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Currículo

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15/05/2020 Daniel Medeiros

Nasci com o cordão umbilical amarrado no pescoço. A parteira murmurava: “vai morrer, coitadinho, vai morrer”.

Não morri. E ganhei um mote para começar a contar minha história: "já nasci com a corda no pescoço". E também para afirmar uma qualidade insuspeita: não tem desafio que eu não saiba dar conta.

Sou filho caçula e fui muito tímido na infância e na adolescência. Sempre fui gordinho e desajeitado para os esportes. Aos olhos dos outros era um menino sem graça e, por isso sofri todo o tipo de bullying.

Depois de lamentar em vão, aos poucos  aprendi a rir de mim mesmo antes dos outros e assim tornei o bullying dos outros em piada velha para mim.

Eu não me deixava em paz, não me cobrando, mas me conhecendo; não lamentando quem eu era, mas aprendendo sobre quem eu era.

Não preocupado com o que os outros iam achar, mas procurando saber o que eu gostava em mim e o que eu não queria que fosse chamado de eu.

O que faz sobreviver é autocrítica, que é uma espécie de estética do erro. Os outros sempre vão atacar esses nossos erros e, de certa maneira, aprendi que isso é muito útil, exceto se somos muito negligentes e desatentos de não prestar atenção.

Quando ficou claro que eu tinha mesmo muitos defeitos, foi uma libertação. Estava pronto para o mundo, um mundo que é como um gigantesco Lego.

Faltava agora apenas achar os encaixes que só os meus defeitos permitiam que ocorressem e só os defeitos dos outros também possibilitariam. A união nunca é de partes perfeitas, lisinhas, sem ranhuras ou quebradinhos na ponta.

Não segui em frente apesar dos meus detratores, mas graças a eles. Minha família era pobre, o que me ensinou a diferença entre o essencial e o supérfluo e de como é preciso apreciar o essencial com rigor e o supérfluo com leveza.

Mamãe podava as árvores do quintal e dizia: "se eu tiro o que não precisa terei sempre o que necessito.”  Nunca esqueci.

Cresci com pessoas que não queriam me educar e, graças a isso, aprendi muito. O lema de meu mundo juvenil era: “ninguém liga”.

Cabia a mim fazer o calçamento e definir as esquinas e aprender que, se o beco não tem saída, ele não me ensina para onde devo ir, apenas onde não devo voltar. Tornei-me adulto muito cedo.

Saí de casa aos dezoito anos e, desde então, sempre fui eu quem pagou as contas. Aprendi a não fazer dívidas e juntar primeiro e comprar à vista depois. E gastar prodigamente o desconto que consigo nessas transações.

Aprendi também a não guardar os recursos como quem esconde, mas como quem vela: dinheiro não pode provocar medo, mas é amigo da atenção.

Casei e descasei e tive um filho que tornou minha relação para sempre, para além de mim e dela. Casei de novo e ganhei duas novas filhas que vieram com a mudança.

Papai e mamãe já estão perto dos 60 anos de casados e defendem a família tradicional, torcendo os narizes para essas modernidades. Sorrio feliz de não ter aprendido isso com eles.

E abraço todos os meus amores como a criança que abre o presente de Natal tão desejado. Pensei que nunca viveria tanto e já passei bastante dos cinquenta e olho-me no espelho e só me enxergo bem quando apago a luz. O que não reflete sou eu, pulando amarelinha.

Trabalho com jovens e todos os anos eles têm a mesma idade e, por isso, vou me ajustando, rejuvenescendo também, na linguagem, nos gestos, na atenção.

Olho para eles e dirijo-me a eles não como aquele que sabe e que agora vai mostrar como é, mas como aquele que se desculpa por tudo o que há e que busca parceria pra tentar melhorar um pouco do que sobrou.

O jovem é muito receptivo quando percebe que os mais velhos são apenas uns desamparados, como a criança que quebrou, sem querer, o brinquedo que tanto ama.

Desse apoio em comum, muitas vezes nasce uma história nova que irriga caminhos. E, dessa forma, vou apostando na eternidade.

Apresento esse currículo aos que quiserem empregar um pouco de seu tempo no trabalho de me ler e compartilhar comigo suas histórias de vida, como os vidrinhos coloridos do caleidoscópio. Candidatos a uma imagem bonita, comum, passageira.

Atenciosamente,

Eu.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Fonte: Central Press



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