Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Mortes e lama: até quando, Minas?

Mortes e lama: até quando, Minas?

13/01/2022 Maria Inês Vasconcelos

Tragédias no Brasil são quase sempre pré-anunciadas. É como se pertencessem e integrassem a política de cotas. Sim, há cotas também para o barro e a lama. Cota para a dor.

O paradoxo do binarismo ação e omissão. Bem e mal. Dezembro e Janeiro. Chuva e desabamento. Sei e não faço nada se repete na simbologia social e cultural que camufla as responsabilidades.

Paira no ar uma elevada dose de omissão. Quando a barragem de Mariana se rompeu, em 2015, não era a intuição das pessoas que dizia que ela ia se romper. Era a técnica. A ciência. No caso, a engenharia já havia apontado para a amplitude do risco.

Infelizmente o mesmo aconteceu agora. No último dia 8, o dique da Mina de Pau Branco, que fica em Nova Lima (MG), transbordou inundando a BR- 040 causando danos irreparáveis à população. Mortes.

No mesmo dia, o desabamento de pedras no lago de Furnas, em Capitólio, provocou a dor e a morte de 10 pessoas e, mais de 30 ficaram feridas. Mais mortes.

A tragédia ocorrida em Capitólio, e a mineração desmedida que ocorre em Minas decorre de uma tendência, verdadeira pulsão conhecida: a destruição do homem pelo próprio homem, que atua, pelo menos em tese, com falta de cuidado com o próximo. Bem Maquiavel? Cabe-nos responder.

O Estado de Minas Gerais tem lutado com uma absurda capacidade de resiliência para contornar esses malfeitos. Faz-se o dobro de esforço para conseguir pela metade a vida, o sono e a paz.

Mas esforços não são suficientes depois que a morte operou, em razão das chuvas de Janeiro. Não se pode dar um alvará para os fatos ocorridos, como se pertencessem somente à natureza. Licenciar a tragédia opera para muito além da vontade natural. Há aqui a marca identitária da culpa, quem sabe dolo do homem e não do natural.

A adesão das comunidades ao sofrimento e os esforços unidos de reparação, é uma associação que revela explicitamente, que muito embora o homem possa ser o lobo do homem, também pode ser, primariamente, seu salvador.

Vários testemunhos indicam a determinação e protagonismo na acolhida das vítimas. De pão a colchão, tudo tem feito o povo.

Fica claro que a chuva não é a única culpada - as tragédias, ditas ambientais se repetem. Os fatos naturais atuam pela voz do homem, como seus álibis. O homem tenta assim se eximir, sair da esfera do poder.

Primo Levi ao ser aprisionado nos campos de concentração de Auschwitz, conversou com outra vítima, sendo esse, um médico polonês que também estava preso.

O médico-vítima sabia que iria para a câmara de gás e Levi então, sem compreender, perguntou-o, muito triste: “Por quê, por quê, Rudolph?”.

E recebeu a seguinte resposta: “Aqui não há porquê (hier ist kein warum)”. Para alguns fatos não há mesmo. O holocausto segue sua trilha injusta.

Para Bauman, os Estados democráticos sempre se ajustaram em sua promessa e responsabilidade de proteger e zelar pelo bem-estar coletivo, em contrapartida à desgraça individual.

Em seu livro Cegueira Moral (2014), Bauman traz à tona a questão da perda da sensibilidade diária em relação ao outro no mundo contemporâneo.

Seja Bauman ou Levi, seja nas minas ou nas pedras, o registro é único: o homem tem uma tendência para a prática do mal e de desresponsabilizar.

O porquê vai sempre nos perseguir. “O que fizemos? Por que isso ocorreu? Por que as pedras e as barragens sinalizaram esses eventos e nada se fez?”

O fato de uma barragem se romper e causar danos a milhares de brasileiros irá se repetir. Minas Gerais irá ser vítima de novos acidentes. De novas pedras. E essa operação sequencial se repetirá até que o homem freie o próprio homem.

É somente a partir dessa nova pulsão - que não nasceu ainda - poderemos dormir, com menos medo da lama e das pedras.

* Maria Inês Vasconcelos é advogada, pesquisadora, professora universitária, escritora.

Para mais informações sobre tragédias no Brasil clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Naves Coelho Comunicação



Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena