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Tempos Modernos

Tempos Modernos

26/01/2015 Guido Bilharinho

Os filmes de Chaplin costumam agradar. Aí mora o perigo. Aí reside a fraqueza.

Tempos Modernos (Moderns Times, EE.UU.), de 1936, mas, ainda propositadamente mudo, não foge à regra, já que estruturado no mesmo esquema ficcional (e funcional) dos demais. Convencional e linear, calcado e submetido à narrativa de uma estória caracterizada por romantização da realidade, mesmo que, como é notoriamente o caso, marcada por laivos sociais e políticos. Nada, no entanto, original, visto que a ambientação, controle interno e a desumanidade capitalista mais ou menos naqueles termos já se encontram em Metropolis (Idem, Alemanha, 1926), de Fritz Lang.

O drama das órfãs, com semelhante conotação romântica, já se acha em Órfãs da Tempestade (Orphans of the Storm, EE.UU., 1921), de Griffith. É bem verdade que Chaplin infunde a tais temas características próprias. Nem seria para menos, tratando-se de quem se trata. Tanto esse quanto seus demais filmes longos padecem, pois, de iguais limitações. Neles destacam-se, porém, para além de toda influência e restrições, a personagem Carlitos e diversos episódios memoráveis.

No caso de Tempos Modernos salientam-se as cenas da linha de montagem e as circunvoluções de Carlitos dentro da estrutura da instalação industrial. Tudo o mais no recinto da fábrica (os episódios de seu destempero e da máquina de alimentação, por exemplo) é anódino e dispensável. Na prisão, quando no refeitório, sobressai a alteração comportamental provocada pela ingestão de droga. No mais, esplêndida sua performance como cantor no restaurante. Um dos pontos altos (se não o mais) de sua atuação artística, já que normalmente apresenta-se como ator.

Outra sequência notável transcorre na “casa” encontrada pela protagonista. Tudo aí, desde gestos e atitudes das personagens e até as situações e o décor, perfaz um dos grandes instantes ficcionais já formulados e executados. Além disso, entre outros rápidos momentos relevantes, a cena de Carlitos empunhando a bandeira vermelha e acidentalmente postando-se à frente de passeata sindical, a par refletir a situação social do país na época, é acentuadamente crítica.

Num filme marcado pela preocupação social (os Estados Unidos ressentiam-se ainda fortemente das consequências do crack da bolsa de 1929 com desemprego, falências e fome), as cenas que enfocam as dificuldades operárias, suas passeatas e greves, são bem arquitetadas política e artisticamente. Fruto da dureza dos tempos, até a protagonista (Paulette Goddard) apresenta-se destituída da melosidade romântica que tisna suas congêneres dos filmes anteriores. É dura, decidida, “sem perda, no entanto, da ternura”. E também da beleza, uma das características mais perceptíveis das heroínas chaplinianas.

No caso, sua extrema valorização imagética, por força da (falta de) maquiagem e dos enquadramentos visuais, realça-se no filme. Em suma, mesmo não se distinguindo Tempos Modernos como cinema, seus melhores momentos o colocam na ápice das construções ficcionais, como aliás, malgrado tudo, muitos outros lances da obra de Chaplin. Não se deve, no entanto, confundir cinema propriamente dito com ideação, elaboração e condução do enredo e suas particularidades, mesmo qualificadas.

Conquanto o cinema as veicule, essa circunstância não constitui sua prerrogativa nem lhe exige especificidade, já que podem expressar-se por outros meios, como o teatro. O cinema apenas lhes dá mais espaço e mais recursos e possibilidades, ampliando-lhes os efeitos (e a importância).

Não é outro, aliás, o entendimento de Paulo Emílio Sales Gomes: “hoje, mais do que nunca, estou convencido de que cinema é uma coisa e Chaplin outra [....] Chaplin é sensível e inteligente mas frágil no terreno propriamente intelectual [....] O instrumental cinematográfico teve apenas a função de criar boas condições de visibilidade para o gesto de Chaplin e assegurar materialmente sua difusão e permanência” (“Chaplin é Cinema?”, in Crítica de Cinema no Suplemento Literário. Vol. 2. Rio de Janeiro, editora Paz e Terra / Embrafilme, 1981, p. 449, 451 e 454). (do livro Clássicos do Cinema Mudo. Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2003)

*Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional, entre eles, o recém-lançado Personalidades Uberabenses, com 600 páginas e 55 biografias.



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