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Ascensão financeira

Ascensão financeira

30/10/2014 João César de Melo

Tenho um cliente que veio para São Paulo há 20 anos sem nenhum tostão no bolso. Deixou a pobreza do nordeste com nada além de vontade de trabalhar. Trabalhou. Esquivando-se de incontáveis oportunidades de aderir ao crime, forçou passagem pelo estreito caminho da honestidade. Passou inúmeras dificuldades até começar a trabalhar em restaurantes, primeiro limpando chão, depois como assistente de cozinha...

Hoje, ele tem três restaurantes e paga salários para 29 pessoas. Ajudou seus 11 irmãos a construírem suas vidas. Mesmo com tantas responsabilidades, ele não consegue separar para si uma renda média acima de 5 mil reais. Seu carro é um gol usado. Sua casa é uma gambiarra feita em cima de um de seus restaurantes. Só teve três semanas de férias em toda sua vida. Quase sempre está vestido como um molambo. Vejamos, então, um breve resumo da ascensão financeira de representantes dos trabalhadores.

Jair Meneguelli: De torneiro mecânico a Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, hoje Presidente do Conselho Nacional do Sesi, com um salário de 45 mil reais. Heiguiberto Navarro: De Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a assessor do Secretário Nacional de Estudos e Políticas da Presidência da República, com um salário de 16 mil reais. João Vacari Neto: De bancário a Presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, hoje é membro do Conselho Nacional de Itaipu, recebendo 26 mil reais por mês. Paulo Okamoto: De tesoureiro da CUT à Presidente do SEBRAE, com salário de 29 mil reais.

Luis Marinho: De pintor de veículos a Presidente da CUT, agora é Ministro da Previdência Social, com salário de quase 29 mil reais. Wilson Santarosa: De operador de transferência e estocagem a Presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas, agora é gerente de comunicação da Petrobrás e membro do Conselho Deliberativo da Petros, recebendo 39 mil reais. João Antonio Felício: De Professor de Desenho e História da Arte a presidente da CUT e membro do conselho do BNDES, recebendo 24 mil reais por cada reunião da qual participa. Sergio Rosa: De escriturário a Presidente da Confederação Nacional dos Bancários, hoje presidindo o Fundo de Previdência do Banco do Brasil, com um salário de 27 mil reais.

José Eduardo Dutra: De geólogo a Presidente do Sindiminas de Sergipe, atual Sindipetro. Hoje, é Presidente da BR Distribuidora, com um salário de 44 mil reais. A todos esses salários, devemos acrescentar ainda os benefícios, as pensões e as “ajudas de custo” de todos os tipos. Poderíamos preencher dezenas de páginas com nomes de “companheiros” que alcançaram excelentes salários por meio do sindicalismo – lembrando que no Brasil existem 14 mil sindicatos! A ascensão financeira do maior líder da esquerda brasileira, Luís Inácio Lula da Silva, renderia um livro.

Poderíamos também desenhar uma gigantesca rede com os caminhos que os políticos fazem entre os diversos cargos de 1° escalão do governo que ocupam sem qualquer qualificação técnica, ou tentar descrever a batalha entre os partidos pelo controle dos Ministérios em função do orçamento de cada um deles. Poderíamos de muitas formas demonstrar como o país desperdiça dinheiro, tempo e democracia, mas sempre acabaríamos chegando á uma única conclusão: vivemos imersos num completo absurdo político e institucional. Vivemos numa república sindical.

Um empresário obtêm seu lucro em função da eficiência com a qual administra seu negócio. E um sindicalista? Quantos por cento dos trabalhadores acreditam que o sindicato trabalha em função das demandas de cada categoria? É de se lamentar profundamente a realidade de que as profissões mais promissoras dos Brasil sejam o ativismo ideológico, o sindicalismo ou apenas a estampa socialista. A fórmula do sucesso: Organizar greves e manifestações, criar e propagar mentiras sobre adversários, incitar o ódio entre classes e raças, articular todo tipo de mutreta, exercer a mais nauseante demagogia em prol da espoliação do potencial econômico, social e cultural de todo um país.

Obviamente que, no Brasil, todos os partidos fazem uso privado da máquina estatal quando podem, mas é inquestionável a escala descomunal com que o PT faz isso, pelas razões já exploradas noutros textos. Depois de digitar no Google qualquer nome de membros do PT que ocupam altos cargos no governo ou em fundos de pensão de estatais, basta-nos digitar também a palavra “acusado” para que tenhamos à frente uma lista de escândalos de corrupção ou de uso indevido de dinheiro público, comprovando o que deve ser o mais alto grau de reincidência criminal do planeta. Que sociedade é esta que aceita com tanta complacência este processo de ascensão financeira por meio da política?

Pior: aceita também as discriminações e satanizações promovidas contra os cidadãos comuns que conquistam o sucesso financeiro trabalhando duro. Qualquer ostentação pode lhes custar agressões, rotulações e até acusações de desonestidade, já que parece que em cada esquina há pelo menos um militante de esquerda à caça de seus demônios. Nem falo das grandes fortunas construídas do zero, que geram centenas de milhares de empregos e incontáveis outros benefícios públicos.

Falo dos tantos e anônimos indivíduos que lutam diariamente para conquistar ou manter o conforto mantendo micro ou pequenas empresas. Enquanto os “companheiros” mais fiéis viajam em jatinhos executivos, hospedam-se nos melhores hotéis, comem nos restaurantes mais caros, tratam-se nos mais confiáveis hospitais particulares e são defendidos pelos mais respeitados advogados do país à custa do dinheiro público, qualquer empresário que esbanje uma casa, um iate ou um carro de luxo que comprou com o dinheiro do seu próprio trabalho é taxado pejorativamente de “elite capitalista” – se criticar o governo, também o acusam de “golpista”.

Enquanto os militantes beneficiados com cargos no governo gozam das maiores liberdades para fazer o que bem quiserem com o dinheiro público, sobre as costas dos empreendedores são jogadas montanhas de impostos, encargos e taxas. Enquanto todo e qualquer desvio de comportamento de um político é relevável, todo e qualquer empreendedor sente, todos os dias, a faca estatal lhe ameaçando cortar o pescoço caso ele, por exemplo, não pague algum imposto. Brasil: o país onde o engajamento ideológico vale mais do que o talento, do que o esforço e do que perseverança, juntos.

*João Cesar de Melo é Arquiteto, Artista plástico, escritor do livro “Natureza Capital” e especialista do Instituto Liberal.



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