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A babá e o beijo

A babá e o beijo

06/10/2019 Maria Inês Vasconcelos

Se eu tinha dúvidas, agora não tenho mais.

Todas às vezes que leio as crônicas sempre viscerais da Tati Bernardi, de quem sou fã de carteirinha, algo acontece.

Muitas vezes morro de rir, mas o texto A babá que não podia beijar me desafiou a escrever e tentar reinterpretar a intensidade do alerta gerado com o humor sempre característico, contudo responsável, da Tati.

As babás podem beijar as crianças? 

Sem qualquer tipo de comedimento, minha resposta é sim. Elas não só podem beijar como abraçar, acariciar, cuidar e externar toda ternura que existe em seu interior, porque a relação de trabalho é, sobretudo, de afeto.

Contudo, o texto da Tati levanta uma questão importante: quais os limites de adaptações em um contrato? Claro que os combinados existem, todo contrato de trabalho tem normas e regras.

Assim, tudo que for para o bem é possível pactuar. Mas agir como a patroa no texto da Tati, é algo, aos meus olhos muito perto do assédio e da falta de humanidade.

No meu modesto entendimento, a babá é uma pessoa que vende sua força laborativa para cuidar dos nossos filhos, sendo que nós as escolhemos e as elegemos com base em critérios que nós mesmas customizamos. Ou seja, a babá é fruto de nossa criação.

A função é abrangente e cada vez mais novos atributos nascem. Vejo babás que dirigem, que ajudam nos deveres escolares, que levam ao médico, dão o remédio, curam machucados, brincam, cozinham e fazem de tudo um pouco.

O relacionamento triangular, babá, criança e patrona é sempre marcado por dependência, cuidado, cumplicidade e responsabilidade. É inquestionável que dessa relação decorra afeto e carinho.

Aliás, é desejável. Não há como impedir alguém que goste de nossos filhos e que externe tais sentimentos. Isso é uma loucura!

Há anos venho estudando o comportamento humano, sempre variável dentro da relação de emprego, com ênfase no processo de alienação; entendido por Karl Marx como fenômeno pelo qual se rouba o subjetivismo do empregado, dentro empresa, pelas forças do capital.

Avançando para os dias de hoje, a alienação está justamente ao impedir que o trabalhador consiga agregar sentido ao produto de seu trabalho. É o trabalho oco, morto, sem sentido nenhum.

Portanto, se no meio da tarde, em pleno parquinho, escapole um inofensivo beijinho na bochecha da criança, dado por uma babá, não há o menor sentido agirmos como se isso fosse anormal.

Em um mundo moderno, não pode mais existir mulheres e homens que ainda sejam tão preconceituosos. Condutas como essa são puramente eugênicas, e só provocam discriminação e exclusão.

Se fizermos um resgate histórico, podemos perceber que as babás de hoje são resquícios das amas de leite do passado. É triste vermos que ainda existe a persistência histórica da senzala no espírito de algumas patroas.

Precisamos sair dessa escuridão, dessa senzala tupiniquim e clichê, pois não há mais lugar para esse tipo de violência. A lei a proíbe.

Sei que não há possibilidade de moldarmos e prevermos todo o comportamento alheio, mas tenho comigo que possamos chegar num patamar de fraternidade a e razoabilidade onde um beijo não seja causa de tanto alvoroço e falta de bom senso.

Mais uma vez, Marx no meu texto, dessa vez para ecoar uma frase notória, dita em 1852 e muito atual nos dias de hoje: “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Que venham mais beijos.

* Maria Inês Vasconcelos é advogada, pesquisadora, professora universitária e escritora.

Fonte: Naves Coelho Comunicação



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