Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Viagens – O Tempo Problematizado

Viagens – O Tempo Problematizado

21/06/2014 Guido Bilharinho

A criatividade artística humana constitui processo contínuo e surpreendente. Centenas ou milhares de obras (musicais, literárias, cinematográficas e plásticas) surgem constantemente, de variados graus de qualidade estética, temas e ângulos de abordagem.

Muitas mais poderiam aparecer se fossem dadas iguais oportunidades de existência e atuação a todos os indivíduos e, ainda, se a sociedade estivesse estruturada de maneira diversa e valorizasse o saber, o conhecimento e a arte. Um dos filmes de estreia consistentes é Viagens (Voyages, França, 1999), de Emmanuel Finkiel. Diferentemente dos produtos comerciais, não foi realizado para diversão e passatempo. Como filme autoral, representa ponto de vista do cineasta sobre a problemática humana em duas de suas mais dolorosas manifestações, reunidas para expressar-lhes as peculiaridades.

No caso, o cineasta enfoca simultânea e principalmente a monstruosidade do holocausto judeu pelos nazistas e a dor permanente das vítimas diretas e indiretas. As personagens são judeus que perderam os seres mais queridos na referida voragem assassina, desde pais a irmãos. Nada mais pavoroso, por exemplo, para uma criança, do que ela e sua família serem arrancadas do lar e levadas em comboios ferroviários como gado humano a caminho do desconhecido, completamente a mercê de tirânicos e armados carrascos, que depois ainda as separam, em geral para sempre.

Se a criança sobrevive, resta marcada permanentemente pela tristeza, a amargura, a perda das alegrias e ilusões infantis e o encontro (e conhecimento) da crueldade humana. É algo incompreensível e inatingível para quem não passou por tragédia análoga. O cineasta consegue plasmar essa mágoa cristalizada pelo tempo e guardada no fundo do ser como num crisol, que não permite seja esquecida ou superada. Constitui cicatriz moral e emocional inapagável e insuscetível de remoção.

Para fixar semelhante drama, Finkiel cria três situações protagonizadas por mulheres vitimadas pela sanha assassina dos nazistas, seja numa visita a campo de concentração, cemitério e gueto judeu na Polônia, seja no ressurgimento de pretenso pai de outra delas após décadas de desaparecimento, seja na chegada de uma terceira a Israel. Em cada uma dessas ocorrências expõe, não visão turística na primeira, regozijo na segunda ou, na terceira, jubiloso encontro com a terra sagrada dos judeus.

O que focaliza é o conteúdo real do sentimento de cada uma delas submetido ao fluxo contínuo da vida que liga passado e presente, ambos problematizados. Num caso, a dor da lembrança e o relacionamento do casal, no outro a estranheza e a dúvida sobre a identidade do desconhecido e, finalmente, a realidade de Israel, que faz a personagem considerar seus habitantes não mais como judeus, mas, israelenses. A condução cinematográfica dos dois primeiros casos é efetivada de maneira que a dor e a angústia apresentam-se tão entranhadas nos seres humanos quanto expostas nos vincos das faces.

Já no último, o que se mostra é a tenacidade dos judeus frente às dificuldades e ao desamparo, nunca sendo tomados de desespero e exasperação, características muitas (ou todas às) vezes encontradas nos povos jovens que não sofreram. Se há filmes aventurosos, alegres, exuberantes e outros tantos, Viagens é a tristeza filmada como reflexo direto da silenciosa melancolia das personagens, ao fixar a verdade humana, seu conteúdo e significado e não a mera aparência.

Nos interstícios e refolhos do tema central ainda revela particularidades do convívio humano em situações diversas, desde as relações conjugais até a solidariedade humana, além da distância, no tempo e nos costumes, do passado sepultado em cemitério polonês e a trepidante e convulsionada vida da Israel moderna, cujas origens, fundamentos e atuação devem ser motivo de questionamento e não apenas de adesão ou oposição apaixonadas e incondicionais. Aliás, os aspectos do país mostrados no filme pautam-se pela objetividade e isenção, outro dos atributos do filme.

*Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional, entre eles, Brasil: Cinco Séculos de História, inédito.



Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula