Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Opção

Opção

08/12/2022 Antônio Marcos Ferreira

Esta é, talvez, uma cena que se repete a cada dia. Não é novidade, nem tampouco extraordinária.

Mas acontece sempre que se deparam dois mundos diferentes. Como o caso do Felipe, diretor de empresas e dono de indústrias, e João, lavrador e dono de pobrezas.

O sol estava alto naquela segunda feira. Uma segunda feira como as outras. Apenas uma a mais para João. O domingo passara despercebido.

A Vila vivia mais um dia de indiferença. Apenas um bom dia ou boa tarde que já escapavam por instinto ou por hábito. Mas sempre escapavam.

Cada um se sacrificava por uma mesquinha sobrevivência. Precisaria de mais suor para não ver minguar o pão, que não era de cada dia. Podia-se medir seu sofrimento pela rudeza do olhar ou pelo calejar das mãos.

Cidade Grande. Ninho de arranha-céus. O sol também é forte, mas morre no teto da casa luxuosa ou do carro último tipo.

É segunda feira. Uma segunda de expectativa, de negócios, de lembranças das delícias vividas no domingo que passou.

Sete horas da manhã. Há uma hora a enxada fere, não por ódio, uma terra que é tudo. Há uma hora o pensamento vagueia entre o próximo inverno, o rancho que deixara e o pão que não comera.

As sete horas não são vistas por Felipe. Até agora um pensamento menos otimista é abafado pela delícia de uma coberta, estendida na cama macia.

Em fração de segundos sua imaginação voa da América ao Oriente, realiza negócios vultosos, e quase sempre é interrompida pelo abraço rico da companheira.

Eu queria ser Felipe agora. Enxada pra cima, suor para o chão... Caneta na mão, uma assinatura, um negócio. Um uísque para comemorar... Uma semente na terra, o próximo inverno, o pão... A ordem de sempre, o prazer de ser obedecido.

O dia avança, o sol já queima por cima indicando meio dia. Uma enxada marcha acostumada ao ombro já marcado. Vai atrás de um feijão tropeiro, um copo de água, um abraço.

Nesse momento, na bancada do automóvel que desliza, Felipe planeja o próximo contrato, o destino da empresa, a viagem esperada. Uma mansão, mistura de pratos e garçons. Champagne para brindar.

Há uma hora João saíra de casa com o mesmo destino das seis da manhã. Há uma hora, o mesmo rítmo, o mesmo pensamento.

O mesmo descanso de Felipe. O estômago comanda o corpo na rejeição do trabalho a esta hora. Mais planos. Abraços ricos. Não teria os mesmos pensamentos. Seriam sempre novos e mais amplos.

O sol começa a abandonar a Vila e, talvez por questão de justiça, abandona também a cidade grande. Começa aqui uma vida diferente, mais ousada que a de horas atrás.

Isso para Felipe, pois João já está no rancho e a enxada no canto da única sala. Já engolira o pouco que ficou do almoço mal comido.

Mas o carro desliza novamente. Apenas seu destino não se repete. Hoje, a reunião dos amigos, a festa do clube amanhã. Depois haveria algo diferente, na certa.

Meia noite. Há três horas João dorme profundamente. Ele não sabe que é meia noite. Mas o cuca da mansão deu as doze badaladas. João se esqueceu dos calos, não lhe doem os ombros.

Felipe está na cama. Não dormiu. Começa a pensar no próximo título a vencer. No negócio que desandou. Lembra-se da compra que não deu lucro.

João dorme e não sente a falta do colchão da cama dura.

O título, o prejuízo, o imposto... As horas passam... O sono tranquilo. A duplicata...

Perdoe-me. Fique você sendo Felipe. Eu agora sou João.

* Antônio Marcos Ferreira

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!



Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena