Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Cachoeira taciturna

Cachoeira taciturna

24/05/2012 Helder Caldeira

“O silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo”

No mais íntimo de cada cidadão sério e politicamente consciente existia a ilusão que o bicheiro Carlinhos Cachoeira compareceria à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito disposto a reprisar o teatro de chicotes do ex-deputado Roberto Jefferson em 2005. 

Em primeiro momento, seu silêncio ganhou dos veículos de comunicação a frustrante e apressada classificação de teatro de moscas.
Naquela tarde de terça-feira, 22 de maio de 2012, diante de deputados, senadores e da opinião pública, o contraventor fez valer seu patrimônio jurídico. Por óbvio, fê-lo balizado por seu excelentíssimo advogado de defesa Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro de Estado da Justiça do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Constitucionalmente, o bicheiro tem o direito de não gerar provas contra si, para desgosto de uma nação que ainda espera ver as verdadeiras entranhas desse escândalo continental.
Ouso discordar do depoente e de seu ilustre advogado. Por mais que o silêncio possa ser utilizado como supremo direito, neste caso o calar de Carlinhos Cachoeira (e de todos os demais convocados pela CPMI) configura a mais retumbante confissão. Não por acaso, conforme os mais conceituados dicionários de língua portuguesa, calar também significa penetrar. O bicheiro não apenas ficou calado. Fez cala no escândalo. A fiança do silêncio foi-lhe a guilhotina.
No século XVII, o duque francês François de La Rochefoucauld asseverou com maestria: “O silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo”. Não há mais dúvidas de que o crime organizado deixou as sombras e se instalou confortavelmente à luz dos corredores palacianos de poder. Poder implica disputa. Disputa por poder quase sempre leva à traição. Visivelmente abatido, mas sempre sorridente, Carlinhos Cachoeira foi silenciado por sua própria consciência dos vastos crimes cometidos e pela certeza de não poder confiar em seus cúmplices.
Não existe cachoeira taciturna. Até os títeres de advogados badalados, cometem o gravíssimo crime de perjúrio. Aos que acreditam que o bico fechado do bicheiro possa tê-lo ajudado, ou a seus confrades, está muito enganado. Em amplo sentido, o silêncio do depoente capitula mais uma página da degradação das instituições brasileiras que, de tão corroídas, mais cedo ou mais tarde irão desabar.
Quando a casa cair – e ela cairá! – irá esmagar os cupins, ratazanas, baratas e todos os insetos parasitários que infestam os três Poderes. Nesse dia, quem silenciou vai se arrepender. Mas será tarde demais. Até porque, ao guardar silêncio diante da ética e da honestidade já terá sido bastante eloquente. Reitero: não há cachoeira taciturna.
Política é um processo dinâmico. Democracia é uma construção perseverante. Especialmente nesta nova era digital esses conceitos ganham a amplitude e a liberdade promovidas pela explosão horizontal da informação, que faculta às consciências o veredicto de seu tempo. Essa é a estrada da qual ninguém escapará. O silêncio de culpados e inocentes é, tão somente, uma escolha anacrônica da velocidade com que se caminha.

* Helder Caldeira (foto) é Escritor, Jornalista a Apresentador de TV



Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra