Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O agronegócio e a reforma tributária

O agronegócio e a reforma tributária

28/07/2023 Angelo Ambrizzi

A reforma tributária tem um grande objetivo central, que é a simplificação da legislação e da sistemática de apuração dos tributos, encerrando um ciclo caótico de leis numerosas e complexas, além de muitas vezes contraditórias.

Um ponto-chave é a criação do imposto de valor agregado em cada operação na cadeia de produção, o que afastará definitivamente a tributação em cascata.

Segundo o Tesouro Nacional, a carga tributária foi superior a 33% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, sendo 13,4% correspondentes a impostos e contribuições sobre o consumo, o que equivale a quase 40% do total.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) aprovada na Câmara dos Deputados unificou cinco tributos em dois novos.

O Programa de Integração Social (PIS), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foram agrupados na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).

Já o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) e o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) serão transformados no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

Além desses dois tributos foi criado um terceiro, o Imposto Seletivo, que será utilizado para aumentar a tributação dos bens e serviços prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Aqui temos um ponto de alerta para o agronegócio.

É possível haver majoração de carga tributária se defensivos agrícolas forem considerados prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente. Caso esse aumento aconteça, o custo dos insumos será afetado de forma direta.

A tributação seletiva também poderá incidir sobre veículos e maquinários de potencial poluente utilizados pelo setor agrícola, o que, além de aumentar os custos do processo produtivo, impacta a tomada de decisões sobre a modernização da atividade desempenhada.

Com relação aos índices, para o IBS e CBS há previsão de uma única alíquota de referência para todo o território nacional.

Para alguns bens e serviços, como saúde, educação e transporte, poderá ser reduzida em 60%. Medicamentos e programas especiais poderão ter diminuição de 100%.

Para o agronegócio, a redução total ou parcial da alíquota de referência de alguns produtos ou serviços é de vital importância para a manutenção ou diminuição da carga tributária atual.

A alíquota de referência deve ser definida por lei depois que a reforma for aprovada. Tal fato gera insegurança jurídica e econômica, tendo em vista que até lá é impossível saber qual carga tributária será implementada.

Os pontos positivos da reforma são os seguintes: as empresas se creditarão da totalidade dos valores de tributos pagos na cadeia anterior; a incidência será por fora, afastando a sistemática de apuração atual que permite que o fisco exija o cálculo do imposto por dentro (imposto incidindo sobre ele mesmo; o recolhimento do tributo será no destino dos serviços ou das mercadorias; e não haverá a cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores [IPVA] sobre implementos agrícolas).

O produtor rural, pessoa física com receita de até R$ 3,6 milhões, terá a opção de escolher se quer ou não ser tributado. Se não quiser, a aquisição de insumos não gerará direito ao crédito, e suas vendas não serão tributadas.

Nesse caso, os adquirentes de insumos do produtor rural não contribuinte terão um crédito presumido, cujo percentual será definido.

Para o produtor rural que escolher ser contribuinte se mantém a sistemática de tomada de crédito dos insumos e venda tributada.

Esses fatores ajudarão o agronegócio, por simplificar os trâmites e reduzir o custo burocrático associado a esses procedimentos.

No entanto, existem pontos de atenção e fatores preocupantes que podem afetar de forma negativa o agronegócio. A proposta determina que a arrecadação seja feita pelo governo federal.

Isso causou indignação nos Estados e municípios, que perderão tanto a gestão dos recursos públicos quanto a força política.

A forma de arrecadação proposta ainda retira dos Estados e municípios a capacidade de legislar localmente e considerar características regionais e peculiaridades econômicas.

Além disso, está previsto o fim das isenções fiscais para o setor agropecuário. Assim, será necessário aguardar as novas bases de arrecadação aplicadas ao setor para entender se a redução da alíquota referencial para bens e serviços do agro manterá ou não a carga tributária nos mesmos padrões.

Não se descarta o aumento da carga tributária para o agronegócio, pois, historicamente, é um setor beneficiado por incentivos significativos.

Além disso, o deslocamento de parte da carga tributária do setor industrial para os setores de comércio e de prestação de serviços pode levar a esse cenário, o que pressionará ainda mais as margens de lucro do setor, impactando a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros no mercado global.

Embora as mudanças prometam simplificar o sistema e garantir uma distribuição mais justa da carga tributária, os impactos potenciais para o setor do agronegócio são uma fonte de imensa e contínua preocupação.

O diálogo entre o setor agrícola e o governo é crucial para garantir que as necessidades desse importante segmento econômico sejam consideradas e atendidas.

* Ângelo Ambrizzi é head de Direito Tributário do Marcos Martins Advogados.

Para mais informações sobre reforma tributária clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Fonte: Brain Story



Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena


O choque Executivo-Legislativo

O Congresso Nacional – reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados – vai analisar nesta quarta-feira (24/04), a partir das 19 horas, os 32 vetos pendentes a leis que deputados e senadores criaram ou modificaram e não receberam a concordância do Presidente da República.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves