Bax está com suas flores e seus peixes
Bax está com suas flores e seus peixes
Partiu discretamente, como gostava e como viveu, cercado por suas flores e suas pinturas.
PETRÔNIO BAX foi se juntar aos seus santos, seus Cristos, às suas suaves Nossas Senhoras. Partiu o homem bom, o poeta lírico, o amigo dos peixes, da água dos mares, das lagoas, dos rios, das flores, dos girassóis, dos estranhos seres marinhos, das cores suaves do amanhecer, das cores fortes do entardecer, do azul celeste, do rosa, do verde, até do amarelo. Cores, mares, peixes, santos, não apenas nos seus quadros, mas na sua casa, nas portas, nas janelas, nos jardins do seu refúgio no Miguelão. Sempre com a sua marca, o seu talento de artista e de místico.BAX, o bom, juntou-se aos santos, partiu sem alarde, como gostava de viver, e está certamente incorporado a tudo de belo que soube sonhar nas telas e na vida. Recordo-me um dia, há muitos anos, acredito que no final dos anos oitenta, em que sua arte, suas paisagens serenas, seus peixes nos fundos dos mares, me acompanhou em pensamento ao visitar o Museu Marc Chagall, lá em Nice, que já foi Nissa romana como quase tudo o que resiste ao tempo no sul da França. Fiz o registro em um texto publicado na época. Chagall e Bax tinham muito em comum.
FIEL ao seu estilo, que não surgia forçado, mas buscado lá no fundo de sua alma, de sua formação, de seu talento puro, deixa uma obra marcada pela coerência. Nasceu assim, aperfeiçou seus traços e suas cores como aluno de mestre Guignard nos jardins do Parque Municipal, e de Franz Weissmann, e não mudou. Felizmente. Não se rendeu, como tantos outros, aos modismos. Bax é marca, é estilo, é caraterística de um ser que só fez amigos. Como aquele outro místico, holandês como os ancestrais do mineiro, talento puro não descoberto pelos que se orientam apenas por sucessos comerciais, o grande Peter Wiemers, que nunca se esquece de Bax e lá da sua Hoogwoud, um ponto perdido no mapa da Holanda, sempre dele me pede notícias.
SE PETRÔNIO Bax tivesse nascido não na sua Carmópolis de Minas, de que tanto se orgulhava, e para onde suas cinzas foram levadas, mas no Rio, ou em São Paulo, ou para lá se transferido com sua arte e seu talento, certamente seria mais conhecido, teria sua obra mais valorizada. Inimá e Nelo Nuno, que também já partiram, Chanina, Wilde Lacerda, Noêmia Motta, Selma Weissmann, felizmente bem vivos e pintando sempre, e tantos outros de sua geração ou de gerações mais novas, que preferiram também permanecer nas montanhas mineiras, não receberam o reconhecimento nacional que mereciam. Foram e são felizes na sua modéstia, na sua mineiridade. O que poderiam querer mais, indagava, quando questionado, o solitário do Miguelão.
BAX, é o consolo de sua família, de seus amigos, permanecerá nas suas telas, entre suas flores, seus peixes, seus mares, seu jardim. Para sempre.
* Fábio P. Doyle é jornalista e membro da Academia Mineira de Letras. Visite o Blog
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