Flamengo será a régua para definir quanto vale uma SAF
Flamengo será a régua para definir quanto vale uma SAF
Desde que a Lei 14.193 foi sancionada, em agosto de 2021, a SAF passou a ser um sonho para milhões de torcedores brasileiros, ávidos por verem caminhões de dinheiro de investidores sendo despejados em seus clubes do coração.
Para aqueles mais realistas, o melhor desse novo mundo é assistir de camarote os clubes ganhando a carta de alforria, ficando livres das intervenções impertinentes de conselheiros e dirigentes mal intencionados.
De acréscimo, ainda vêem um novo modelo de gestão sendo rapidamente implementado em setores onde antes predominavam amadores.
Neste sentido, foram bastante positivas as experiências iniciais de Cruzeiro e Botafogo. Acredita-se que ocorrerá o mesmo pelas mãos da norte-americana 777 Partners, que agora comanda o Vasco.
Mas entre eles há uma diferença que precede a própria conversão em SAF: os três eram clubes combalidos, que sofreram com sucessivas gestões que os conduziram quase à insolvência. A SAF, nesses casos, foi a salvação da lavoura para agremiações que já não tinham mais para onde correr.
É aqui que o cenário pode começar a mudar na construção da história da SAF no Brasil. Em vez de clubes gigantes destroçados financeiramente, seria pertinente observar outros já organizados internamente, mas que vêem na SAF um adendo às suas experiências de governança.
Hoje temos excelentes modelos nesse sentido, como o Flamengo, o Palmeiras e o Athletico-PR. Destes, quem já sinalizou para uma transformação é o Flamengo, e, com absoluto respeito aos demais, talvez seja o que melhor possa servir de referência para o mercado.
Isso se deve a alguns fatores: além de ser o clube mais popular do país, com cerca de 40 milhões de torcedores, o Flamengo bateu em 2021 o faturamento de R$ 1 bilhão, recorde absoluto no futebol brasileiro.
As dívidas estão bem controladas, graças a gestões anteriores que priorizaram a austeridade. O resultado se vê em campo: com um time forte, a equipe vem colecionando títulos importantes desde 2019. Agora, no fim de 2022, está na iminência de disputar as finais da Libertadores e da Copa do Brasil.
A abertura a grandes investidores por meio da SAF já começa a provocar os primeiros efeitos, como o suposto interesse de Nasser Al-Khelaifi, presidente do PSG e CEO da Qatar Sports Investments (QSI), um fundo de investimentos que gerencia nada menos que US$ 355 bi.
Entre 2011 e 2021, o dirigente injetou no clube francês R$ 9 bilhões somente em reforços. Por tudo isso, e diante de um clube saudável como o Fla, é possível cravar que uma eventual venda de sua SAF representaria o teto em termos de valores investidos no futebol brasileiro.
É uma régua importante para dirigentes de outras agremiações que postulam cifras quase que às cegas, apostando muito mais na relevância histórica e patrimonial de seus clubes do que propriamente no valor de mercado, no potencial da marca, no capital de giro.
Há uma longa distância entre a fé desses dirigentes e a lógica precisa, matemática, de quem injeta muito dinheiro pra ganhar muito mais.
Por isso, o caso do Flamengo pode ser emblemático. E talvez dar um banho de realidade para quem ainda acha que o grande mérito da SAF é a chegada da grana.
Muitos ainda vão se dar conta de que o modelo de gestão é o ativo mais valioso que essas empresas podem oferecer.
* Elthon Costa é advogado especialista em direito desportivo e Sócio-Diretor de Relacões de Trabalho e Desporto na Todde Advogados.
Fonte: Naves Coelho Comunicação