Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Discernimento

Discernimento

01/11/2021 Daniel Medeiros

O ideal do cidadão maduro é ter discernimento sobre as coisas. Discernir é separar o joio do trigo, ser capaz de identificar o certo do errado, o pertinente do inadequado, o possível do absurdo.

Uma pessoa dotada desse discernimento é mais confiável e responsável. Enfim, alguém capaz de enfrentar os desafios do mundo dos adultos.

O que é engraçado é como embarcamos com tamanho afinco nesse tipo de  encenação. Nos bastidores, longe do palco do faz de conta, há somente a consciência que não é capaz de determinar nada com certeza.

O que somos não passa de um conjunto de passos em meio a probabilidades, insights e intuições, que é como chamamos os chutes que damos todos os dias em meio ao universo caótico que nos rodeia, para construirmos o que chamamos de vida.

"Vida normal", gostamos de dizer, e fazemos isso sem um único tom de ironia ou sarcasmo. É sério o que falamos, como se houvesse uma medida padrão dessa normalidade, como há um limite de altura nos viadutos ou de profundidade nas piscinas.

Como se a volatilidade de uma sociedade na qual milhões de pessoas interagem constantemente não tecesse, todo dia, um imenso tapete de Penélope só para desfazê-lo todas as noites, sem guardar notas sobre os nós e os pontos que foram dados.

Dizemos “vida normal” e nos escondemos atrás dessa expressão, confiantes de que ninguém reparará no tremor das nossas mãos, pálpebras, lábios.

Há várias explicações para cada um desses tremores e há sempre a chance de que a distração geral releve nossos desconcertos diante da existência inominável, do real lacaniano que nos atravessa em desafio ao nosso esforço inútil de reconhecimento e classificação.

Discernimento, quando muito - o que não é pouco -, é dosar nossas neuroses com muita reflexão e respiração compassada.

É buscar ouvidos capazes de alguma atenção e organizar as falas com o máximo de abertura aos sons que vem de dentro. E redefinir o “quem somos” uma ou duas vezes por dia, ao menos.

Afinal, quando dormimos - ou quando tentamos dormir - muito do que existimos na jornada diurna já ficou pelo caminho, como pequenos mortos sem sepultura.

Mas também muitos nascimentos ocorreram, muitos jovens entraram na fase adulta, muitos velhos começaram a dar o seu adeus.

Como as pedrinhas do caleidoscópio, formando imagens a cada movimento do corpo, e cada imagem sendo tão real quanto as pedrinhas que a compõem.

O discernimento serve para as coisas. A Ciência ganhou muito com ele, isso é inegável. Mas as pessoas não cabem bem na lente objetiva da racionalidade analítica.

Somos borrões, garatujas em constante reelaboração, sem um modelo definitivo e sem um ponto final capaz de ser expresso por um “está pronto”.

Buscar uma vida equilibrada implica, o tempo todo, em uma negociação com esse "isso" que nos compõe, que não tem nome nem forma mas que age e atravessa nosso dia a dia com fome e com sede, sem dizer com clareza o que quer comer e o que quer beber. 

Curioso quando encontramos pessoas que se dizem realizadas, que viveram uma vida plena e que concretizaram tudo o que planejaram. Encenamos essas falas e embarcamos nelas com uma fé que é comovente.

Nas redes sociais, esses testemunhos provocam tremores e ranger de dentes, um verdadeiro tsunami de inveja e ressentimento. Tudo miragem. Real. Mas miragem.

Discernimento é como a brincadeira séria, quando fingimos que somos capazes de controlar nossos humores pelo tempo que quisermos. E que termina sempre quando  explodimos em risos frouxos e rostos congestionados.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.

Para mais informações sobre discernimento clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: Central Press



Nem Nem: retratos do Brasil

Um recente relatório da OCDE coloca o Brasil em segundo lugar entre os países com maior número de jovens que não trabalham e nem estudam.

Autor: Daniel Medeiros


Michael Shellenberger expôs que o rei está nu

Existe um ditado que diz: “não é possível comer o bolo e tê-lo.”

Autor: Roberto Rachewsky


Liberdade política sem liberdade econômica é ilusão

O filósofo, cientista político e escritor norte-americano John Kenneth Galbraith (1908-2006), um dos mais influentes economistas liberais do Século XX, imortalizou um pensamento que merece ser revivido no Brasil de hoje.

Autor: Samuel Hanan


Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios.

Autor: Víktor Waewell


A importância de uma economia ajustada e em rota de crescimento

Não é segredo para ninguém e temos defendido há anos que um parque industrial mais novo, que suporte um processo de neoindustrialização, é capaz de produzir mais e melhor, incrementando a produtividade da economia como um todo, com menor consumo de energia e melhor sustentabilidade.

Autor: Gino Paulucci Jr.


O fim da excessiva judicialização da política

O projeto também propõe diminuir as decisões monocráticas do STF ao mínimo indispensável.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O inesperado e o sem precedentes

Na segunda-feira, 1º de abril, supostos aviões militares de Israel bombardearam o consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Crédito consignado e mais um golpe de milhões de reais

No mundo das fraudes financeiras, é sabido que os mais diversos métodos de operação são utilizados para o mesmo objetivo: atrair o maior número possível de vítimas e o máximo volume de dinheiro delas.

Autor: Jorge Calazans


Quando resistir não é a solução

Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, nos lembra que tudo a que resistimos, persiste.

Autor: Renata Nascimento


Um olhar cuidadoso para o universo do trabalho

A atividade laboral faz parte da vida dos seres humanos desde sua existência, seja na forma mais artesanal, seja na industrial.

Autor: Kethe de Oliveira Souza


Imprensa e inquietação

A palavra imprensa tem origem na prensa, máquina usada para imprimir jornais.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Violência não letal: um mal silencioso

A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil.

Autor: Melissa Paula