Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O ano em que tivemos dois carnavais

O ano em que tivemos dois carnavais

16/02/2021 Daniel Medeiros

Era o ano de 1912 e, verdade seja dita, o carnaval não era ainda essa folia de dezenas de escolas na avenida e centenas de blocos pelas ruas. Havia o corso e os bailes.

Mas muitos já arriscavam um pula pula pelas ruas, participando do jogo das molhadelas, atirando e recebendo as bolinhas de cera com seus conteúdos perfumados ou mal cheirosos, ao som adaptado pra folia das valsas, polcas e mazurcas, adicionadas de uns tantos batuques do pessoal da Bahia que, lá do morro, já providenciava o nascimento do samba.

Aliás, as marchas carnavalescas já tinham pelo menos uma representante reconhecida por todos, inclusive pelas altas esferas: Chiquinha Gonzaga. Seu “abre alas” era um sucesso nos cordões que iam pelas ruas se arrastando feito cobras pelo chão.

Em 1914, Chiquinha tocaria, em pleno palácio do Catete, o seu Corta-Jaca, que servia de fundo musical perfeito para uma dança tangueada, com corpos bem juntos e movimentos salientes. Foi um escândalo.

Mas nossa história se presta a contar o que ocorreu em 1912, no sábado que antecedeu o início das folias de Momo.

Morre, aos 66 anos, o Barão do Rio Branco, o grande ministro das Relações Exteriores de vários governos republicanos, embora fosse um monarquista empedernido. Foi uma consternação incrível, com cenas de choro público e tudo.

O povo, de fato, tinha por aquele homem robusto e de fartos bigodes, um apreço verdadeiro. Afinal, o Barão ganhou de lavada a Questão das Missões aos argentinos!

E, de quebra, ainda comprou o Acre aos bolivianos, fora umas duas ou três outras pendengas diplomáticas com a França que ele resolveu com uma mão nas costas. Era soberbo. E morreu.

O presidente da República da ocasião era o vetusto e atabalhoado Marechal Hermes, apelidado de Dudu e com fama de burro pedrês.

Aliás, conta o anedotário que Maurício Lacerda (que foi um personagem bem importante, mas que ficou mais conhecido como o pai do Carlos Lacerda, sobre o qual muitas histórias poderiam ser contadas), que trabalhava no gabinete do presidente, foi interpelado por um visitante que, vendo-o à entrada da sala do Marechal, pergunta-lhe: Maurício, você está aí para impedir que as ignorâncias entrem? Não - respondeu de pronto o Lacerda pai - estou para impedir que a burrice saia.

Mas então o Barão do Rio Branco morreu. E o Dudu resolveu, em sua homenagem, transferir o carnaval para abril, junto com a Páscoa.

Não fazia sentido festejar na missa de sétimo dia de homem tão ilustre e que tanto fez pelo país. E foi lavrado o decreto.

No primeiro momento, a atitude foi acatada com palmas. É isso, faz sentido. Afinal, é o Barão. E depois, carnaval tem todo ano. Por que não é possível esperar uns meses que sejam?

O cortejo fúnebre, em direção ao cemitério do Caju, foi incrível. Só Rui Barbosa, uma década depois, atrairia tanta gente para a sua morte.

O Barão - que muito depois virou festejada nota de mil cruzeiros - foi homenageado com honras de chefe de Estado.

Mas daí a semana foi passando, as lágrimas sendo enxugadas, os batuques se intensificando, as roupas do entrudo e as bolinhas de cera sendo preparadas, os carros do corso todos enfeitados e o fato é que a folia apagou as solenidades e, afinal, uma semana de luto já era de bom tamanho. E fez-se o carnaval.

E já que o presidente havia marcado outra data, em abril, quem iria recusar? E em abril, a população encheu as ruas outra vez.

Uma marchinha fez um grande sucesso nesses dois carnavais - uma premonição compensatória para o futuro que é o nosso insosso presente - brincando com o Barão, agourando o Dudu da Fonseca, presidente sem graça e sem competência.

Dizia assim: Com a morte do barão/ tivemos dois carnavá./ Ai que bom, ai que gostoso/ se morresse o marechá.

Hoje, resta-nos o sorriso amarelo por trás da máscara e, talvez, uma maledicência reprovável na secreta adaptação dos versos.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Para adquirir LIVROS clique aqui…

Fonte: Central Press



Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena