Poderes, é preciso ouvir o povo
Poderes, é preciso ouvir o povo
A pesquisa Ibope divulgada no domingo diz que 96% dos participantes das manifestações não são filiados a partidos políticos.
Na mesma pesquisa, 89% não se sentem representados pelos partidos e 83% não tem os políticos como seus representantes, é uma tendência que merece muita reflexão.
Chegamos, sem dúvida, a um dos mais baixos índices de prestígio dos gestores das instituições e da classe política, que tanto se vangloriam de terem conquistado a volta da democracia no país. O povo, sentindo-se órfão, diante de descarados desmandos da corrupção e outros males, redescobriu sua força através das passeatas e da reivindicação pacífica (por enquanto). Tanto que a presidente da República chamou os governadores e prefeitos para a imediata elaboração de um pacto que, com transparência, atenda ou pelo menos encaminhe os problemas reclamados pela massa.
É importante que, além dos transportes coletivos, encontrem soluções urgentes para a Saúde e a Educação, de forma a evitar que cidadãos continuem morrendo sem atendimento na porta dos hospitais e que crianças permaneçam sem a escola que lhe é de direito. As ruas aguardam, com ansiedade, por medidas concretas contra a corrupção e a justa punição dos corruptos em todos os níveis, inclusive a cassação e prisão dos condenados do mensalão. Não abrem mão da segurança pública para que todos tenham o direito de ir-e-vir sem o risco (hoje quase certeza) de serem assaltados, seqüestrados ou mortos por criminosos que, quando presos, logo ganham as ruas novamente e voltam a atacar.
O atual estado de coisas mostra o total divórcio dos governos eleitoreiros e da discutida classe política em relação aos eleitores e à sociedade. Os governantes, fechados em seus gabinetes, governam para o próprio umbigo e tentam convencer a população através da propaganda massiva, incondizente com a realidade. Parece até que falam das maravilhas de outro país! Os políticos, que deveriam representar o eleitor, ocupam-se mais com o poder os próprios interesses, formação de bases parlamentares, conquista e barganha de cargos públicos e outras benesses, ignorando o interesse do povo que os elegeu e deixando projetos importantes engavetados por anos a fio. Não é de se estranhar que agora, que descobriu a própria força, o povo dê seu troco.
Mesmo com a reação da presidente e dos demais governantes, ainda é difícil prever até onde irão as manifestações que cobrem o território nacional. Os governos, partidos e os políticos precisam correr contra o tempo e irem de encontro ao povo, fazendo aquilo que sempre deveriam ter feito: ouvi-lo. E, além de ouvir, buscar com toda sinceridade e empenho a solução dos problemas. Só assim poderão reconquistar pelo menos parte do prestígio perdido e promover a paz social e a própria democracia.
De nada adiantará a repressão aos movimentos. Há que se compreender que as polícias só devem ser empregadas para o combate ao vandalismo e às infiltrações radicais nos movimento. Jamais contra os manifestantes que pacificamente fazem suas reivindicações. Estes, pelo contrário, devem ter sua integridade garantida...
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)