Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O futuro já não dura tanto tempo

O futuro já não dura tanto tempo

25/05/2022 André Dória

A situação vivida por uma mulher que, em franco surto psicótico, foi encontrada por seu companheiro mantendo relações sexuais com um homem que vive em situação de rua, dentro de um carro, espalhou-se pelas redes sociais.

Após se recuperar da crise, deu entrevistas em que dizia ter visto o rosto de seu marido, e de Deus, no morador de rua. Há mais de 20 anos lidando com pessoas em sofrimento psíquico, algumas das quais em crises tão graves quanto a deste caso, noto que persistem os preconceitos e estigmas relacionados ao assunto.

Igualmente perturbadora é a descoberta de que, quando se trata da chamada sanidade mental, a fronteira que separa o normal do patológico pode ser tão frágil quanto os argumentos de milhões de juízes dos tribunais virtuais, aos quais essa mulher, aliás ambos, foram submetidos.

O “mendigo pegador” – como ficou conhecido o homem – virou mais uma dessas celebridades semanais. Sua falta de censura ao narrar o episódio coloca em questão se o transtorno mental estaria somente do lado da mulher.

Essa história atualiza duas referências fundamentais para os que estudam, trabalham ou se interessam pela Saúde Mental. A primeira é a crítica do psicanalista Jacques-Alain Miller, defendida em seu trabalho Saúde Mental e Ordem Pública, no qual aponta que o critério mais evidente da perda da saúde mental é justamente a perturbação da ordem pública.

A segunda pelo o que é dito, mas também pelo não dito, aquilo que é esquecido ou silenciado: pela escuta.  Por vezes, uma crise pode se tornar a forma mais dramática de irromper no real algo que não pôde ser dito e elaborado na realidade psíquica.

A segunda referência diz respeito ao filósofo Louis Althusser, cujo histórico de vida foi marcado por diversas crises entre 1947 e 1980. Na manhã de um domingo de 1980, em uma nova crise, assassinou por estrangulamento sua companheira de mais de trinta anos. Sentenciado à impronuncia, não teve direito à defesa ou a qualquer manifestação pública sobre o crime, e retirou-se da vida laborativa, intelectual e produtiva.

Como forma de amenizar, nas suas palavras, a “pedra sepulcral do silêncio” ao qual foi submetido, escreveu O Futuro Dura Muito Tempo, não para eximir-se das responsabilidades pelo assassinato, mas para responder pelo seu ato e tentar lançar luz sobre uma pergunta que o atormentava: “como é possível que eu tenha matado Heléne?”.

Hoje, a condenação não é mais ao silêncio, mas à superexposição das imagens e das falas dos atores que embalam um mercado consumidor do produto que histórias dessa natureza se tornam.  Além disso, o tempo dos tribunais virtuais pulverizou a distância entre a ocorrência de um fato, sua apreensão, análise e conclusão.

A condenação dessa mulher (aliás, de ambos) praticamente simultânea aos fatos, é um signo desse estado de coisas onde o passado, presente e futuro se misturam. No caso dela, só após seu restabelecimento psíquico o seu testemunho pôde ser ouvido, conduzindo-a involuntariamente ao retorno dos fatos traumáticos e denunciando a convulsão dos tempos atuais, onde o futuro já nasce como passado.

* André Dória é Coordenador do Programa de Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria.

Para mais informações sobre saúde mental clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Trópico Comunicação



Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula


Melhor ser disciplinado que motivado

A falta de produtividade, problema tão comum entre as equipes e os líderes, está ligada ao esforço sem alavanca, sem um impulsionador.

Autor: Paulo de Vilhena


O choque Executivo-Legislativo

O Congresso Nacional – reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados – vai analisar nesta quarta-feira (24/04), a partir das 19 horas, os 32 vetos pendentes a leis que deputados e senadores criaram ou modificaram e não receberam a concordância do Presidente da República.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A medicina é para os humanos

O grande médico e pintor português Abel Salazar, que viveu entre 1889 e 1946, dizia que “o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”.

Autor: Felipe Villaça


Dia de Ogum, sincretismo religioso e a resistência da umbanda no Brasil

Os Orixás ocupam um lugar central na espiritualidade umbandista, reverenciados e cultuados de forma a manter viva a conexão com as divindades africanas, além de representar forças da natureza e aspectos da vida humana.

Autor: Marlidia Teixeira e Alan Kardec Marques


O legado de Mário Covas ainda vive entre nós

Neste domingo, dia 21 de abril, Mário Covas completaria 94 anos de vida. Relembrar sua vida é resgatar uma parte importante de nossa história.

Autor: Wilson Pedroso


Elon Musk, liberdade de expressão x TSE e STF

Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, renomado constitucionalista e decano do Supremo Tribunal Federal, ao se manifestar sobre os 10 anos da operação Lava-jato, consignou “Acho que a Lava Jato fez um enorme mal às instituições.”

Autor: Bady Curi Neto


Senado e STF colidem sobre descriminalizar a maconha

O Senado aprovou, em dois turnos, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) das Drogas, que classifica como crime a compra, guarda ou porte de entorpecentes.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


As histórias que o padre conta

“Até a metade vai parecer que irá dar errado, mas depois dá certo!”

Autor: Dimas Künsch


Vulnerabilidades masculinas: o tema proibido

É desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina.

Autor: Viviane Gago


Entre o barril de petróleo e o de pólvora

O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves