A forma da água
A forma da água
A marginalidade torna os diferentes iguais.
Esse poderia ser o mote do filme ´A forma da Água` (´The Shape of Water`). Temos ali, em meio à Guerra Fria, na qual EUA e Rússia preferem a destruição do mundo a uma derrota, um romance improvável e lindamente filado e interpretado.
A paixão entre uma criatura fantástica meio peixe, meio homem, uma espécie de sereia ou iara masculina, e Elisa, a faxineira muda de um laboratório experimental secreto em que a ´fera` está presa. O encontro entre os diferentes possibilita uma épica fábula, onde a morte simbólica é inevitável para se ter um final feliz em uma nova dimensão.
Os personagens de apoio desse encontro - um desenhista de anúncios publicitários homossexual com o trabalho rejeitado pela utilização cada vez mais comum da fotografia; um espião russo que deseja salvar a criatura; e uma faxineira, colega de Elisa, que começa a descobrir o empoderamento feminino - completam o quadro.
A direção de Guillermo del Toro congrega a fantasia da situação com o drama do sofrimento dos protagonistas e o amor que pode tudo harmoniza. O ritmo acelerado, a delicadeza das imagens e a sincronicidade da trilha sonora envolvem e apontam para uma salvadora conclusão: a ficção pode não salvar, mas reconforta.
* Oscar D´Ambrosio é jornalista, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, Doutor em Educação, Arte e História da Cultura.