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Colisão tripla

Colisão tripla

25/07/2018 Didier Saint-Georges

Os bancos centrais agora parecem estar batendo em retirada.

Após ditar o tom das principais economias do mundo desenvolvido, e especialmente dos mercados financeiros, por muitos anos, os bancos centrais agora parecem estar batendo em retirada. O Federal Reserve dos Estados Unidos, em particular, parou de injetar dinheiro no sistema e começou a drená-lo.

Essa mudança por parte dos bancos centrais tem uma importância enorme para os investidores, pois está abalando toda a estrutura do mercado construída ao longo de uma década de liquidez superabundante.

Mas também deixa espaço para outras duas forças que as políticas monetárias nada convencionais mantiveram à margem até recentemente: o ciclo de negócios e as políticas governamentais. Em relação ao primeiro, a grande alta cíclica dos dois últimos anos, atualmente prolongada pelas políticas de expansão fiscal do presidente norte-americano Donald Trump, manteve os investidores complacentes até o momento.

No entanto, o ciclo de negócios está começando a dar sinais de perda de força. Já na frente política, a economia de livre mercado globalizada nos últimos anos, que tanto impulsionou os preços de ativos, mas pouco benefício trouxe para os salários, vem motivando protestos nos EUA, na América Latina e Europa.

Em poucas palavras, o status quo da economia neoliberal é cada vez mais alvo de críticas. No ano passado, falamos dos desafios a médio prazo que o novo cenário político, não importa o quanto possa ser compreensível, impõe para os investidores.

Embora investidores pareçam estar momentaneamente concentrados nos riscos políticos apenas, o que mais ameaça revirar o mercado financeiro são as mudanças concomitantes nos âmbitos monetário, econômico e político que estão em curso.

Estamos mesmo nos encaminhando para uma guerra comercial?

“Donald Trump não deve ser visto como um herói homérico destinado a guerrear sem parar até que ele ou o seu adversário seja varrido do mapa”

O atual ataque dos EUA à fortaleza comercial da China, combinado com um fornecimento minguante de dólares, já começou a provocar baixas. O mercado de valores chinês caiu 15% desde o início do ano e o baque está irradiando para os ativos do mundo emergente e, principalmente, para as divisas.

As economias mais dependentes do financiamento do dólar no exterior foram evidentemente as que mais sofreram o impacto. A principal delas é a Argentina, cujo processo de reforma, que continua em andamento, embora sobre solos arenosos, foi praticamente arrastado por uma onda repentina de desconfiança dos investidores.

O atual governo norte-americano inclui proponentes influentes de uma ideologia que abertamente identifica a China como um inimigo estratégico, um rival a ser detido. Se o objetivo de Washington for, de fato, utilizar disputas sobre o direito aduaneiro como um estratagema para impedir que Pequim consiga implementar a sua tática Made in China 2025 (Feito na China 2025), então, nos encontramos à beira de um longo e destrutivo confronto.

O presidente Xi Jinping claramente não pretende abrir mão da sua ambição de levar a China um passo além na cadeia de valor industrial global. A taxação dos EUA sobre carros alemães recentemente anunciada também está encontrando uma forte resistência à medida que a União Europeia cerra as fileiras para se defender do ataque.

Diante disso, faz mesmo sentido ver Donald Trump como um herói homérico destinado a guerrear sem parar até que ele ou o seu adversário seja varrido do mapa? Seria razoável também argumentar que há bases políticas mais concretas e com objetivos a curto prazo para as últimas decisões do governo dos EUA.

Trump naturalmente está com a atenção voltada para as eleições de meio mandato do Congresso dos Estados Unidos, marcadas para 6 de novembro, especialmente agora que o partido republicano não aparece de nenhuma maneira na frente nas pesquisas eleitorais.

Um acordo com a China e, se possível, com a UE antes de eleições tão decisivas seria encarado como uma vitória heroica que poderia muito bem tirar votos dos democratas. Isso significa que os investidores que desejam desenvolver uma estratégia de investimento saudável não deveriam excluir a possibilidade de um desfecho racional para este assunto.

Uma combinação de crescimento econômico vibrante nos EUA com uma aversão generalizada ao risco, além da inabalável posição do Federal Reserve, atualmente baliza o comportamento oscilante do dólar, mas isso poderia mudar na medida em que o ciclo de negócios sofrer uma inversão.

E, conforme diminui a probabilidade de que o pior cenário possível se concretize, é possível até começar a visualizar oportunidades atrativas de compra de ativos de alta qualidade dos mercados emergentes.

A curto prazo, a necessidade de preservar o capital dos clientes em todos os cenários justifica a grande cautela, mas os gerentes de ativos também precisarão mostrar flexibilidade e capacidade de resposta, visto que não há garantias de que o pior não venha a acontecer.

A zona do euro está condenada?

“O verdadeiro risco para os mercados financeiros da Europa ainda reside em uma fase contraditória do ciclo de negócios, visto que os estabilizadores monetários já estão esgotados e os fiscais mostram-se absolutamente inadequados devido à falta de reformas”

Há uma oposição crescente à estrutura da zona do euro, que frequentemente é chamada de ineficiente, rígida, burocrática, injusta e até mesmo antidemocrática. Mas esse sentimento tem mais a ver com as deficiências do bloco econômico e não tanto com a sua existência em si.

Aqueles que costumam se apavorar sempre que uma corrente política evoca vagamente a necessidade de abandonar o euro não se dão conta de um ponto crucial: a opinião pública em toda a zona do euro já percebeu o quanto sairia proibitivamente caro para qualquer membro voltar para a sua moeda nacional.

Certo ou errado, o euro é “irreversível”, como Mario Draghi observou recentemente. No entanto, há uma necessidade urgente de reformar as maneiras como a UE opera. Caso contrário, podemos esperar que, cedo ou tarde, os terremotos recorrentes derrubem toda a estrutura. O presidente francês Emmanuel Macron tem total consciência disso, bem como Angela Merkel, que poderia utilizar o seu último mandato como chanceler da Alemanha para promover as tão necessárias reformas.

Por exemplo, ela poderia consolidar a sua coalizão de governo ao redor de um plano de reforma tributária que pudesse se aproveitar da ampla margem fiscal de sua administração para impulsionar a economia. Ao evidenciar tal tipo de liderança política, Angela Merkel ofereceria uma resposta crível para uma desaceleração econômica já visível.

A Alemanha também ampliaria a sua estatura enquanto locomotiva do crescimento europeu, em vez de insistir em seu papel de vigilante do cumprimento dos critérios macroeconômicos estabelecidos pelo Tratado de Maastricht por parte dos estados membros. Uma vez que o CSU, o parceiro de coalizão mais conservador do CDU, receber a garantia adequada de que as suas preocupações com a imigração serão atendidas, certamente concordaria com um programa de redução fiscal.

É possível afirmar que um dos erros mais comuns dos gurus do mundo anglo-saxão é que, cada vez que uma crise desponta na Europa, eles subestimam a determinação política que pode ser reunida para garantir a sobrevivência da zona do euro.

No nosso ponto de vista, o verdadeiro risco a curto prazo virá de uma fase contraditória no ciclo de negócios, visto que os estabilizadores monetários estão esgotados e os fiscais se mostram absolutamente inadequados devido à falta de reformas. O protecionismo ameaça gerar muita ansiedade no mundo dos negócios europeu, o que é compreensível. Mas o mesmo vale para os Estados Unidos, onde executivos de empresas começam a indicar ao governo Trump a escala dos riscos envolvidos.

Ironicamente, no entanto, como o protecionismo de Trump terá pouco impacto direto e imediato sobre a economia dos EUA, é muito mais provável que ele mantenha a sua postura intransigente por enquanto. O resultado é que a política se tornou o foco primário de preocupação dos investidores, tornando as perspectivas bastante imprevisíveis e requerendo uma cautela considerável.

Mas os políticos deverão ter, no final das contas, suficiente bom senso para nos levar rumo a concessões benignas. Acreditamos que o verdadeiro risco que os mercados financeiros enfrentam é mais complexo e, portanto, menos compreendido a curto prazo pelos investidores. Consiste em uma possível colisão tripla: políticas econômicas desestabilizadoras, uma desaceleração econômica cíclica e bancos centrais com pouca margem para intervenção, tudo de uma vez só.

* Didier Saint-Georges é Diretor Executivo e Membro do Comitê de Investimento.

Fonte: PLANIN – Assessoria de Imprensa da Carmignac



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