Portal O Debate
Grupo WhatsApp

As Lições do Suicídio de Getúlio Vargas

As Lições do Suicídio de Getúlio Vargas

19/08/2016 Daniel Medeiros

Na manhã daquela terça-feira, 24 de agosto, o país era sacudido pela notícia do suicídio de Getúlio Vargas.

Ato final, trágico e desconcertante, de uma trama que contou com um coro golpista capitaneado pela UDN e por seu líder, o “corvo” Carlos Lacerda, e pela cúpula do Exército e da Aeronáutica, fortemente influenciadas pelas lições da Escola Superior de Guerra e a tese do inimigo interno, o “comunismo” - entendendo-se por “comunismo” tudo o que colocasse em risco os interesses do capital norte americano, suas ambições geopolíticas e as associações com os grupos econômicos, rurais e urbanos, no Brasil.

Some-se a isso uma classe média desinformada e açulada por uma crise econômica crescente e insatisfeita com as tentativas de adoção de políticas de distribuição de renda, particularmente o aumento do salário mínimo. E então tivemos o cenário do golpe que virou tragédia.

O suicídio de Vargas, na bacia das almas, tirou o doce da boca dos golpistas, instilando as massas desamparadas contra os inimigos do “pai dos pobres”. O momento do golpe se perdeu e teve de esperar um momento mais propício, que viria dez anos mais tarde.

A política de reconhecimento dos direitos das massas e sua inserção no jogo político era inaceitável pelos setores acima citados: militares, classe média, empresários, fazendeiros e seus patronos internacionais. As regras do jogo secular, garantia da perpetuação de poderes e propriedades, poderiam mudar rapidamente - e privilégios consolidados (como uma herança “legitimamente” defendida) corriam riscos.

Embora nem tanto: o velho caudilho era, na verdade, um reformista moderado. No entanto, as concessões insuflavam novas demandas e dívidas sociais de sempre pareciam, pela primeira vez, capazes de ser cobradas por seus titulares: os camponeses e os operários.

E os devedores não estavam dispostos a acertar as contas. Vargas caiu porque enredou-se nos escândalos de corrupção de seus próximos – assessores e parentes – e porque não conseguiu manter a política de “agradar gregos e troianos” que garantiu seus primeiros quinze anos no poder.

Em um país de cobertor curto, a política de estender direitos sem tocar em privilégios tem limites. E o limite havia chegado. E Getúlio resolveu esticar a corda, um pouco mais. E as forças da reação estavam bem despertas. E os erros do velho caudilho tornaram-se as razões para “legitimar” sua queda. E ele caiu. Mas de pé. Só para contrariar.

Como disse, mais tarde, Carlos Lacerda, líder da oposição, em um rasgo de sinceridade: “estávamos com a mesa posta para o jantar. Na hora agá, Getúlio veio e puxou a toalha”. De lá para cá, outras versões dos fatos foram construídas.

Umas mais heroicas: a do defensor das riquezas nacionais, dos valores e direitos dos trabalhadores, do mártir das causas populares; e outras detratoras: o caudilho ditatorial, corrupto, populista, demagogo, incompetente que se matou para não cair e não revelar o “mar de lama” de seu governo.

A principal lição continua a mesma: a dívida social continua grande. As políticas de resgate dessa dívida continuam incomodando interesses. O confronto se dá com muitas armas e os erros dos governos populares e populistas são muitos. E eles são fatais. Bom, no caso de Getúlio, foi.

* Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de História no Curso Positivo.



Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra