Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Cirurgia plástica e a beleza padronizada sob a ótica da vitimologia

Cirurgia plástica e a beleza padronizada sob a ótica da vitimologia

12/05/2021 Emanuela de Araújo Pereira e Marcela de Araújo Pereira

É inegável dizer que as mídias sociais perpetuam os padrões de estética que são estabelecidos pela sociedade.

A Internet é capaz de destacar as insatisfações individuais ao mesmo tempo que propõe meios de consumo para tamponar faltas subjetivas.

Essa estrutura virtual que se formou ao longo dos anos com a globalização e o avance de ferramentas tecnológicas têm influenciado nos modos de subjetivação.

As mídias sociais possibilitaram novas formas de contato social, embora tenha trazido aspectos positivos para as interações humanas, houve uma mescla de conteúdos que antes eram restritos ao espaço privado do sujeito e agora são expostos publicamente com o intuito de aceitação social, desse modo, levanta-se o questionamento de que uso de redes sociais pode ocasionar um impacto negativo a autoestima.

De acordo com um estudo de 2015 do Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido, 27% dos adolescentes que usam mídias sociais por mais de 3 horas por dia apresentam sintomas de problemas de saúde mental.

O desejo pelo imperecível é inerente ao ser humano de todos os tempos, que busca em diferentes expressões de cultura meios de exceder seu alcance corporal para além da finitude biológica (Herrera, Moreno M. 2020, p. 9).

Nessa perspectiva, observa-se uma extensão de perturbações comportamentais relacionadas aos padrões de beleza vinculados nas redes sociais.

A busca pelo corpo perfeito e pelo rosto cada vez mais longe do natural, fazem com que os indivíduos se sintam hostilizados por não se encontrarem dentro deste parâmetro e, consequentemente adentram em situações que os colocam na posição de vítima desse sistema, que de acordo com J. Bayley podemos classificar vítima aquele sujeito que sofre perda ou afetação significativa, injusta ou indesejável em seu bem-estar.

Para exemplificar esta problemática, menciona-se o Brasil, que se tornou o país em que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, ultrapassando os Estados Unidos.

Os dados são de uma pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgada em dezembro de 2019.

De acordo com o levantamento, em 2018, foram registradas mais de 1 milhão 498 mil cirurgias plásticas estéticas no país, além de mais de 969 mil procedimentos estéticos não-cirúrgicos, dentre os procedimentos mais buscados estão as próteses mamárias, lipoaspiração e abdominoplastia.

Essas condutas podem ser analisadas pela ótica da vitimologia, pois quando o indivíduo se expõe a uma cirurgia plástica em certo nível se comporta como vítima, pois assume condutas de auto-puesta em risco.

Ao se submeter a procedimentos meramente estéticos, sofre mutilações em seu corpo pelo objetivo de expor a faceta do seu eu egótico nas plataformas virtuais, realizando performances para receber aprovação dos espectadores com likes, e de forma textual através dos comentários, porém, sem a reflexão aprofundada de que o desejo de modificar o corpo, que até então é percebido como individual, é reflexo das pressões sociais que cultivam ideais de beleza e de enquadramento a uma norma.

O sujeito aliena-se a esses padrões e perde o sentido de autoproteção e tutela de si próprio, gerando uma ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, e colocando em risco o bem jurídico mais importante protegido pela norma legal que é a vida.

Recentemente, em 24 de janeiro de 2021, uma influencer brasileira veio a óbito após complicações de uma lipoaspiração realizada naquele mesmo mês.

As mídias sociais dão facilidades aos influenciadores de tornarem suas plataformas rentáveis, em contrapartida eles precisam estar sempre fomentando a necessidade de consumo ao público.

Com isso, demonstra-se que “ídolos” e “influenciadores”, mesmo com a capacidade de persuadir seus espectadores, transitam também como vítimas dentro desse espectro consumista e de exploração.

O caso da influenciadora citada acima reflete o paradigma de que os influenciadores também precisam se enquadrar na estética convencionada para fins de exposição e evidência, mobilizando insatisfações subjetivas e oferecendo respostas imediatas para estas questões, o influencer cumpre assim o seu papel de instigar o consumo.

Percebe-se então um ciclo de retroalimentação, público e pessoas com ascensão digital são instrumentos da lógica de consumo reproduzida pelas mídias sociais.

O corpo ocupa um lugar de destaque nesse contexto, fato reforçado pelas propagandas e pelo discurso midiático, que se encarregam de criar necessidades, prometendo “soluções milagrosas” por meio de produtos anunciados, constituindo estilos de vida baseados numa falsificação espetacular, isto é, da sociedade do espetáculo (FRIDMAN, 1999).

* Emanuela de Araújo Pereira é advogada, especialista em direito penal e processo penal pela ATAME.

* Marcela de Araújo Pereira é psicóloga, graduada pela Universidade Católica de Brasília, especialista em psicopedagogia Clínica e Institucional.

Para mais informações sobre beleza padronizada clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada



Um País em busca de equilíbrio e paz

O ambiente político-institucional brasileiro não poderia passar por um tempo mais complicado do que o atual.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra