A arte de administrar
A arte de administrar
A criação - e imediata revogação - de barreiras para a importação de mais de 3 mil produtos, a briga de ministros, que foram devidamente ameaçados de demissão caso não parassem com a baixaria, e outras trapalhadas ultimamente registradas no seio do governo, são inadmissíveis e demonstram um certo clima de acefalia administrativa na República.
O governo, para assim poder ser chamado, tem de efetivamente governar. O ideal é que as decisões sejam tomadas exclusivamente pelo chefe ou por alguém por ele designado, mas com o seu conhecimento prévio. Até porque, será ele o responsável pelo sucesso ou fracasso da medida. Nenhum governo - federal, estadual ou municipal - pode abrir mão de sua função de mando. E quem tem legitimidade para mandar é somente aquele que, através do voto, recebeu a delegação direta do povo. Ministros e servidores, por mais categorizados que sejam, tem suas funções específicas, mas não a decisão. E se a tiverem, está errado.
O presidente Lula, por sua história política, consegue bons índices de popularidade mesmo quando acontecimentos do seu governo não ficam bem explicados ou remetem para a impunidade, tão comum no meio político-governamental. Mas não deve se esquecer que, até meses atrás, só governou sob os bons ventos da economia internacional. Agora vivemos um momento crucial onde toda cautela é necessária e a descredibilização do governo seria um grande prejuízo. A comunidade nacional espera medidas firmes e responsáveis para enfrentar a crise, que já nos atinge. Não basta discursos otimistas ou fazer de conta que o problema ocorre só no exterior.
Nossas indústrias já sentiram a queda nas exportações de seus produtos, as bolsas e o cambio já tiraram o sono de muita gente e ainda não ocorreram as medidas profundas e efetivas de desoneração fiscal, tanto reclamadas pelos diferentes segmentos da economia. Não precisamos que o governo dê dinheiro aos bancos ou ao empresariado, mas que reduza consideravelmente os impostos que hoje oneram a produção e o mercado de trabalho. É prematura e causa preocupação a movimentação de setores governamentais, e do próprio presidente, para viabilizar a candidatura da ministra Dilma Houssef. As eleições ocorrerão somente em outubro do próximo ano. Seria uma grande perda de tempo e de eficiência político-administrativa, ter candidatos desde já.
Todos precisam trabalhar seriamente para enfrentar a crise. Cabe ao presidente, com sua inconteste liderança, impedir que querelas entre ministros e candidaturas precoces venham a atrapalhar o enfrentamento da tormenta econômica. Se não o fizer, correrá o risco de potencializar, mais uma vez, a frase atribuída ao general De Gaulle, durante a sua visita ao Brasil em 1963, de que "Este não é um país sério"... E todos nós, brasileiros, sairemos perdendo.
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).