Com medo da prova? Saiba usá-lo a seu favor!
Com medo da prova? Saiba usá-lo a seu favor!
Todas as formas de ansiedade têm como nascente o medo. Isto não é ruim. O medo é uma emoção fundamental para a nossa sobrevivência.
Quem não teve medo deixou seus genes na boca de um predador. Um experimento que gosto de citar consiste em desenhar um quadrado de um metro de lado no chão e pedir para que um grupo de pessoas - cada uma em um quadrado - fique trinta minutos dentro dos limites dos riscos.
Podem fazer qualquer coisa: dançar, pular, dormir enfim, o "que der na telha". A única proibição é pisar nas linhas. Após esse período, coloca-se em cada participante um óculos de realidade virtual que simula o mesmo metro quadrado como sendo o topo de um pilar com altura equivalente a um prédio de vinte andares. Nessa situação, vários participantes ajoelharam-se - o que é ótimo! Só faltava ficarem pulando em um momento desses... Entretanto, um grupo de pessoas cai.
O medo derruba esses indivíduos. No primeiro caso, temos o medo - e por extensão a ansiedade - como emoção protetora. No segundo, o excesso de ansiedade derrubou os participantes. É a primeira forma de ansiedade que temos que perseguir nesse período de provas: a ansiedade protetora e normal. Mas como reconhecer o que é normal e anormal durante as provas? Imagine-se no ambiente da prova. Você está sentado olhando sua identificação que está colada em sua mesa, aguardando a chegada da prova.
Seu coração está um pouco acelerado e há uma sensação de inquietação... Isso é normal! De repente alguém entra com a pilha de provas na sala. Você não consegue desgrudar os olhos dela. Seu coração acelera mais ainda. As mãos estão um pouco suadas e a boca parece estar um pouco seca... Isso é normal!
As provas são distribuídas. Quando a prova é colocada na sua frente, parece que o mundo silencia. Isso é normal! Até que chega o fatídico: "Podem abrir as provas!". Nesse momento, o coração dispara, a mão sua, a boca seca, o mundo silencia... Isso é normal!
Você abre e imediatamente, ao avistar um desenho, se desespera: "Ai meu Deus, caiu mapa!!". Isso NÃO é normal! É obvio que cairão mapas! Respire. Respeite a prova, mas não a transforme em um filme de terror. A ansiedade deve ser convertida em concentração. E pode esperar "jogo duro".
Haverá questões que você não conseguirá resolver. Façamos algumas contas: em um vestibular de 100 questões, quem faz 75 pontos é quase que certo que passa para qualquer que seja a carreira. Você acha que quem acerta 75 questões de um total de 100 sabe as 75 questões? É obvio que não! Algumas foram "no chute". Quantas? Pensemos assim: em pelo menos 25 questões esse aluno teve alguma dificuldade (ele errou 25 questões!).
Dessa forma, considerando de modo bem simplista que foram chutadas cerca de 25 questões entre cinco prováveis alternativas, esse candidato acertou no chute por volta de 5 questões (20%). Logo, das 75 acertadas, imaginemos 70 feitas com segurança. Houve problemas em pelo menos 30 delas! Guarde esse número. Voltemos ao cenário da prova. Você respirou e iniciou a resolução. A primeira e a segunda questão você conseguiu resolver sem grandes dificuldades.
Na terceira você não tem a menor ideia de como resolvê-la. Inicia-se a autoflagelação: "Isso não pode acontecer!!". Na quarta questão a história se repete: "Eu não estou acreditando, isso é um pesadelo. Não é possível questões tão difíceis!". A quinta questão traz certo alívio, você consegue resolver. Na sexta você olha e se desespera: "Eu sabia que isso iria acontecer, vou ter que fazer cursinho de novo. O que vou falar para o meus pais?!”.
Você jamais pode assumir essa postura. Eu exemplifiquei 3 situações difíceis, lembre-se: quem consegue a vaga fase viveu isso, pelo menos, 30 vezes! Isso é normal! Não podemos idealizar que não enfrentaremos situações complicadas durante a prova. É certo que elas ocorrerão. Ter isso em mente não gera frustrações e traz alívio.
Portanto, não exija a perfeição de si mesmo. Ela é inatingível. E não tenha medo de ficar ansioso na prova, pois se o que gera a ansiedade é o medo, ter medo de ficar ansioso só aumentará a ansiedade. Aí sim, essa necessária emoção que tem a função de ajudar pode te derrubar. Boa prova!
*Celso Lopes de Souza é médico graduado pela Universidade Federal de São Paulo com Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Além de psiquiatra atuante, é autor e professor do curso Anglo na disciplina de Química.