Greve geral, não. Luta por privilégios
Greve geral, não. Luta por privilégios
A mobilização do dia 28/04 não passou de uma rebelião de sindicatos preocupados com seus privilégios
Mais do que a anunciada luta contra as reformas trabalhista e previdenciária, as entidades foram às ruas para tentar manter a contribuição sindical compulsória, que obriga todo trabalhador, sindicalizado ou não, a destinar aos sindicatos os ganhos de um dia de trabalho por ano.
Outro motivo é a negociação direta entre patrões e empregados, que torna desnecessários e até inúteis os sindicatos. Paradoxalmente, usaram o dinheiro do trabalhador para ir às ruas defender aquilo que interessa só aos sindicatos e não ao trabalhador, que só paga a conta, muitas vezes sem saber a quem.
A contribuição compulsória é carreada aos sindicatos desde 1943. Portanto, trata-se de um entulho da ditadura Vargas que até agora ninguém havia ousado eliminar. Pelo contrário, em 2008, o presidente Lula, oriundo do meio sindical, mandou repartir o bolo também com as centrais sindicais, exatamente as mesmas que foram às ruas na última sexta-feira.
Ainda mais: toda essa montanha de dinheiro – mais de R$ 3 bilhões por ano – não é passível de prestação de contas porque entendem os burocratas da república sindical em que foi transformado o Brasil que fazer o sindicato prestar contas seria inconstitucional e feriria o direito de autogestão.
Por conta do dinheiro fácil, o Brasil possui hoje 16.293 sindicatos, sendo o país que com o maior número deles em todo o mundo. Os outros países com maior número de entidades sindicais são África do Sul com 191, Reino Unido 168, Dinamarca 164, Estados Unidos 130 e Argentina 91.
Sensível diferença... Nada contra a liberdade sindical e o direito dos trabalhadores se reunirem em entidades de classe. Desde que mantenham o seu custeio e, como mantenedores, delas participem e se interessem pelo seu destino e pelos serviços que prestam à classe.
Da forma que se desenvolveram no Brasil, os sindicatos não passam de braços manipulados ora pelo governo ora pelos partidos de esquerda que acabam negociando com o governo. O que menos conta é o interesse da classe trabalhadora, que só dá o nome para legitimar a existência das entidades.
Se querem consertar o país, o governo e o Senado não devem transigir em relação à contribuição sindical compulsória, já eliminada no projeto aprovado pela Câmara dos Deputados e a outros itens que libertam o trabalhador da escravidão sindical. Com isso, só sobreviverá o sindicato que realmente presta serviços e respeita os interesses dos seus filiados.
Desaparecerão os aparelhos políticos e quem quiser fazer política partidária terá, a partir de então, de fazê-lo através dos partidos que, a exemplo dos sindicatos, também deveriam ter vida econômica própria, sem receber os polpudos recursos do Fundo Partidário mantido pelo dinheiro público.
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).