Pondo mais tomada ou calculando a barragem: estudante de engenharia sofre!
Pondo mais tomada ou calculando a barragem: estudante de engenharia sofre!
O período de vida acadêmica é um manancial de boas histórias e uma época em que vivenciamos muitas experiências interessantes e engraçadas.
Fiz o curso de engenharia elétrica na UFMG entre 1972 e 1977. Dois anos no ICEX, no Campus da Pampulha e os últimos três anos na Escola de Engenharia, no prédio da Av. Santos Dumont esquina da rua da Bahia, onde hoje funciona um museu.
Quando cursávamos o terceiro ano, havia uma matéria chamada "Termodinâmica ", com cálculos bastantes complexos, e decorar aquelas fórmulas era uma tarefa bem difícil.
Quando fomos fazer a primeira prova da matéria, ficamos imaginando como faríamos para decorar tantas fórmulas e resolver os problemas apresentados.
Mas aluno é aluno e logo apareceu um com a grande idéia: vamos escrever as fórmulas na parede acima do quadro negro. Como o professor fica de costas para o quadro, não veria a "cola".
E assim começou a operação: mesa encostada na parede, cadeira em cima da mesa e o aluno trepado nela escrevendo as fórmulas, para ficar visíveis a todos os alunos.
Outra turma vigiava a porta da sala para evitar que algum professor desse um flagrante naquela operação. Chegada a hora da prova, todos foram para seus lugares.
O professor, muito engraçado, chamado Elesbão, chegou e verificou os olhares de alguns alunos para a parede acima do quadro. Curioso, virou-se e viu as fórmulas na parede.
Apenas balançou a cabeça, deu uma risada e distribuiu as provas, em cuja primeira página estavam todas as fórmulas necessárias para resolver as questões. Toda aquela operação fôra em vão e o herói levou gozação por muitos dias!
Numa prova de outra matéria, foi solicitado que se calculasse o volume da barragem de uma determinada usina. Caprichei nas contas, calculei o volume da barragem e entreguei a prova.
Quando corrigiu, o professor me chamou e disse: - Sua barragem tem um problema! - Mas professor, eu fiz todos os cálculos, coloquei o resultado do volume em litros e ainda pus duas casas decimais!
- Pois é aí que está o problema. Com o nível de precisão que você colocou, se alguém der uma mijadinha nela, sua barragem transborda! Aprendi que, a não ser no amor, o excesso nem sempre é positivo.
Havia um professor que gostava de aplicar prova de múltipla escolha, mas com um critério diferente. A prova tinha em torno de 150 questões e para evitar que o aluno que não sabia a resposta "sacasse" qualquer letra, cada resposta errada anulava uma certa.
Assim, se não soubesse, melhor deixar em branco. Isso causava um stress danado. Uma colega estava tentando fazer a sua prova mas não conseguia responder algumas questões, estava nervosa e nesse momento um colega, seu grande amigo e companheiro de estudos lhe cutucou para saber sobre uma certa questão: - O que é mesmo transformador de impedância?
Ela estava tão nervosa que nem titubeou: - Pergunta pra sua mãe! Ele levou um susto. Errou a questão, mas aprendeu que uma mulher nervosa, mesmo sendo muito amiga, é um perigo!
Tínhamos também uma matéria chamada Projetos Elétricos, na qual, durante um semestre, a missão era desenvolver um projeto elétrico para um prédio residencial.
No final do período, cada um deveria defender o seu projeto junto ao professor, que no caso era um engenheiro, mas também escritor de peças de teatro, bastante conhecido, chamado Alcione Araújo.
Normalmente os projetos eram desenvolvidos em dupla ou trio, mas a defesa era feita individualmente. O professor queria testar os conhecimentos e a nossa capacidade de argumentação frente às opções escolhidas.
No dia da defesa do projeto, um colega abriu sua planta para os comentários do professor. No apartamento em questão, havia uma área aberta, na qual este colega projetou a instalação de uma tomada elétrica.
Ao ver o projeto, Alcione, rodando o seu polegar, como fazia com frequência, lhe perguntou: - Você colocou uma tomada aqui nesta área aberta? Por quê? - Professor, é que as pessoas podem querer receber os amigos e ligar um som para tocar uma música aqui fora.
- Mas você não pode colocar essa tomada aqui, pois ela não é adequada para área externa, pode chover e ela não tem isolamento adequado e pode provocar um curto circuito. Assim perdeu alguns pontinhos.
Terminada a defesa do seu projeto, ele saiu e foi direto encontrar seu companheiro com o qual tinha projetado aquela solução. - Cara, tira aquela tomada da área aberta, "pois o local não é apropriado para esse tipo de tomada que não tem isolamento adequado e se chover pode causar um curto circuito."
O outro imediatamente desmanchou essa parte no seu projeto, retirando a tomada da área aberta. Logo depois foi defender seu projeto, já se sentindo senhor da situação e cheio de argumentos.
Quando abriu o seu projeto, o Alcione logo percebeu que fôra feito junto com o outro colega que saíra há pouco. Vendo a ausência da tomada na área, perguntou: - Você não colocou nenhuma tomada aqui nessa área aberta? Por quê?
Ele, todo senhor da razão, disse muito convicto: - Não, professor, aqui não devemos colocar a tomada pois ela não é adequada para estes locais, pois não tem isolamento apropriado e se chover pode provocar curto circuito. Pensou consigo: nessa eu me dei bem!
E Alcione, lembrando da última defesa do projeto, rodou novamente o polegar e disse: - Quer dizer que, se o pessoal quiser receber uns amigos nesta área e ligar um som para ouvir uma música, não vai poder?
Ele coçou a cabeça e pensou: - É, professor, não tem jeito, não! Perdeu também uns pontinhos. Pelo menos ele aprendeu que a solução boa para um cliente não é, necessariamente, boa para outro. Vida dura, essa de estudante de engenharia!
* Antônio Marcos Ferreira é engenheiro eletricista, aposentado da Cemig e vice-presidente da Fundação Sara.
Para mais informações sobre histórias clique aqui…