A volta do trem de passageiros
A volta do trem de passageiros
O Trem Intercidades (TIC) entre São Paulo e Campinas, que representará a volta do transporte ferroviário de passageiros no Estado de São Paulo, já tem seus futuros operadores escolhidos.
No leilão realizado pela B3 (Bolsa de Valores do Brasil-SP), foi homologado o consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos, formado pelo Grupo Comporte – controlado pela família Constantino, titular da Gol Linhas Aéreas, Metrô de Belo Horizonte, VLT da Baixada Santista e detentor de empresas de ônibus urbanos, suburbanos e rodoviários em 13 unidades federativas (inclusive o Distrito Federal) e 700 cidades, com 7.200 veículos – e pela CRCC, com sede em Pequim (China), uma das maiores referências internacionais no fornecimento de equipamentos ferroviários.
O objeto é a implantação, manutenção e operação por 30 anos do trem expresso entre São Paulo (Barra Funda), Jundiaí e Campinas.
A Parceria Público-Privada (PPP) estabelece ainda a criação de uma linha para interligar com o trem Jundiaí, Louveira, Vinhedo e Valinhos e, também, mudanças na Linha 7 Rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Urbanos de SP).
A expectativa é que o trecho São Paulo-Campinas e as alterações na CPTM fiquem prontas em 2031 e a outra linha em 2029.
O trecho operará o primeiro trem de média velocidade do Brasil, com deslocamento de 95 km/h, devendo cobrir o percurso São Paulo-Campinas entre 1h04 e 1h15, com o custo médio do bilhete estimado em R$ 50, reajustados anualmente pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
A implantação do TIC para Campinas é discutida há duas décadas. Porém, o estudo de viabilidade só foi contratado em 2018, no governo de Geraldo Alckmin. Seu sucessor, João Dória, realizou as etapas de consultas e audiências públicas.
Assim que assumiu o governo, Tarcisio Freitas realizou outras alterações e deu andamento ao processo. Técnicos da área de transportes defendem a adoção do trem de média velocidade como meio de desafogar o trânsito nas rodovias, que hoje abrigam praticamente todo o movimento de passageiros e cargas.
Estimam que a entrada desse novo serviço abrirá uma grande porta econômica para toda a região de Jundiaí e Campinas, possibilitando que moradores dos seus municípios possam trabalhar na capital utilizando-se do transporte ferroviário.
Além de Campinas, o governo do Estado contratou os estudos de viabilidade econômica para a implantação do TIC de São Paulo a Sorocaba, devendo o leilão para a contratação da PPP ser realizado no próximo ano.
É importante lembrar que o desenvolvimento de praticamente todo o Estado de São Paulo deu-se sobre trilhos. Grande número de municípios só surgiram depois da chegada da estrada de ferro que inicialmente era privada.
Pressões trabalhistas apoiada pela esquerda, no entanto, levaram os governos a encampar as ferrovias que, em algumas regiões já padeciam de falta de manutenção. Com o passar das décadas, a falta de atualização técnica e reparos levou ao sucateamento.
Em alguns trechos em que o trem – especialmente o de passageiros – deixou de circular sob a justificativa de que os dormentes da linha estavam podres e, mesmo trafegando devagar, poderiam ocorrer acidentes.
Aquilo que trouxe o desenvolvimento entrou em declínio. Nos anos 90, o governo federal – a quem São Paulo entregou suas ferrovias para saldar dívidas – promoveu o arrendamento que, na maior parte das linhas, caiu em colapso.
Hoje resta apenas o transporte de cargas (não em todas as regiões) e as rodovias estão congestionadas pelo excesso de caminhões, ônibus e automóveis. As linhas estão inativas, o setor atrasado em pelo menos 30 anos.
Talvez seja esse o tempo que a reativação demore se os estudos correrem normalmente e os governos não interromperem as atividades recuperadoras.
Não consigo me esquecer, no entanto, que no começo dos anos 70, viajava diariamente entre São Paulo e Campinas e o trajeto, com paradas em todas as estações, era coberto em 1h 30.
Logo, há meio século o tempo já era esse. É de se esperar que os operadores agora em contratação possam fazer algo melhor para atender ao usuário.
Especialmente porque um dos futuros operadores é uma grande produtora de material ferroviário da China. Nestas condições, espera-se que faça o melhor... É preciso melhor sempre...
* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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