance desses termos. O significado de saúde é complexo.

Concebe-se como bem-estar físico, mental e social e, igualmente, associa-se, como ensina Canguilhem, à ausência de doenças, à normalidade, ou ao equilíbrio (homeostase).

Sob a ótica jurídica, muitas vezes a saúde é tomada como direito ao acesso (ou não), de modo mais ou menos amplo, a certos tratamentos.

Uma das perspectivas mais instigantes, porém, versa sobre a saúde como dever, que se desdobra em temas como as internações forçadas e a vacinação compulsória.

Entre tantas concepções, considero particularmente bonita a definição de saúde como sendo o que nos faz iguais, afinal, embora o acesso, em nosso país, seja diretamente influenciado pela renda, os vírus não distinguem idade, posição política ou riqueza. Essa visão justifica mitigar liberdades individuais em atenção à proteção da coletividade.

Como diz o célebre ensinamento de Bernard Shaw, em Man and Superman, “Liberty means responsibility” (liberdade significa responsabilidade), sobretudo, pelo cuidado com o outro. Ao mesmo tempo em que a maioria de nós espera ansioso pela vacina, alguns adiantam a oposição a usá-la.

Se à primeira vista, quem se vacinar está protegido, e “azar de quem não quer”, na saúde nada é simples porque devem ser levadas em conta mutações, custos de tratamento (suportados por todos), escassez de recursos da saúde e o cabimento de um direito a correr certos riscos, cuja razoabilidade é enfrentada, por exemplo, quando se exige de todos cinto de segurança e capacete.

Quem não se vacina se beneficia do esforço alheio e dos riscos das reações adversas, além disso, a erradicação depende da imunidade coletiva.

Na Itália, a Lei Lorenzin estabelece a vacinação das crianças como pressuposto de acesso ao ensino básico. No Brasil, o acesso ao bolsa família exige vacinação das crianças e frequência escolar.

Recente projeto de lei, em trâmite na Câmara dos Deputados, define que a recusa em se imunizar exigirá o custeio do tratamento segundo “tabela que será elaborada e publicada pelo Sistema Único de Saúde”.

A premissa do projeto de custear as despesas que se gera esbarra em duas grandes barreiras. Em primeiro, não “punimos” outros gastos gerados ao SUS por hábitos como fumar, poluir, comer mal ou não fazer exercícios físicos regularmente.

Em segundo, a repercussão de não se vacinar não se restringe ao custo do tratamento, eis que engloba estrutura dos hospitais, sobrecarga do sistema, despesas para controles sanitários, além da consequência mais óbvia que consiste na difusão do vírus.

Independente do conceito de saúde adotado, o momento delicado demanda uma postura de solidariedade e senso de coletividade. É preciso cuidar de nós, mas também cuidar dos outros.

A proteção das liberdades individuais, em um ambiente democrático, pressupõe deveres e, como explica Stuart Mill em “On Liberty”, deve levar-se em conta os efeitos na esfera alheia.

Portanto, a imposição de restrições razoáveis a quem não se vacina é medida constitucional, tal como a restrição a quem dirige sem cinto ou excede a velocidade, já que expõe a si e aos demais.

* Gabriel Schulman é doutor em Direito, especialista em direito da medicina, advogado, é professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo.

Fonte: Central Press



Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena


O choque Executivo-Legislativo

O Congresso Nacional – reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados – vai analisar nesta quarta-feira (24/04), a partir das 19 horas, os 32 vetos pendentes a leis que deputados e senadores criaram ou modificaram e não receberam a concordância do Presidente da República.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves