Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Artesão do vazio

Artesão do vazio

21/07/2021 Daniel Medeiros

Sou professor e, ao contrário do que rezam as lendas urbanas disseminadas em milhares de grupos de WhatsApp, tenho trabalhado para além de minhas forças.

Mas terei, a partir de hoje, uma semana de folga e, desde já, penso nesse espaço de far niente que se apresenta no meu horizonte imediato. E a pergunta que me achaca é: o que fazer no período de não fazer trabalho?

Ouço meus alunos e eles me dizem: “vamos dormir muito, assistir séries e jogar video game”. Ou seja, deixar a mente em suspenso, sem atividade, apenas consumindo imagens e fazendo gestos determinados pelos brinquedos eletrônicos.

Ensimesmo-me. O que há de diferente nessas atividades programadas para a semana de férias, do cotidiano de suspensão da mente, consumo de imagens e gestos determinados?

Walter Benjamin afirmou que o fim das narrativas está ligado à incapacidade de as pessoas transmitirem suas experiências.

Na verdade, as pessoas não vivem mais experiências, mas consomem tutoriais, que marcam em suas agendas e registram em seus Instagrans com frases do tipo: “a vida é para se viver”.

No entanto, pouco se vê da marca de seus dedos nas obras que julgam ser autores, mas apenas o cumprimento da lista absurda do “100 coisas que você deve fazer antes de morrer”.

Imagino o espaço do não fazer nada como um espaço de escolhas que impliquem uma expansão da minha subjetividade no mundo.

E a pergunta desafiadora é: como ficarei depois de fazer isso, ou aprender isso, ou escrever sobre isso, vivenciando e, ao mesmo tempo, pensando sobre os efeitos dessa parcela de vida em mim, nos registros dos meus afetos e nas transformações do meu corpo e da minha maneira de pensar e agir?

Em uma carta para seu amigo Gershon Sholem, Walter Benjamin afirmou que o Messias se apresenta não com uma entrada dramática, um grande gesto teatral, com música alta e fumaça abundante, mas com os pequenos gestos, como o deslocar de uma xícara de lugar.

Deslocamento, parece-me essa a chave para uma boa semana de férias. Eu escolho um deslocamento do meu corpo e da minha mente das posições estabelecidas pelas rotinas e pelas necessidades mediadas pelo dinheiro.

Promovo uma espécie de reencontro com partes do meu corpo e da minha razão que só com a distração da repetição cotidiana eu tenho a chance de realizar.

A aposta é voltar para o trabalho com mais um pouco de mim para dividir, carregando na minha memória e no meu corpo narrativas mais ricas para transmitir e expressar. 

Agora, imagina se todos os meus alunos e alunas aceitassem esse conselho e buscassem, para si, escolhas de experiências com outras pessoas, lugares, textos, imagens, sons, sabores que acrescessem, modificassem, surpreendessem seus “eus”, tornando-os mais densos e intensos? Que festa de reencontro teríamos?

Ficam alguns itens que já estão na minha lista: assistir ao curso de narrativa do escritor Afonso Cruz, que comprei há semanas e já degusto por antecipação as duas horas que passarei com ele e com seus ensinamentos; ler as entrevistas que o jornalista Osvaldo Ferrari deu ao escritor Jorge Luís Borges, na edição de livrinhos belíssimos, com letrinhas miúdas, feitas pela editora Hedra; ir a Urubici e comer uma truta na manteiga e tomar um vinho Thera, respirando o ar frio da montanha; caminhar uma hora por dia ouvindo o podcast Agora, agora e mais agora, do pensador português Rui Tavares e deliciar-se com seu sotaque e sua erudição sem fim; reencontrar meu filho que voltou da Inglaterra depois de 9 meses e cheirar seus cabelos e abraçá-lo como quem quer tatuá-lo em sua alma e depois ouvi-lo contar histórias e planos e fazer com ele um belo jantar.

Amar ainda mais minha companheira, inventando jeitos de expressar o que sinto (sempre diferente) toda vez que cruzo meu olhar com o dela.

O tempo de ócio não é um tempo de vazio. É como o barro para o oleiro. Não é só um monte de lama. É a vida esperando a mão de seu criador.

* Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Para mais informações sobre vida clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Central Press



Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena